‘Às vezes choro, mas não é um choro de tristeza. É amor!’

Dia da Conscientização do Autismo: Pai de dois filhos com espectro autista, Ronaldo Tiradentes faz depoimento emocionante

Ronaldo Tiradentes Dia Mundial de Conscientização do autismo

Neuton Correa, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 02/04/2025 às 12:19 | Atualizado em: 02/04/2025 às 12:56

O comunicador Ronaldo Tiradentes fez hoje um depoimento comovente como pai de dois filhos com espetro autista. Foi em seu programa “Manhã de Notícias”, na rede Tiradentes de rádio e TV.

Em vinte minutos de testemunho, ele conta do diagnóstico a situações de preconceito e de humilhação que já passou como pai atípico.

Ronaldo chorou ao contar uma abordagem que passou na Receita Federal, no aeroporto de Manaus. 

“Eu nunca falei disso pra ninguém. Mas vou falar pra vocês verem o tipo de  constrangimento que nós passamos, mesmo diante de pessoas escolarizadas, pessoas com nível superior, pessoas preparadas, mas que cometem esses erros que humilham e constrangem pais de autistas”.

Ele continuou.

“O fiscal apontou para o meu filho dizendo que ele não tinha direito à cota”, disse, fazendo outra revelação.

“O fiscal escolheu exatamente a garrafa de vinho pra colocar. Ele escolheu, o fiscal, pra colocar na cota do meu filho”.

Ao lembrar disso, Tiradentes chorou. Antes, contudo, declarou:

“Eu, às vezes choro. Às vezes, quando começo a falar do meu filho, em palestras de escola, eu começo a chorar.  Mas, não é um choro de tristeza. Eu nunca chorei de tristeza. Nunca”.

E prosseguiu. 

“E nunca haverei de chorar por ter um filho autista. Nunca! Eu sempre chorei de emoção e de amor pelo meu filho. É um amor tão grande, tão grande, que eu não consigo explicar. O choro que às vezes me ocorre é um choro de um amor que eu não consigo medir o tamanho do amor que eu tenho por ele”.

O testemunho de Tiradentes neste 2 de abril de 2025, Dia Mundial de Conscientização do Autismo

“São oito horas e vinte e seis minutos. Hoje é o Dia da Conscientização do Autismo. Não é dia pra homenagear autista. Não é dia pra festejar autista. É um dia pra gente entender mais o autista, que a sociedade entenda mais o autista. 

“Por tantos autistas que eu tenho encontrado na minha caminhada. Eu já cheguei a uma conclusão pessoal, de que todos nós, hoje, todos, na família da gente, todas as famílias vão ter um autista.

“O autista não é apenas aquele autista clássico que você vê ali com dificuldade de fala, com dificuldade de interação social. 

Existem vários tipos de autistas” 

“É por isso que se chama de espectro de autista, porque o espectro ele é amplo.  

“Um autista tem uma dificuldade, outro tem outra característica. Você, dificilmente vai encontrar um autista igual ao outro. Sempre algum tem um traço de autismo. 

“É por isso que eu acho que todas as famílias vão identificar ou já identificaram ou ainda vão identificar um autista. Vai ser um primo, o filho de um primo, um tio, o filho de um tio, um irmão, mas as famílias todas vão ter um parente ou próximo ou um pouco mais distante”.

Diagnóstico

“A ciência e a medicina conseguem, estão conseguindo hoje, identificar com mais facilidade essas pessoas que nasceram diferentes.  

Amigo autista

“Tenho um amigo que se formou comigo. É um amigo pessoal. É do meu convívio pessoal. Nem disse pra ele que ia falar sobre isso hoje aqui. Mas eu quero mostrar pra vocês que você descobre o autista não é no nascimento.

Diagnóstico tardio 

“Tem muita gente que descobre já adulto, depois de ter passado pela faculdade. É o caso do meu amigo, colega. Vou cometer aqui uma inconfidência. É o Jaime, não vou dizer o sobrenome, mas é o Jaime. É o Jaime,  advogado, estudou comigo. Mas ele usa hoje um crachazinho de autista. Eu tô dizendo aqui o nome dele porque ele usa, ele faz questão de se apresentar como autista.

“E ele só descobriu isso agora. Já deve tá aí beirando seus cinquenta anos. Mas hoje ele me manda mensagens e tal. E cada dia ele descobre uma coisa, uma coisa que ele tinha no passado, um comportamento que ele tinha no passado e agora depois de ter sido diagnosticado com autismo, e é um autismo leve, um traço leve, então, é que ele fez faculdade normalmente e é um dos alunos mais brilhantes da minha faculdade de Direito, meu querido Jaime.

“Mas, essas pessoas vão se identificando mais velhas que não tiveram oportunidade de se identificar mais cedo. Acaba se identificando mais velho. Pessoas que têm uma dificuldade de interagir de comunicar, de socializar. Ah! aquele cara é todo… ele é diferentão.

O diferentão

“Por que aquele cara é diferentão? Vai investigar, é autista. E tem esses autistas aí que têm essas facilidades de conseguir casar, consegue ter filho, consegue se formar normalmente numa faculdade, mas tem aqueles que não conseguem. 

O filho Rui

“Como é o caso do meu filho Ruizinho. Que, até hoje, vai completar 23 anos agora, no dia 10, daqui a uma semana, completa 23 anos, mas é uma criança. Continua sendo uma criança inofensiva, uma criança com mentalidade de 3 anos. Brinca como se fosse uma criança de 3 anos. E olha como eu amo esse meu filho. Eu, às vezes, choro. Às vezes, quando começo a falar do meu filho, em palestras de escola e tal, eu começo a chorar. Mas não é um choro de tristeza. Eu nunca chorei de tristeza. Nunca! E nunca haverei de chorar por ter um filho autista. Nunca! Eu sempre chorei de emoção e de amor pelo meu filho. É um amor tão grande, tão grande, que eu não consigo explicar. 

“O choro que às vezes me ocorre é um choro de um amor que eu não consigo medir o tamanho do amor que eu tenho por ele. 

Revelação sobre o filho Ronaldinho

“E, olha: eu gostaria de fazer aqui uma, uma revelação. O outro filho mais novo, o Ronaldinho, que tem 17 anos, que veio ao mundo pra ajudar o irmão… Nós, quando concebemos o Ronaldinho, foi porque porque a gente morre, a gente passa, né?

“Quem é que vai? A grande preocupação que eu tenho na vida é de saber quem vai cuidar do meu filho quando eu morrer? Quem vai dar a ele tanto amor como eu dou? Essa é a coisa que mais me preocupa hoje.

A preocupação do pai de autista 

“Eu sou um homem realizado, sou um homem feliz. Graças a Deus tenho saúde. Mas eu carrego comigo, diariamente, essa preocupação. Você acha que eu tô preocupado porque o Ruizinho é autista? Isso não me preocupa nem um pouco. Eu durmo tranquilo todos os dias. Sou uma pessoa muito feliz. Mas não posso negar que tenho essa preocupação de quem é que vai dar tanto amor ao meu filho quando eu morrer.

“Possivelmente, no primeiro momento, será minha mulher, que também vai morrer, chega um dia, vai morrer. E pela, pela nossa… é… 

“Naturalmente, os pais morrem antes dos filhos, né? Se seguir a história, o que diz a medicina, fisiologicamente, os pais morrem antes dos filhos. 

“Mas, minha gente, voltando a falar do Ronaldinho, a gente vai crescendo, vai conhecendo, ele, o Ronaldinho, também aparecem alguns traços. A gente vai identificar e acaba identificando que também tem um traço de autismo leve. É um traço mais leve do que o outro irmão, mas, também, carrega consigo traços de autismo. O Ronaldinho estuda, normalmente. Ele consegue interagir, mas tem também dificuldades. Esse vai viver tranquilamente, aí vai poder ter filho, vai casar. 

As limitações do Rui

“O Rui, não. O Rui, coitado, tem várias limitações. Mas é um menino extremamente feliz. Você não consegue ver o Rui triste. Todo o tempo que olha pra ele, tá sorrindo, tá correndo, tá brincando. Então, minha gente, eu aprendi a conviver com isso. E quero aqui deixar bem claro mais uma vez que…

“Não sou uma pessoa triste. O meu choro é de amor. Toda vez que choro, falando do meu filho, eu choro por extremo amor que tenho por ele e pelo outro filho, o Ronaldinho. É lógico que tem outros filhos que o amo, os amo também. Mas em face dessa dificuldade que o Rui tem, e agora o Ronaldinho se apresentando também, é que eles precisam mais de mim.

“Precisam mais da minha presença ali e eu não nego a minha presença em momento nenhum. Sempre levei pra escola, sempre busco, não deixo, viajo, os levo. Mesmo que seja uma viagem curta, eu não deixo eles em casa só. Sempre levo eles comigo, mesmo que seja uma viagem de trabalho procuro conciliar trabalho com com lazer.

Compreensão do ser autista 

“Mas, a gente vai se esbarrando no dia a dia até a próxima com enormes dificuldades de compreensão da sociedade do que é o autista. 

Preconceito, constrangimento, humilhação 

‘Eu queria trazer pra vocês aqui, já relatei vários casos de preconceito, vários casos de constrangimento, vários casos de humilhação que já passei. E os pais de autista vão passando e, às vezes, me relatam, me ligam chorando e tal. Então (…) Não foi a primeira vez e nem será a última.

O autista precisa de compreensão

“Você vai sempre continuar, infelizmente, encontrando essas dificuldades. E é por isso que tem hoje um dia do autismo, que é pra chamar a atenção da sociedade que o autista, ele é diferente. Ele é diferente. Ele precisa de compreensão. 

“Você viu um menino correndo assim? Antigamente, eu achava, quando eu via um menino correndo, subindo no sofá, subindo no…

“Eu recebi uma visita lá em casa, eu nunca me esqueço disso, de um amigo. O filho subia no meu sofá, dava cabalhota na sala. E eu ficava pensando, conversando ali com o pai e com a mãe, mas no fundo pensando assim: que menino mal-educado. E os pais não reprimem esse menino mal-educado. O menino não parou um minuto de subir e pular no sofá e fazer estripulia.

“Hoje eu entendo que essa hiperatividade de crianças está ligada ao espectro do autismo. É uma das características do autista, essa hiperatividade. Nem todos têm. Alguns têm um comportamento mais quieto. Mas a maioria dos autistas são imperativos. Ele têm dificuldade de fala e têm dificuldade de se socializar com outras crianças.

Crianças isoladas

“Você vê uma pessoa aí, um adulto que fica trancado no quarto o dia inteiro, não fala com ninguém. Pode investigar que tem um traço de autismo. 

Um caso

“Eu fui ontem ao Fórum de Justiça aqui tratar de um processo. Quando tava saindo do Fórum de Justiça, vi de longe passando um menino ali, adolescente, andando na pontinha dos pés, andando junto com a mãe.

“Eu tava com um amigo advogado e disse: olha, aquela criança ali é autista, com absoluta certeza. Aí, conversei com o meu amigo, quando saí do fórum, lá fora estava aquela mãe pra aquele menino e eu fui lá e puxei conversa com a mãe. Comecei a conversar, perguntei se ele era autista. Ela disse que sim, que ela tava lá tentando um laudo médico.

Falta de serviço público pra autistas

“Olha só, procurando um laudo médico pra comprovar que ele é autista, um laudo, um psicólogo pra dar um laudo pra ele. E aquela mãe ali…  se humilhando, procurando poder público, atrás de, de ajuda, pra um laudo daquele menino ali de 11 anos. Eu acabei conversando com ele, falante, bem falante, um autista diferente, que fala, mas que andava na ponta dos pés.

“E assim a gente vai encontrando, no dia a dia. Encontro autista em aeroporto, que o pai não sabe. Um encontro autista na escola, que o pai não sabe. É um encontro autista na piscina, um encontro autista na piscina.  Na piscina do condomínio uma vez, eu chamei um pai e disse, olha, já fez um exame no seu filho, leva.

“Não, não, ela anda, uma criança, anda na ponta dos pés assim, porque ela é assim mesmo. Depois, anos mais tarde, eu vi a mesma criança e o pai voltou e disse: olha, realmente, você tinha razão, é uma autista.

O primeiro médico 

 ”E eu tenho feito o que posso pra, pra ajudar a esclarecer essas coisas todas. Eu já falei pra vocês aqui, uma vez, do primeiro médico que diagnosticou o Ruizinho com autismo, Salomão Schwartzman, tá vivo. Tá aí, um dos maiores especialistas de autismo, deve ter mais de 80 anos o Salomão, acabou virando meu amigo.

“Mas, o dia que eu fui lá com o Salomão, lá em São Paulo, depois de ficar penando aqui em Manaus… Eu ia com o médico, o médico dizia: ah não sei. E tal. E ficava tendo aquele monte de diagnóstico ali. Naquela época, poucos médicos aqui em Manaus conseguiam entender isso. Poucos tinham conhecimento sobre autismo. Hoje já melhorou muito, melhorou bastante.

“Eu quero aqui registrar o doutor (Francisco) Tussolini, de Manaus, é uma das maiores especialidades, um dos maiores especialistas em autismo em Manaus, doutor Tussolini.  

O conselho do médico ao pai jornalista pai de autista 

“Voltando a falar do Salomão. Salomão, depois que eu levei meu filho, eu tava saindo do consultório dele, ele disse: você faz o quê? Eu disse: eu sou jornalista, sou radialista e jornalista. Ele disse: olha, eu queria te dar um conselho. Eu disse: pois não. Usa a sua profissão pra divulgar o autismo. Usa, porque você vai ajudar muita gente, você falando do autismo.

“Aí, vocês veem que eu falo sempre que posso, eu falo aqui de autismo. E já melhorei muito, ajudei a abrir muito a cabeça das pessoas. Tenho certeza disso. 

“Modéstia à parte, que melhorei muito a consciência de muita gente que não sabia sequer. Muitos médicos, inclusive, que não sabiam lidar com o autismo. 

Ronaldo não será um Jô Soares

“Mas o Salomão me deu esse conselho e me deu um exemplo do Jô Soares. Jô Soares, que tinha um filho autista e nunca disse na televisão. Sempre escondeu o filho autista

“Ele só falou do filho que era autista no dia que o filho morreu. No dia que o filho morreu, ele foi lá chorar as mágoas na televisão. Tardiamente, falar do filho. Deveria ter falado quando o filho estava vivo para ajudar milhares de pessoas no Brasil.

Eu nunca escondi meu filho autista

“Ele teve a oportunidade  de ajudar milha, milhões de pessoas no Brasil inteiro. Mas o Jô Soares errou muito, pecou muito em ter escondido um filho autista. 

“Eu nunca escondi meu filho autista, eu faço questão de mostrar meu filho autista. Quando viajo, quando estou em local público, coloco no pescoço dele um cordãozinho com aquele símbolo do autista, para as pessoas saberem que ele é autista. Isso ajuda muito.  O relacionamento ajuda muito nas pessoas.

“Quando a pessoa vê ele correndo, vê ele às vezes gritando, sabe que ele é autista. 

“Então, minha gente, o Jô Soares errou muito. 

Revelação 

“E eu quero finalizar essa minha fala dando um exemplo pessoal que aconteceu comigo há uns dois anos aqui em Manaus. Eu nunca falei disso pra ninguém. Vou falar pra vocês verem o tipo de  constrangimento que nós passamos, mesmo diante de pessoas escolarizadas, pessoas com nível superior, pessoas preparadas, mas que cometem esses erros que humilham e constrangem pais de autistas.

Isso foi um caso, não é uma regra 

“Eu quando chego de viagem aqui no aeroporto internacional Eduardo Gomes, os fiscais da Receita Federal me tratam assim com muito respeito, e me tratam o meu filho com muito respeito. Essa é a regra. Ali, quando eu chego na Polícia Federal, normalmente na Polícia Federal, os policiais recebem o meu filho com muito carinho e com muito amor.

“E dão sempre atenção especial ao meu filho.  Mas, teve um dia que eu me apresentei na Receita Federal, porque tava trazendo algo, mercadorias importadas. E você, quando foge da cota, você se apresenta. O correto é você se apresentar na Receita Federal pra, pra evitar que você seja multado caso você seja escolhido pra, pra ser inspecionado. E eu me apresentei espontaneamente, espontaneamente.

“E a cota estava dividida. A cota que a gente estava trazendo estava dividida entre todos os passageiros do meu grupo: meus filhos, minha mulher, minha sogra e a nossa assistente que acompanha a gente há mais de 15 anos, a querida Alessandra.

Preconceito

“Aí, o fiscal da Receita Federal.  Apontou para o meu filho dizendo que ele não tinha direito à cota. Sendo que o Ruizinho é maior de idade. O Ruizinho vai fazer 23 anos. Isso foi há dois anos. O Ruizinho tive há 21, 20, 21 anos. E eu disse, mas, como é que ele não tem cota? Por que que ele não tem cota? Aí, ele ficou assim, constrangido, ele disse, não, porque ele é autista.

O autista também é cidadão

“E eu disse, olha,  o senhor não quer dizer porque ele não tem cota, mas eu vou dizer pro senhor que ele é um cidadão que nem o senhor. Ele tem CPF, ele tem carteira de identidade, ele tem registro de nascimento. Éle é um cidadão igualzinho ao senhor. E os mesmos direitos que o senhor tem, ele tem. O fato dele ser autista não o torna diferente. Não o torna um não-cidadão. Ele não deixa de ser cidadão. Ele é uma pessoa. Deve ser tratado com todo respeito. 

“Aí, esse fiscal da Receita não se fez de rogado. Ficou calado, desapareceu ali. E eu continuei sendo inspecionado por um colega dele. 

Algo mais bizarro – o vinho na bagagem do autista 

“E aconteceu até uma, algo até mais bizarro. Mas, que eu tava trazendo entre os meus bens ali, entre as coisas, eu tava trazendo bebida. Algumas garrafas de vinho. E ele (o fiscal) escolheu exatamente a garrafa de vinho pra colocar. Ele escolheu, fiscal, pra colocar na cota do meu filho. 

“Aí ele sumiu. Ele foi lá pra dentro e voltou com a legislação. Ele foi lá buscar a legislação, imprimiu a legislação e voltou com aquela legislação impressa. Ah, dizendo, o senhor realmente tem razão.

“Ah, o senhor tem razão, realmente pode. Ele pode ter cota e tal, chegar lá. 

“Então, mas o que me chamou a atenção é que ele escolheu a bebida alcoólica.  Exatamente pra colocar na cota do meu filho, como se ele não pudesse beber. 

“De fato, meu filho não bebe. Mas aí eu me perguntei, mas por que que a cota de vinho está no nome dele? Não pode ser no meu nome? No nome da minha mulher, que é maior? No nome da minha sogra, que tá comigo? Da minha mãe, que viaja comigo? Quer dizer… havia ali uma má vontade, uma má vontade.

“De primeiro, não reconhecer um autista como direito a ter cota. Esse foi o primeiro erro. O segundo erro foi depois querer atribuir ao meu filho a bebida alcoólica. Quando eu tava trazendo telefone celular, tava trazendo roupa, tênis, aquela coisa, né? A cota de bebida alcoólica teria que ser a minha e não a do meu filho. 

“Mas, minha gente, volto a dizer, isso não é a regra, isso é exceção. De dez vezes que eu passo ali na Receita Federal, nove vezes meus filhos são muito bem tratados. 

Desconhecimento do auditor fiscal 

“São muito bem recebidos, mas aconteceu esse episódio isolado, um episódio isolado, de um fiscal aí, que, enfim, graças a Deus, não descambou pra uma discussão nem nada. Foi esse desconhecimento da lei, o desconhecimento da lei de um auditor da Receita Federal que acha que, por ser autista, ele não tinha direito à cota, que ele era diferente, que ele não tinha direito à cota. Não era um cidadão, não é uma pessoa com CPF e não deve ser tratado como cidadão comum. 

Atendimento preferencial 

“Então, a falha foi nesse aspecto aí. Mas, no geral, eu só tenho a agradecer a eles. Quando eu chego, eles dão um tratamento ali, preferencial, que é um tratamento, que também é direito do meu filho de passar na frente, de ser atendido na frente, pra evitar que eu, às vezes, falo, peço pro meu filho entrar na frente. Num atendimento de aeroporto porque o autista, ele incomoda as pessoas. Às vezes, ele esbarra numa pessoa. Ele vem pra trás e esbarra no outro. 

“Então pra evitar esses… ficar batendo, encostando as pessoas, ele incomodando as pessoas, é que eu peço preferência pra entrar na frente das pessoas. E sempre tive esse tratamento respeitado. Não tenho nada o que reclamar. Foi exatamente isso de um, de um auditor por achar que um autista não é um cidadão. E o autista é um cidadão.

O apelo à sociedade

“Dito tudo isso, minha gente, procure se informar mais, procure entender mais o autista. O autista tem muitas dificuldades e ele, e a maior dificuldade é a compreensão da sociedade”.

Foto e vídeo: reprodução/TV