Amazônia: pesquisadora lamenta perda da semente do tucumã
Simey Fisch defende germinação controlada para preservar espécie e impulsionar a produção regional.

Wilson Nogueira, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 28/04/2025 às 13:59 | Atualizado em: 28/04/2025 às 13:59
A agrônoma e pesquisadora Simey Thury Vieira Fisch disse lamentar que milhares de toneladas de sementes de tucumãzeiros sejam desperdiçadas ao invés de germinadas por meio de processo manipulado que antecipa o nascimento de novas mudas.
Simey, amazonense que hoje mora no estado de São Paulo, é uma das pioneiras no desenvolvimento de técnicas que quebram a dormência dessas sementes, conhecidas como caroço, da qual se extrai a polpa de tucumã, amplamente consumida pelas populações amazônicas.
Em seus estudos como bolsista do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), a pesquisadora conseguiu antecipar em até um ano e meio a brotação do tucumã, com o uso de sementeiras com temperatura controlada.
Conforme afirmou, esse ambiente é de fácil elaboração. As sementes podem ser colocadas sob uma camada de areia e coberta com telha para que promova um certo aquecimento, e assim se obter uma germinação entre três e cinco meses.
Na natureza, o nascimento da palmeira demora, em média, dois anos, e mais entre cinco e sete anos para começar a produzir.
“Trata-se da germinação da semente de uma palmeira, cujo fruto está com alto nível nutritivo, de largo consumo e, pelo que acabo de saber, existe um enorme desperdício de material genético”.
De acordo com Simey, a germinação do tucumãzeiro é naturalmente muito lenta, porque leva muito tempo para amadurecer o seu embrião, que exige muito tempo de maturação.
“Acontece que em alguns ambientes aquecidos, como deixá-la sob determinado nível de calor solar, obtêm-se uma germinação estimulada mais rápida. Porque esse processo acelera a divisão celular da semente e encurta o tempo de germinação. Ela só não pode ficar diretamente no sol e nem o substrato seco”.
O tucumã é um coquinho que tem uma camada de polpa entre a casca e a amêndoa de massa branca preenchida por água, similar a um coco.
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O x da questão
A germinação do tucumã é muito parecida com a do coco, só que ela é muito lenta. Esse é o “xis” da questão na germinação da semente do tucumãzeiro segundo a pesquisadora.
Simey assinala que os frutos que chegam ao mercado ainda vêm de tucumãzeiros nativos, enquanto suas sementes são descartadas inadequadamente.
O certo seria, segundo ela, germiná-las em sementeiras com apoio tecnológico, para que gerem novas palmeiras e nova produção.
A germinação estimulada do tucumã em sementeiras torna-se necessária, na avaliação da pesquisadora, para preservar a espécie, que está na contabilidade do deflorestamento da Amazônia, e, também, para a selecionar das palmeiras com maior produtividade, frutos com maior espessura de polpa e melhor sabor.
“O agricultor pode escolher a variedade que mais lhe convier. Ele só vai ter mais um pouco de paciência até a colheita”.
Para Simey, portanto, é uma forma de trazer os tucomãzais de volta e para os locais mais próximos dos agricultores que decidirem investir no manejo dessa palmeira.
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O x do caboquinho

A polpa do tucumã compõe, com a tapioca e a banana frita, o recheio do x-caboquinho, o sanduíche que não pode faltar na mesa das casas de café regional de Manaus.
Por isso, foi decretado, pela Câmara Municipal de Manaus, patrimônio da culinária manauara.
O alto consumo na capital do Amazonas elava o preço do tucumã em nível altíssimo na entressafra e nos períodos de secas extremas das áreas mais próximas do mercado local.
Na entressafra amazonense, os atacadistas se socorrem da produção do oeste paraense, o que encarece o produto.
No primeiro semestre de 2024, a saca de 60 quilos do produto chegou a ser comercializada, no mercado atacadista da feira da Banana (área portuária Manaus Moderna), entre R$ 850 a R$ 1,2 mil. Nas feiras de bairros, o quilo da polpa chegou aos R$ 250.
A polpa do tucumã é, tradicionalmente, consumida no café da manhã com pão ou farinha de mandioca.
O tucumã que cai maduro dos cachos é o mais apreciado, por isso, o mais disputado em relação aos amadurecidos artificialmente com abafadores.
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A pesquisadora Simey Fisch
Simey Thury Vieira Fisch participou, neste dia 26 de abril, da roda de conversa da Valer Cultural (largo de São Sebastião, centro), com o tema “COP-30: o que está em jogo”, conduzida pelo diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Henrique Santos.
Simey é pesquisadora aposentada pela Universidade de Taubaté (SP), doutora em ecologia pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em botânica pelo Inpa, graduada em agronomia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
Atualmente atua como voluntária da ong Fasc, para educação de crianças e jovens de escolas públicas de São José dos Campos (SP).
Também atua nos movimentos Mulheres do Brasil e ODS, ambos do núcleo São José dos Campos (SP), e
De olho nas árvores.

Fotos: Wilson Nogueira/especial para o BNC Amazonas