Bolsonaro ignorou casos de estupro de meninas indígenas no Amazonas
Com a "bolsonarização da Funai" na época, o crime não foi investigado, nem as crianças receberam o devido tratamento

Publicado em: 13/07/2023 às 11:11 | Atualizado em: 13/07/2023 às 11:12
O governo de Jair Bolsonaro não investigou os casos de violência sexual contra três meninas indígenas de 9 a 12 anos da etnia Jamamadi que vivem em Lábrea, no sul do Amazonas.
Ambas foram diagnosticadas entre 2019 e 2021 com o vírus HPV, um indício de que podem ter sofrido estupro.
À época os casos foram reportados à Funai, no entanto, acabaram ignorados pelo governo do ex-presidente.
Diante disso, as suspeitas do crime não foram investigadas, nem as crianças receberam o devido tratamento.
Servidores da Funai e da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) afirmam também que há cinco anos enfrentam dificuldades para atuar nas aldeias Jamamadi.
Por influência do missionário evangélico Steve Campbell, a assistência básica às comunidades estaria prejudicada na região.
O papilomavírus humano (HPV) é sexualmente transmissível e altamente contagioso. Nas mulheres, é o principal causador do câncer de colo de útero. Em crianças maiores, o contato sexual é a forma mais provável de contaminação.
No caso das três meninas jamamadis, todas apresentaram lesões dentro da boca compatíveis com infecção por HPV, segundo laudos médicos e documentos obtidos pela reportagem.
Em uma delas, havia outros sinais indicativos de violência sexual. “Foi constatada secreção transvaginal que caracteriza outra DST (doença dexualmente transmissível)”, indica laudo de 2019, assinado por médico da UBS (Unidade Básica de Saúde) de Lábrea, a respeito de uma menina jamamadi de 11 anos.
O laudo faz parte de um relatório do conselho tutelar do município endereçado ao então coordenador local da Funai, Luiz Fernandes de Oliveira Neto, servidor de carreira, que comandou a sede regional entre 2014 e janeiro de 2020.
Segundo o relatório, tanto a criança de 11 anos como a irmã dela, de 9, estavam infectadas e já tinham iniciado o tratamento.
O conselho sugere que o caso seja acompanhado pelo órgão em parceria com a Funai. No entanto, outro documento obtido pela reportagem aponta que os cuidados médicos foram interrompidos, pois os pais decidiram levar as irmãs de volta para a Terra Indígena Jarawara/Jamamadi/Kanamanti, onde vivem.
Procurado, Oliveira Neto afirmou que deu seguimento à denúncia dentro da Funai e que esteve na UBS para verificar a situação, acompanhado de representantes do conselho tutelar e da Sesai. Porém, diz que o caso não foi adiante em razão do que chamou de “bolsonarização da Funai” naquele momento.
Leia mais na matéria de Tatiana Merlino no UOL
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Foto: agência brasil