BR-319 faz hoje 49 anos de polêmica

Primeiro a discussão era que a obra era parte do pacote de endividamento externo do país; agora, o passivo ambiental. E as pessoas que dela dependem?

Neuton Corrêa, do BNC Amazonas

Publicado em: 27/03/2025 às 15:30 | Atualizado em: 27/03/2025 às 15:49

“NESTA DATA, O PRESIDENTE ERNESTO GEISEL VISITOU A RODOVIA MANAUS-PORTO VELHO, EM TRÁFEGO EXPERIMENTAL, PROSSEGUINDO O DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM NO ESFORÇO DO APRIMORAMENTO DE SUAS CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS. MANAUS, 27 DE MARÇO DE 1976”.

O texto acima é da placa de inauguração da BR-319.

Filha da Ditadura Militar de 1964 e do II Plano Nacional de Desenvolvimento (1975-1979), que aumentou ainda mais a dívida externa do país, a BR-319 (Manaus-Porto Velho) completa hoje, 27 de março de 2025, 49 anos de abertura.

Foi o ditador Ernesto Geisel que abriu a rodovia. O ato de inauguração virou uma grande festa na praça Antônio Bittencourt, a praça do Congresso, no Centro de Manaus. Faixas da época mostravam a promessa da estrada se tornar um instrumento de integração dessa parte do Brasil com o resto do país.

O traçado da BR-319 permite que os estados do Amazonas e Roraima, únicos sem comunicação viária com outras regiões, estejam ligados à rede nacional de rodovias brasileiras.

Do sonho ao pesadelo

Contudo, quase meio século depois de sua abertura, 57 anos depois da apresentação do projeto, o sonho virou pesadelo. Plenamente, a rodovia BR-319 funcionou apenas 12 anos, de 1976 a 1988. Por ela, há tráfego, mas, quem a utiliza, tem ciência de que fará uma viagem de aventura.

Nos últimos 21 anos, desde que o ex-prefeito de Manaus Alfredo Nascimento assumiu o Ministério dos Transportes, a tentativa de repavimentação esbarra na força e no lobby de empresários e ambientalistas, sobretudo.

Até aqui, no período, o “ambientalismo anti-humano“, como escreveu neste BNC no sábado passado o sociólogo Aldenor Ferreira, vence a queda de braço.

Ou, como disse também neste site Lúcio Carril, é uma “irresponsabilidade pública sem tamanho” negá-la socialmente às populações que dela dependem.

De igual modo, seria uma irresponsabilidade pública sem tamanho abri-la plenamente ou escancará-la à destruição ambiental desta parte da Amazônia.

Coadunar a questão ambiental com a questão social tornou-se um obstáculo ao Brasil.

Enquanto não se encontrar uma solução para isso, a BR-319 continuará um custo alto ao Brasil. Desta vez, porém, não apenas como passivo financeiro, mas também social e ambiental. 

Assim, não passará de um sonho.

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A BR-319 e o ambientalismo anti-humano 

Foto: Reprodução