Amazônia pode virar rota de cartéis mexicanos por causa de Trump

Presidente dos Estados Unidos pretende tachar como terroristas os cartéis de drogas

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 23/01/2025 às 18:49 | Atualizado em: 23/01/2025 às 19:01

A Amazônia brasileira poderá virar rota do tráfico de drogas dos cartéis mexicanos, caso o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, cumpra sua promessa: aumentar a repressão aos cartéis principalmente os do México e da América Central.

Em seu discurso de posse, no último dia 20, Trump falou em tachar como terroristas os grandes cartéis de drogas, sobretudo os mexicanos.

Diante disso, ao analisar essa fala do presidente norte-americano, um membro do Fórum de Segurança Pública do Brasil, Renato Lima, disse à Globo News que se essa manifestação se concretizar, transformando de fato em uma repressão aos cartéis mexicanos, impondo dificuldades para o tráfico de drogas pelo Caribe, pelas rotas tradicionais, eles vão querer disputar a Amazônia brasileira.

Hoje, segundo Lima, essa rota no Brasil é utilizada pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) e pelo Comando Vermelho (CV), principalmente para mandar drogas à África e Europa. Essas são rotas que os cartéis mexicanos não usam.

“Então, se a política de Donaldo Trump for eficiente, em relação aos cartéis mexicanos, há previsão de que haverá uma guerra entre cartéis disputando essas rotas, principalmente no norte do país”, disse Lima.

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Tráfico na Amazônia

Dessa forma, de acordo com levantamento do Centro de Estudos sobre Drogas e Desenvolvimento Social Comunitário (Cdesc) – “Tráfico de drogas na Amazônia e efeitos no meio ambiente: Uma análise exploratória”, de 2023, no Brasil, a atuação das organizações criminosas ocorre principalmente por meio dos fluxos transnacionais.

Com isso, há conexão com regiões de maior produção de drogas ilícitas em alguns de seus países vizinhos, bem como na exportação para outros países caracterizados pela demanda do consumo dessas substâncias, principalmente cocaína.

“Nesse sentido, atribui-se esta problemática ao Brasil, comumente ressaltado por ser um “país de trânsito” (por ser território de escoamento do tráfico de drogas dos países da América Latina para outras regiões), a despeito de haver a produção de algumas drogas ilícitas, assim como elevado consumo interno”, afirma o estudo do Cdesc.

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Atuação das organizações criminosas

Segundo o levantamento, a atuação das organizações criminosas, na Amazônia, ocorre da seguinte maneira:

• Uso de rios como rotas para tráfico de drogas;

• Construção de infraestrutura de transporte e mineração ilegal;

• Tráfico de animais silvestres e de flora selvagem;

• Extração ilícita de madeira;

• Derrubada de floresta para abertura de estradas e pistas de pouso clandestinas;

• Governança criminal e governança híbrida em territórios com presença limitada do Estado.

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Estado em ação

Nesse contexto, o Estado brasileiro, por meio dos governos federal e estaduais, têm realizado ações de repressão.

Os dados revelam uma variação significativa nas apreensões de cocaína de 2022 para 2023.

Estados como Amapá, Amazonas, Maranhão e Pará registraram aumentos expressivos nas apreensões, com destaque para o Amapá, com um aumento de 256,5%, e o Pará, com 124,3%.

Por outro lado, Acre, Mato Grosso e Roraima apresentaram reduções nas apreensões, sendo Roraima o estado com a maior diminuição percentual, com -34,9%.

Porém, os desafios logísticos e a vastidão territorial complicam a atuação estatal na região.

Amazonas: cocaína e maconha

Já as apreensões de cocaína realizadas pelas polícias do Amazonas durante os anos de 2022 (5.230 kg) e 2023 (7.888 kg), houve um grande volume, em quilos de cocaína, apreendidos na capital, Manaus. Além disso, destaca-se o aumento no volume de apreensões nos municípios de Tefé e Coari.

Por outro lado, as preensões de maconha, nos últimos dois anos totalizaram 42.330 quilos. As maiores apreensões concentram-se na parte superior do Amazonas, com destaque para os municípios de Novo Airão, Manaus, Coari, Japurá e Santa Isabel do Rio Negro.

Chama atenção também o fato do aeroporto internacional de Manaus se destacar entre os dados de apreensão da Polícia Federal como o local com maior apreensão de maconha entre os aeroportos de todo o Brasil.

Esta informação é reveladora, considerando que as autoridades têm alertado para novas dinâmicas do mercado de maconha oriundo da Colômbia e que entra no Brasil pelos rios da região amazônica (Cdesc, 2023).

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Pistas de pouso no Pará

Outro aspecto relevante é a quantidade de pistas de pouso: de acordo com o Projeto MapBiomas (2024), o Pará é o segundo estado da Amazônia Legal com o maior número de pistas de pouso, totalizando 882.

Segundo relatos de profissionais policiais, o Pará também se destaca como um estado em que a dinâmica do mercado ilícito acaba sempre passando pelo estado na rota do rio Solimões, havendo uma diversidade de meios de transporte até chegar no Pará, seja via área rodoviária e pelo porto próximo a Belém (Cdesc, 2023).

Em relação às apreensões de cocaína no período analisado, observa-se que o volume apreendido se intensificou nas cidades de Altamira, Óbidos e Marabá.

Por fim, os dados de apreensões em portos, também revela uma tendência de desconhecimento dos destinos da cocaína que é traficada em cargas através dos portos do Norte e Nordeste, sendo um importante desafio do ponto de vista de conhecimento da atuação do mercado ilícito na região.

Foto: divulgação/Exército Brasileiro