‘Bolsonaro reeleito explodiria desmatamento no sul do Amazonas’
Por meio do sistema de modelagem espacial do Inpe, mapa prevê intensificação no desmatamento na região conhecida como Amacro

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 25/10/2022 às 19:29 | Atualizado em: 25/10/2022 às 19:29
A pedido da Folha de S.Paulo, um grupo de pesquisadores, liderados por Gilberto Câmara, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), prevê uma explosão de desmatamento na Amazônia em eventual reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Por meio do sistema de modelagem espacial dinâmica LuccME/TerraMEm do Inpe, que considera dados biofísicos e socioeconômicos, o mapa gerado prevê intensificação no desmatamento na região conhecida como Amacro (na fronteira entre o sul do Amazonas, leste do Acre e nordeste de Rondônia).
O avanço do desmatamento nessa região, de acordo com os cientistas, deve-se à expansão da fronteira do agronegócio e da expectativa de asfaltamento da BR-319, rodovia que liga Manaus a Porto Velho (RO).
Câmara diz que nos últimos cinco anos essa região concentrou 77% do desmatamento de Rondônia, 63% no Acre e 82% no Amazonas, sendo este o segundo que mais desmata.
“Essa região, relativamente preservada até meados da década de 2010, hoje está sob controle de grileiros organizados, que ocupam terras públicas não destinadas sem qualquer controle do Estado brasileiro”, afirmou o cientista.
“Caso o processo de ocupação na região Amacro não seja imediatamente contido com forte ação de comando e controle no próximo governo, parte importante da Amazônia será destruída”, afirmou.
Tendência
Na hipótese de reeleição de Bolsonaro, a equipe alerta que a devastação da floresta chegaria à taxa de 20 mil km² já em 2024, índice só alcançado em 2005.
Bolsonaro recebeu uma taxa de desmatamento de 7,5 mil km² e, no ano passado, a mesma explodiu para 13 mil km², ou seja, um crescimento de 73%.
Neste ano, a taxa de desmatamento continuou crescendo e a tendência é piorar ainda mais.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores dizem que há “ausência de sinalização de que essa política possa mudar em um eventual segundo mandato”.
Com isso, fizeram uma estimativa de crescimento linear do desmatamento, semelhante ao que ocorreu nos últimos três anos, entre 15% e 20% por ano.
Além da modelagem numérica, os estudos apontam estimativas espaciais onde o desmatamento deve ocorrer.
Os dados permitem aos cientistas concluírem que o desmatamento pode ultrapassar no final de um segundo mandato, em 2026, 27 mil km², o equivalente à área do estado de Alagoas, ou a 18 vezes à da cidade de São Paulo.
Foto: Agência Brasil