BR-319: e o que dizem moradores do sinistro ‘trecho do meio’?

Promessa mentirosa de Bolsonaro de asfaltar rodovia mexeu com esperança de muitos.

Adrissia Pinheiro

Publicado em: 24/11/2024 às 22:43 | Atualizado em: 25/11/2024 às 09:27

Ao longo dos 900 km que ligam Porto Velho, em Rondônia, a Manaus, no Amazonas, a BR-319 reflete décadas de promessas frustradas e desafios persistentes. Construída nos anos 1970 para conectar a Amazônia ao restante do país, a estrada foi abandonada rapidamente, com longos trechos engolidos por lama e vegetação. Hoje, a rodovia simboliza o isolamento de comunidades e os dilemas que surgem entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental.

Durante o governo de Jair Bolsonaro, houve promessas de pavimentação que não se concretizaram. Agora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomou o compromisso de restaurar a rodovia, alegando ser essencial para integrar a economia da região. Entretanto, ambientalistas e cientistas alertam que a reabilitação da estrada pode acelerar o desmatamento e ampliar os conflitos fundiários. O “trecho do meio”, uma extensão de 400 km de lama e terra batida, destaca a precariedade da infraestrutura e os desafios enfrentados pelas comunidades locais.

Nesse trecho, as dificuldades são ainda mais visíveis. Moradores de áreas como o distrito de Realidade, no Amazonas, relatam limitações econômicas devido ao estado precário da rodovia. Pequenos empreendedores locais, como donos de estabelecimentos comerciais, esperavam que as promessas de pavimentação trouxessem melhorias, mas continuam lidando com os impactos negativos do isolamento e das condições da estrada, especialmente durante o período de chuvas.

BR-319 pode ter obras suspensas de novo por falta de consulta a habitantes

Entre os poucos que se aventuram pela BR-319 está Dougie Loynes, repórter da BBC Travel, que percorreu a rodovia com o objetivo de documentar tanto os desafios do trajeto quanto as histórias das pessoas que vivem à margem dela. Em Realidade, ele encontrou comerciantes frustrados com as condições da rodovia, que prejudicam o fluxo de viajantes e a economia local. Loynes também esteve em comunidades indígenas próximas à estrada, onde ouviu preocupações relacionadas ao aumento de queimadas e invasões de terra, problemas que podem ser agravados caso a rodovia seja pavimentada sem um planejamento adequado.

A situação das comunidades indígenas reforça o dilema da BR-319. Líderes locais apontam que a falta de consultas e de proteção contra invasores são questões críticas. Além disso, as queimadas, impulsionadas pela abertura de novas áreas, têm causado problemas de saúde e ameaçado a sustentabilidade do território. Essas realidades destacam que a pavimentação, se realizada de forma desordenada, pode trazer impactos graves para a floresta e para seus habitantes.

A jornada de Loynes pela Rodovia Fantasma vai além de um relato de aventura. Ao registrar as histórias dos que dependem da BR-319, ele ilumina as tensões entre progresso e preservação. Para as comunidades locais, a estrada representa tanto uma oportunidade quanto um risco, enquanto, para a Amazônia, ela é um lembrete de que o equilíbrio entre desenvolvimento e sustentabilidade é um desafio que o Brasil precisa enfrentar com urgência.

Leia a matéria completa no BBC.

Foto: divulgação