BR-319 tem 6% de focos de incêndios das BR da Amazônia, diz ISA
Estudo aponta que a pavimentação da rodovia pode aumentar impactos ambientais.

Iram Alfaia , do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 05/11/2024 às 17:04 | Atualizado em: 05/11/2024 às 17:04
Estudo do Instituto Socioambiental (ISA) aponta que, de janeiro a setembro deste ano, apenas 6% dos focos de incêndios nos entornos das rodovias da Amazônia atingiram a BR-319, que liga as capitais de Manaus (AM) a Porto Velho (RO).
Nesse período, foram registradas no entorno da rodovia (buffer de 40 quilômetros) 3.506 focos de incêndios, o que representa apenas 6% do número do total de ocorrências.
Por exemplo, na BR-163 (Cuiabá-Santarém) foram 17.522 focos e na BR-230 (Transamazônica) 16.642 focos.
De acordo com o levantamento, foram identificados 8 milhões de hectares de áreas queimadas e 58,7 mil focos no entorno das estradas. Mais de 30% de todos os focos aconteceram ao redor das três rodovias.
O ISA projeta que essa situação vai mudar após o presidente Lula da Silva anunciar a retomada dos trabalhos de asfaltamento do trecho do meio da BR-319 (entre os quilômetros 177,8 ao 655,7).
O asfaltamento desses 405 quilômetros vai garantir a trafegabilidade nos 885 quilômetros da estrada durante todo o ano.
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Lula
A organização questiona a afirmação do presidente segundo a qual as secas que assolam a região nos últimos anos tornam o tráfego rodoviário essencial.
“Nós temos consciência que, enquanto o rio estava navegável, cheio, a rodovia não tinha a importância que tem, enquanto o rio Madeira estava vivo. E nós não podemos deixar duas capitais isoladas. Mas nós vamos fazer com a maior responsabilidade e queremos construir uma parceria de verdade”, disse Lula em Manaus.
“Ainda que o presidente Lula tenha feito ponderações sobre a necessidade da pavimentação da rodovia ser acompanhada de medidas de combate ao desmatamento e grilagem, o debate em torno dos impactos que a obra pode trazer à região ocorre há décadas”, diz o ISA.
O instituto destaca uma nota técnica do Observatório BR-319, segundo a qual os ramais abertos a partir das estradas, que já somam quase seis vezes a extensão da própria rodovia, têm sido um dos principais vetores de desmatamento.
“De acordo com dados divulgados em setembro, quatro municípios da área de influência da rodovia concentram 57% da extração ilegal de madeira no estado do Amazonas entre 2022 e 2023”.
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Terras indígenas
O ISA destaca ainda que, nos municípios por onde a rodovia passa, localizam-se 69 terras indígenas e 42 unidades de conservação.
De acordo com a entidade, são áreas que sofrem com a pressão do desmatamento e do aumento da vulnerabilidade da região aos incêndios.
“Os focos de calor se intensificaram em agosto de 2024, em relação ao registrado no mesmo período do ano anterior. O município de Tapauá, por exemplo, apresentou aumento de 227% em relação a agosto de 2023”.
E complementou:
“A concentração dos focos de calor na região de influência da rodovia se dá na porção sul, onde já existe pavimentação e maior quantidade de ramais”.
Foto: Dnit