Amazonas é terceiro do país em enfermeiros mortos pelo coronavírus

No Amazonas, 186 profissionais da área já testaram positivo para a doença

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Ferreira Gabriel, da Redação do BNC Amazonas de Brasília

Publicado em: 06/05/2020 às 19:21 | Atualizado em: 06/05/2020 às 19:31

Atrás somente de São Paulo (26) e Rio de Janeiro (24), Amazonas e Pernambuco, ambos com sete, são os estados que apresentam o maior número de enfermeiros mortos. Sobretudo em serviço pelo coronavírus (covid-19).

No Amazonas, 186 profissionais da área já testaram positivo para a doença.

Segundo o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), os dados são alarmantes, pois se trata da maior taxa de mortalidade do mundo.

São, portanto, profissionais que todos os dias estavam na linha de frente do combate ao coronavírus nos hospitais brasileiros.

Os dados estão em plataforma de monitoramento lançada pelo Cofen. Além dessas vítimas, outros 16 óbitos envolvendo trabalhadores da área ainda estão sob análise. Estes aguardando resultado de testes.

Ao todo, no país, são 10 mil profissionais com casos confirmados de coronavírus. Bem como 88 mortes. Dessa forma com uma taxa de letalidade de 2,83%.

Idade avançada

“Um dos fatores [para a alta mortalidade] é que boa parte dos serviços de Saúde não afastou profissionais com idade avançada. Principalmente acima de 60 anos, e com comorbidades. Dessa maneira, eles continuam atuando na linha de frente da pandemia quando deveriam estar em serviços de retaguarda ou afastados”, afirmou o presidente do Cofen, Manoel Neri.

Segundo ele, esse foi o caso da enfermeira Maria Aparecida Duarte, 63 anos, conhecida pelos colegas como Cidinha.

Ela continuou trabalhando praticamente na porta de um pronto-socorro em Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo, apesar de ser parte do grupo de risco. Dessa forma ela acabou contraindo a doença e morreu em 3 de abril.

A morte da enfermeira levou a Justiça Federal determinar que profissionais de enfermagem do sistema público que façam parte de grupo de risco (por idade ou doença) devem ser realocados. Sobretudo para funções que não envolvam contato com pacientes de qualquer síndrome gripal.

De acordo com o presidente do Cofen, outro problema enfrentado pelos profissionais da enfermagem, é a falta de equipamentos de proteção individual, os EPI.

“Não apenas escassez quantitativa desses produtos, mas também a qualidade do material é questionável. Outra questão é o treinamento das equipes para usá-los: muitos profissionais se contaminam ou pelo uso inadequado do EPI, ou então na hora da desparamentação [retirada da máscara, luvas e avental]”, diz Neri.

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Maior taxa do mundo

O Cofen levantou dados comparativos. Para se ter ideia da gravidade do problema no Brasil, os Estados Unidos, país com maior número vítimas da pandemia (mais de 71.000), perdeu 46 profissionais de enfermagem.

A Itália, segunda nação mais afetada pela doença com mais de 29.000 vítimas, teve 35 óbitos. Esses números são de acordo com informações da Federazione Nazionale degli Ordini delle Professioni Infermieristiche. Esta entidade é equivalente ao Cofen no país europeu.

A Espanha, que vem logo atrás com mais de 25.000 mortos, teve apenas quatro óbitos entre profissionais da área, segundo o Consejo General de Enfermería. Os dois países europeus tiveram o início da crise antes que o Brasil e já passaram do pico de casos.

Os dados da China, apesar da terem a confiabilidade contestada, somam 23 até o final de abril.

Por fim, o Conselho Internacional de Enfermagem estima que “mais de 100 enfermeiros e técnicos perderam a vida pela doença enquanto trabalhavam na linha de frente”. Ou seja, o Brasil corresponde à maior fatia do total global de óbitos na profissão.

Foto: Divulgação/Semcom

 

 

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