Amazônia: como desmatamento e queimadas derretem gelo da Antártida

Estudo da UERJ, publicado na Science Advances, mostra como a fuligem amazônica acelera o derretimento das geleiras.

Adrissia Pinheiro

Publicado em: 28/02/2025 às 10:33 | Atualizado em: 28/02/2025 às 11:42

O desmatamento e as queimadas na Amazônia estão contribuindo diretamente para o derretimento das geleiras na Antártida. Um estudo publicado na Science Advances revela que a fuligem liberada na floresta viaja milhares de quilômetros e se deposita no gelo, absorvendo calor e acelerando o processo. Além disso, embarcações turísticas na região são responsáveis por metade dessa fuligem, intensificando o problema.

Desde os anos 1970, queimadas na América do Sul lançam até 800 mil toneladas de fuligem por ano na atmosfera. Ventos fortes transportam essas partículas por mais de 6 mil km em menos de duas semanas. Ao se acumularem sobre o gelo, escurecem a superfície e aumentam a absorção de calor, acelerando o derretimento.

O estudo, liderado por Heitor Evangelista, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), aponta que cada metro quadrado da Península Antártica perde cerca de 150 g de gelo diariamente. A região já enfrenta as temperaturas mais altas em dois mil anos, tornando o impacto ainda mais alarmante.

Além disso, da fuligem amazônica, a atividade turística na Antártida piora a situação. Navios, aviões e geradores a diesel usados em bases científicas e expedições liberam grandes quantidades de fuligem. Ademais, o turismo na região triplicou na última década, chegando a 123 mil visitantes na temporada 2023-24, com 45% dos turistas vindos dos Estados Unidos.

Como resultado, a soma da fuligem amazônica e das emissões do turismo acelera o colapso das geleiras, elevando o nível do mar globalmente. Por exemplo, a geleira Thwaites, conhecida como “geleira do fim do mundo”, já está se fragmentando e pode aumentar o nível dos oceanos em até 3 metros.

Dessa forma, as populações costeiras mais vulneráveis sentirão os impactos primeiro. Em Bangladesh, a invasão da água salgada destrói plantações e força migrações. Até 2100, o nível do mar pode subir até 2 metros, afetando 1 bilhão de pessoas e exigindo US$ 2,2 trilhões anuais para adaptação.

O estudo reforça a necessidade de conter o desmatamento, reduzir queimadas e limitar o impacto do turismo polar. Sem ações urgentes, o derretimento das geleiras seguirá trazendo consequências irreversíveis para o planeta.

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A matéria é do G1. Leia na íntegra.

Fotos: Agência Brasil