Áudio revela tramas e pernadas na eleição da câmara de Parintins

Conversa entre dois vereadores da Câmara Municipal de Parintins, no Amazonas, revela os bastidores da eleição para compor a nova mesa diretora do Legislativo local. O áudio vazou neste dia 2 de janeiro.

Na conversa que vazou para redes sociais, os dois revelam, entre outras coisas, oferta de dinheiro em troca de voto.

O diálogo é entre os vereadores Flávio Farias (União Brasil) e Babá Tupinambá (PP).

A troca de palavras foi horas antes da eleição ocorrida no dia 1º de janeiro, que escolheu o vereador Cabo Linhares (PL) para presidente da casa, com Márcia Baranda (União Brasil) como vice.

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Leia e ouça a conversa 

Babá –  Eu não quero saber do Kabeça (ex-vereador Rai Cardoso). Julvan (Medeiros, vereador PSD) Fábio (Cardoso, vereador Podemos) e Alex (Garcia, vereador PSD). Julvan, Fábio Alex, eles iam concordar? Eles iam contra o Bi (Garcia, ex-prefeito). Eles iam contra o Saulo? Eles iam contra… 

Flávio – Mas o Saullo queria a Márcia. O Saulo queria a Márcia.

Babá – Mas queria a Márcia depois da briga com o Linhares. 

Flávio – Como? Claro! Depois lá daqueles nove. 

Babá – Isso. 

Flávio – Sim, perfeito. 

Babá – Mas no começo era o seguinte: no começo, no começo, você falou, nós falamos… Entendeu? Que a gente ia ser nós quatro e trazer os três e que você ainda falou que não apoiava o Linhares.

Flávio – Exatamente, porque eu votaria em mim, em você, na Márcia ou no Marcos…

Babá – …Mas não votava no Linhares.

Grupo de Saullo Vianna

Flávio – Sim! Como todos falaram lá. Vocês queriam o Linhares, aliás. Tu querias o Linhares. E toda hora tu disseste: o grupo do Saullo a gente não quer.

Babá – Isso, eu sempre falei isso eu sempre falei isso.

Flávio – Mas a Márcia tu aceitaria.

Babá – Eu aceitaria a Márcia.

Flávio – Peraí, peraí. Então, tu já aceitaria o grupo do Saullo.

Babá – Não, eu aceitaria a Márcia, mas sem ter que dizer assim: olha, é obrigado a votar no Saullo.

Flávio – Não, mas a Márcia, inclusive, disse que quem disse que ela não teria problema de votar no Saullo. Ela não teria problema nenhum; que ela ainda iria se articular quando o Julvan.

‘Falar com o governador’

Babá – Não, isso aí não. Ela falou que ia falar com o governador.

Flávio – Com governador, exatamente.

Babá – Ah! Então, não é com o Julvan, porque se o governador diz não, ela não vai votar não. 

Flávio – Não vai distorcer. 

Babá – Sim, não estou distorcendo. 

Flávio – Peraí, mano. Ela ia se articular. Falei isso: ela ia se articular, porque o Julvan, o Fábio foram lá com ela e ofereceram presidência pra ela. E ela ia se articular com o governador pra ser a presidente.

Flávio – E aí, depois de lá, eu disse: Márcia, vamos resolver? É nós dois. É um dos dois. Bora decidir aqui? Ela disse: não, Flávio. Deixa eu ver. Vamos se articular, vamos conversar com os quadros e, pô se a gente tá entre nós dois aqui, os dois concordam que pode ser o de nós, bora ver. Ela disse: não, vou me articular. Beleza.

Flávio – Quando eu senti que a gente poderia perder pro próprio Linhares, sabe o que eu fiz? Eu fui lá. Eu tenho uma mensagem aqui. Segunda-feira eu mandei uma mensagem pra Márcia. Márcia, nós começamos nós quatro juntos, vamos conversar pra continuar ou terminar nós quatro conversando. Eu te mostro que ela não me respondeu.

Babá – Mas olha só… Mano tá, tá tá.

Flávio – Aí, na segunda-feira ela não me responde; terça eu mando a mesma mensagem que eu mandei pra você, que o Marcos queria conversar com nós quatro, senão, ele não conversaria mais. Você respondeu, você respondeu e a Márcia não respondeu. Entendeu?

Flávio – Também, então o que que acontece: eu, diante de tudo isso quando aconteceu o tapa do Julvan e do Fábio oferecerem a presidência pra Márcia, já não era mais pra mim era pra Márcia. Eu fui lá, tentei falar com ela não consegui. Falei por telefone quando ela pediu o negócio do bolão, eu disse: Márcia, bora conversar? Ela disse: não, só dia primeiro. Aí, eu passei outra mensagem segunda-feira, passei outra mensagem na terça-feira. Não tive retorno. 

Márcia Baranda na cabeça

Flávio – pra eu ter testemunho, eu fui lá com o Kabeça, que é irmão dela. Eu disse: Kabeça, eu voto na Márcia. Se a Márcia se articular, pode contar que eu voto na Márcia.

Flávio – Falei para o menino lá. O Saullo já queria também a Márcia como presidente, porque não era para deixar para o Linhares. E não queria o Linhares? Como? E que não queria o Linhares? 

Babá – Por que eu não queria o Linhares?

Flávio – Primeiro porque o Linhares não queria votar no Saullo…

Babá – …Então, calma! Aí, tu já tá confirmando que tu é Saullo. Esse que foi nosso negócio.

Flávio – Não, agora eu já sou Saullo. Eu não minto, Babá. Eu não minto. Depois do que vocês fizeram comigo: tu falar pra todo mundo que não votava em mim…

Babá – … Não, eu nunca… Olha só: eu digo que. Não! Chama todo mundo, põe uma testemunha. Eu sou Márcia. Eu sou grato a Márcia, eu falei lá dentro da pizza. Eu, entre a Márcia e o Flávio, eu prefiro a Márcia.

Flávio – Todas as vezes, Babá, que eu tentei falar. Eu mandei sete mensagens e tu não me respondeu.

Babá – Não. Duas! Tu mandava uma eu respondia, duas tu ligava uma eu respondia…

Flávio – … Eu até apaguei as sete, Babá. Eu tenho aqui. 

Babá – Tá bom! Mano, olha só, a gente já fez escolha. 

Flávio – Eu só quero que […] Nós perdemos a eleição pra nós mesmo, porque a eleição não era pra cair no Linhares. Agora eu vou te falar porque que eu vou voltar no Linhares.

Babá – Porque tu vai votar né vou votar. Ah tá. 

‘Vou votar no Linhares’

Flávio – Eu não escondo de ninguém, Babá, que eu vou votar no Linhares. Sabe por quê? Eu tenho dois funcionários lá que me ajudaram a ganhar a eleição. Eu não sou ingrato com os caras. 

Flávio – Eu queria ganhar pra gente dividir pra nós sete. Eu sempre falei e qual foi o nosso acordo? O Marcos é testemunha. Marcos tu fala isso que eu preciso? Falo. Nosso acordo era: qual oferecer a melhor proposta nós vamos. Se o Linhares oferecer a melhor proposta…

Babá – Eu só não estou entendendo uma coisa. Se tu queria articular com a gente nós quatro, certo? Nós três, tu era o quarto. Como é que a gente ia ter a certeza que o Julvan, o Fábio e o Alex iam acompanhar o Linhares sem ordem do Saullo naquele instante? 

Flávio – Quando? 

Babá – Naquele instante. (Espera aí que minha filha está me ligando. Espera aí que minha filha está me ligando). Espera aí. 

Flávio – Mas me retorna. 

Babá – Não, não, não, eu tô com o telefone da Bruna aqui do meu lado. Peraí. É porque a Bruna tá no banheiro. Ela tá passando ruim ali. Peraí, peraí. Oi filha. Tá, eu tô na reunião aqui daqui a pouco eu te ligo. Tá bom, tá, tá, tchau tchau.

Babá – entendeu? 

Flávio – Olha só: qual a pergunta. 

Babá – A pergunta é: quando nós começamos a articular, nós, não tinha ainda a presidência nem nada.A estava tentando. Só que tu tinha que trazer os três de lá. Os três iam votar no Linhares ou na gente, melhor, na gente? 

Flávio – Eles quiseram apalavrar várias vezes, fazer reunião com a gente, reunir os sete e não deu certo. Eu tentei avisar, tentei chamar, eles queriam se manifestar. Naquele dia que eu disse: olha, vocês querem falar comigo, eu não vou falar escondido. Eu quero falar na praça pública com vocês. Lá no Gato Preto, nós fomos lá pro Gato Preto. Eu disse: escondido eu não falo. 

Babá – Só que tu começou a fazer gesto, Flávio, de todo um pouco. O tempo tá com os três juntos, tá em café junto, e eu e a Márcia pra um lado o Marcos pro outro. Nem se preocupando nisso, mano.

Flávio – Não, mano. 

Babá – Tu te preocupou muito. Mano mas alguém tem que articular 

Flávio – Não! 

Babá – Os caras vinham atrás da gente, mano. 

Flávio – Eles ofereceram pra ti, Babá. Tu não quisestes. Eu não quis, mas tu não quis. Mas eles vieram atrás, mano. Tu tá dizendo que eles não foram atrás, mano. 

Voto comprado?

Babá – Não! Eu tô dizendo, deixa eles… Não, mas o Alex chegou três vezes, meu amigo. E eu chamo o Alex na tua cara. Ele ofereceu dinheiro, dinheiro desde que eu apoiasse o Saullo. Eu disse que não. Depois ele me ofereceu dinheiro sem apoiar o Saullo, só pra derrubar o Linhares. Só pra derrubar o Linhares. E vocês já estavam tudo certo, entendeu? 

Flávio – Não tudo certo? Não. O Linhares não. 

Babá – Não, tudo certo pra derrubar o Linhares. Tava tudo certo.

Flávio – Sim, articular com vocês os três, sim. 

Babá – Entendeu? 

Flávio – Eles queriam os quatro votos e a Márcia não tava concordando. Então eles tinham que conversar com alguém. E eu tentei conversar dizendo: olha, vocês, nós quatro, vamos ouvir os três. Eles querem se apalavrar. Eu quis falar isso. Ele quis ser a palavra lá, claro Babá que eu, se tu puder ser o presidente…

Babá – Olha só, mano, vamos fazer o seguinte. Assim, já passou. Tu já botou lá no café, eu já conversei. Nós já estamos. E agora assim, eu, a Márcia, eu vou falar com a Márcia lá na câmara. Eu vou falar com o Marcos na câmara. E lá o que falta decidir só, Flávio? Só uma coisa só falta decidir. Se a gente acompanha o Linhares ou vai ser abster. E acabou-se.

Babá – Eu já falei pro Alex, já falei pro Mateus, entendeu? Já falei. Ou a gente vai se abster, ou a gente vai fazer um gesto ou então acabou-se. Isso que pra mim tanto faz agora. Parou, parou e acabou. Entendeu? Pra mim não tem volta. 

Flávio – Eu só falei porque você colocou lá no grupo. Tá bom então, deixa eu atender aqui minha mulher.

Babá – Tá bom, obrigado. 

Flávio – E rapidinho, só sobre essa questão do Marcos. O Marcos toda hora me ligava e falava, Flávio, vai reunir os quatro. Pô, Marcos, a Márcia. Porra, eles têm que dizer que eu tenho que me articular, eu tenho que fazer a minha parte. Eu te falo isso na frente dele, se tu quiser.

Babá – Tá bom! obrigado.

Flávio – Eu queria também a liberdade que nós conseguimos conversar nos quatro, que eu pedi. Tu sabe disso.

Babá – Então, só para efeito de consciência, pra depois eu não ter peso na consciência: os três iam ficar com a gente contra o Linhares?

Flávio – Contra o Linhares. Eles iam se apalavrar com a gente.

Babá – Entendi.

Flávio – E aí, quando eu vi que tu não votava em mim, eu fui lá no Kabeça, porque a Márcia não me atendia, eu fui lá no Kabeça e disse: Kabeça, fala pra tua irmã que eu voto nela. Depois, o Kabeça chegou a me dizer: Flávio, a Márcia não quer mais a presidência. Esse aí é o Cabeça. Mas eu, pra ter testemunha, eu peguei o Marcos Cursino, pra testemunhar que os quatro queriam, os três queriam dar presidência, porque vocês não me atendiam, e chamei o Kabeça falei pro Kabeça vai, fala pra tua irmã, Que se for para ela, para a gente não entregar por Linhares. Eu voto nela.

Flávio– Tá bom. Ela definiu a gente pode chamar… 

Babá – Eu vou falar com a Márcia e com o Marcos só lá na hora, tá? Aí a gente vai decidir lá o nosso voto ou neutro, ou se eu abster. 

Babá – Tá. 

Flávio – Obrigado. Márcia. Beleza, qualquer dúvida me chame que eu respondo. Tchau.

Fotomontagem: BNC Amazonas