Casos de covid-19 em São Gabriel da Cachoeira aumentam em 313%

Foram registradas 178 contaminações em outubro. Órgão de saúde identificou “abandono das medidas preconizadas no protocolo sanitário. Situação dos indígenas também preocupa

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 06/11/2021 às 08:00 | Atualizado em: 06/11/2021 às 10:27

O município de São Gabriel da Cachoeira, no noroeste do Amazonas, voltou a registrar altos índices de contaminação por covid-19.

Em outubro, foram confirmados 178 casos, um salto de 313% em comparação com setembro, que computou 43 casos. Em agosto, somente nove pessoas foram diagnosticadas com o coronavírus.

As informações são do Programa Rio Negro (PRN), divulgadas pelo Instituto Socioambiental (Isa).

São Gabriel da Cachoeira é a cidade com maior concentração de população indígena do país.

Levantamento apontou que, dos contaminados pela covid-19 em outubro, 75% são indígenas.

A situação acende o alerta também para quem vive nas comunidades, já que há trânsito intenso entre as aldeias e os núcleos urbanos.

Para conter a alta de contaminação, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-RCP) encaminhou ao município uma equipe da vigilância epidemiológica.

O chefe de Departamento de Vigilância em Saúde, Alexsandro Melo, disse que, em visita no dia 21 de outubro, técnicos identificaram “o abandono das medidas preconizadas no protocolo sanitário”, como a falta de exigência do uso de máscaras e de controle da quantidade de pessoas nos estabelecimentos.

Por conta disso, foi recomendado à Prefeitura e à Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) aumentar a vacinação e a testagem em massa.

A secretária municipal de Saúde, Adelaide Amorim, afirmou que a administração está seguindo as orientações da FVS-RCP e publicou, no dia 26, decreto reforçando as medidas de prevenção. Entre elas, a exigência de cartão de vacinação para eventos, a limitação de lotação em estabelecimentos e eventos e a obrigatoriedade do uso de máscaras.

“Não temos a orientação de suspender atividades, mas sim de reforçar os protocolos sanitários”, explicou. Segundo ela, equipes de saúde estão atuando no aeroporto e no porto de Camanaus – o principal da cidade – fazendo coleta e triagem. As operações de fiscalização estão sendo programadas.

Variantes

Entre 25 e 27 de outubro, a equipe da FVS-RCP fez testagens em quatro unidades de saúde de São Gabriel da Cachoeira, buscando alcançar uma ampla amostragem da população. O material servirá para identificar variantes em circulação na cidade.

A Fiocruz Amazônia também investiga a presença de variantes em São Gabriel. Em testagem realizada em setembro, foi confirmada a circulação da Gama (P1) uma das mais agressivas.

Mortes reaparecem

Desde abril, o município não registrava mortes pela Covid-19. No entanto, com a disparada recente de casos, duas pessoas faleceram.

Uma delas é um indígena Baniwa, idoso, que chegou a ser internado no Hospital de Guarnição do Exército (HGu), mas não resistiu e faleceu em 9 de outubro.

O segundo óbito entrou no boletim epidemiológico em 31 de outubro, sendo de um idoso que havia tomado somente uma das doses da vacina.

Desde o início da pandemia, São Gabriel registrou 110 óbitos por Covid-19, sendo 61 em 2020 e 49 em 2021. Após um longo período sem internações, três pessoas estão atualmente hospitalizadas com Covid-19 no HGu.

Vacinação

Outro ponto sensível é a cobertura vacinal. Adelaide Amorim explicou que um dos problemas enfrentados pela Semsa é a resistência da população à vacinação.

“Já utilizamos várias estratégias: horário ampliado, levamos equipes de vacinação para a feira, para o centro comercial. Ainda assim há pessoas que resistem, que não aceitam a vacinação”, disse a secretária.

A próxima estratégia da Semsa será fazer visitas presenciais. A ação já começou nos bairros Areal e Miguel Quirino, onde há concentração de casos e a adesão à imunização está baixa.

O vacinômetro da FVS-RCP indica que o índice vacinal de São Gabriel da Cachoeira, até 31 de outubro, era de 40,7%. Na data, 18.860 pessoas já haviam completado o esquema vacinal, incluindo moradores do núcleo urbano e das comunidades.

São Gabriel também já abriu a vacinação para jovens de 12 a 17 anos. Além disso, a terceira dose está sendo aplicada em idosos acima de 60 anos e profissionais de saúde.

Segundo a secretária de saúde, a imunização avançou e já atingiu cerca de 50% da população, embora os dados ainda não tenham sido atualizados. “Ainda assim, o índice é considerado baixo. Vamos trabalhar com a meta de 90%”, afirmou.

Um levantamento da Semsa apontou que, do total de 110 casos registrados até 22 de outubro, 65,45% (1 ou 2 doses) ocorreram entre pessoas vacinadas e 34,55% atingiram não vacinados.

A secretária avalia que esse cenário indica a eficácia da vacina para evitar agravamento do quadro, pois as internações permanecem baixas no município.

Comunidades indígenas

A alta de casos no município acendeu o alerta também para quem vive nas comunidades indígenas.

O Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Negro (Dsei-ARN) divulgou nota com orientação para que eventos que possam causar aglomerações sejam suspensos por tempo indeterminado, considerando a alta de casos nos núcleos urbanos – sobretudo São Gabriel – e o intenso fluxo entre as comunidades e a cidade.

Na área do Dsei-ARN, que atua em comunidades nos municípios de São Gabriel, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, foram registrados durante a pandemia, até 3 de novembro, 2.393 casos da Covid-19 e 26 óbitos.

O órgão informou que 80% dos indígenas que vivem em comunidades de sua área de atuação já receberam as duas doses da vacina, mas ressaltou que pessoas vacinadas ainda podem contrair e transmitir a doença.

No Dsei Yanomami, foram 2.088 casos e 22 mortes registradas em comunidades no Amazonas (municípios de São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel do Rio Negro) e Roraima.

Com informações do Programa Rio Negro e Isa.

Foto: Juliana Radler/ISA