No AM, 16 municípios recebem “cartão verde” para índice de progresso social
Estudo do Imazon, com apoio da comunidade científica e dados disponíveis dos governos, mapeou 722 municípios dos nove Estados da Amazônia Legal

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília*
Publicado em: 26/02/2022 às 09:33 | Atualizado em: 26/02/2022 às 11:06
O Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgou o Índice de Progresso Social (IPS) de 2021. Calculado com base em indicadores sociais e ambientais, o IPS médio dos 722 municípios dos nove Estados da Amazônia Legal ficou em 57,29 (em escala de 0 a 100), que representa 16 pontos abaixo do IPS médio do país, calculado em 63,29.
Fazendo o recorte no Amazonas, o IPS do estado recebeu nota de 54,96 acima da pontuação média da Amazônia (54,59) e abaixo do IPS nacional.
Desse modo, quando os dados são espraiados para os 62 municípios amazonenses, mostram que somente 16 (25%) cidades receberam “cartão verde” ou seja têm indicadores sociais e ambientais relativamente fortes.
Na outra ponta, com índices abaixo da média regional e nacional, seis (9,67%) municípios do Amazonas receberam “cartão vermelho” porque mostraram indicadores relativamente fracos.
Já na linha intermediária, com “cartão amarelo”, por terem IPS relativamente neutros, estão 40 (64,51%) municípios amazonenses com pontuação variando entre 51,00 a 55,00.
Pontos fortes
Manaus se destaca no quesito relativamente forte na maioria dos indicadores sociais e ambientais, por isso, recebeu “cartão verde”.
Com alta pontuação (65,30) – acima da média amazônica e brasileira – a capital amazonense está em 6º lugar entre os 722 municípios da região analisados e se destaca em água e saneamento básico, com nota 87,07, ficando em 3º lugar em toda a região.
É “verde” ainda em quesitos como internet, telefonia fixa e móvel, acesso à cultura e lazer e qualidade do meio ambiente
Mas, a capital do Amazonas recebe “cartão vermelho” ou seja é fraca em domicílio com iluminação adequada, assassinato de jovens, homicídios em geral, vulnerabilidade familiar e violência infantil
Os demais municípios que conquistaram IPS mais elevados (cartão verde) são:
• São Sebastião do Uatumã – 62, 43
• Urucará – 61,70
• Anori – 60,52
• Presidente Figueiredo – 59,48
• Parintins – 59,25
• Urucuributa – 58,42
• Tonantins – 58,27
• Nhamundá – 57,99
• Carauari – 57,79
• Silves – 57,47
• Santa Isabel do Rio Negro – 57,47
• Boa do Acre – 56,96
• Anamã – 56,87
• Novo Airão – 56,06
• Maués – 55,54
Linha vermelha
Com médias que variam entre 46,84 a 50,12, estão nessa lista vermelha os municípios de Envira, São Gabriel da Cachoeira, Eirunepé, Apuí, Alvarães e Japurá.
Ocupando a 761ª posição – entre os 772 municípios da Amazônia, Envira ficou com IPS de 46,84. Tem “nota vermelha” em: nutrição e cuidados médicos básicos, mortalidade infantil até 5 anos, abastecimento de água inadequado, deficiências na segurança pública, alta taxa de reprovação no ensino fundamental, desmatamento, violência contra indígenas, mulheres e crianças.
Com o segundo IPS mais baixo do Amazonas (47,23) e ocupando a 757ª posição regional, São Gabriel da Cachoeira recebeu “cartão vermelho” para: mortalidade materna, abastecimento de água, moradia, alto índice de abandono no ensino fundamental, falta de acesso à cultura e lazer, vulnerabilidade familiar e violência contra indígenas.
Coari recebe cartão amarelo
Entre os 40 municípios que estão na linha intermediária, com “cartão amarelo”, o destaque nessa região neutra vai para Coari (52,58).
Segunda cidade do estado, atrás apenas da capital Manaus, em renda per capita (R$ 23.921,54), a cidade do petróleo e do gás, dentre 45 indicadores analisados pelo Imazon, 17 têm sinal vermelho, entre eles: abastecimento de água, taxa de abono nos ensino fundamental e médio, deficiência na telefonia fixa e internet, mobilidade urbana e ao falta de acesso ao ensino superior.
Com apenas três notas verdes, Coari é forte em: qualidade na educação, telefonia móvel e tem baixo desmatamento. Os demais indicadores (25) do segundo município mais rico do Amazonas ficaram na linha amarela.
IPS dos estados amazônicos
De acordo com o levantamento, nenhum dos nove estados da Amazônia superou a média nacional do IPS. Mato Grosso (57,94), Rondônia (57,20) e Amapá (54,96) são os estados com os índices acima do IPS Amazônia 2021 (54,49), enquanto os demais estados têm índices abaixo da média.
Todos os estados da Amazônia Legal possuem IPS Amazônia 2021 piores que a média do Brasil (63,29). Mesmos aqueles com maior dinamismo econômico como Mato Grosso tiveram um IPS (57,94) inferior à média do país.
Os dois piores IPS foram Pará (52,94) e Roraima (52,37). Nenhum estado da região obteve resultado superior à média do Brasil para as dimensões necessidades humanas básicas e fundamentos para o bem-estar.
Somente para oportunidades, três estados – Pará, Mato Grosso e Rondônia – tiveram índices um pouco melhores que a média brasileira.

Melhores e piores índices
O IPS Amazônia 2021 ficou com pontuação de 54,59, apresentando ligeira redução em relação ao índice 2018 (54,64).
Entre as três dimensões do IPS Amazônia 2021, a dimensão 1 (necessidades humanas básicas) possui a melhor pontuação geral média (66,19), enquanto a dimensão 3 (oportunidades), o pior resultado (41,80).
Dos 12 componentes do IPS Amazônia 2021, a metade (água e saneamento, segurança pessoal, acesso à informação e comunicação, direitos individuais, liberdades individuais e acesso à educação superior) possui um baixo índice médio (menor que 60).
A pontuação do componente segurança pessoal na Amazônia em 2021 (56,25) demonstra que a violência se tornou um problema crônico em toda a região, o que é atestado pela alta taxa de homicídios nos municípios da região.
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Desmatamento reduz IPS ambiental
Já o componente qualidade do meio ambiente na Amazônia reduziu ligeiramente sua pontuação média em 2021 (64,66), em relação a 2018 (65,17). O aumento recente do desmatamento no período analisado para o IPS Amazônia 2021 (agosto 2018 a julho 2020) corroborou para essa piora.
Dos 772 municípios amazônicos avaliados, quase metade (49%) teve redução no IPS 2021 em comparação com 2018. Dentre os municípios que sofreram maior redução no IPS incluem-se: Ariquemes (RO), Marabá (PA), Parintins (AM), Rolim de Moura (RO), Boa Vista (RR) e Porto Velho (RO).
Cerca de 30% dos municípios tiveram aumento no IPS, como em Canaã dos Carajás (PA), Parauapebas (PA), Paragominas (PA), Ji-Paraná (RO), Santarém (PA), Belém (PA). Outros 21% dos municípios mantiveram-se estáveis.
Concepção do IPS
O IPS é composto por indicadores exclusivamente sociais e ambientais obtidos a partir de dados públicos disponíveis. Esse índice foi elaborado por acadêmicos de grandes centros de pesquisa do mundo e está sendo adotado em diversos países e territórios subnacionais, com a liderança global da Social Progress Imperative (SPI).
O IPS foi concebido a partir do entendimento de que medidas de desenvolvimento baseadas apenas em indicadores econômicos são insuficientes, já que crescimento econômico sem progresso social resulta em degradação ambiental, aumento na desigualdade, exclusão e conflitos sociais.
Série histórica dos indicadores
O IPS Amazônia 2021 foi atualizado com indicadores de série histórica até os anos mais recentes, pois com o atraso na realização do Censo 2020, que será realizado neste ano de 2022, os dados do Censo 2010 do IBGE ficaram muito defasados para serem usados em uma nova versão.
Com base nesses novos indicadores, foi possível elaborar um IPS Amazônia 2021 de modo retroativo para os anos de 2014 e 2018.
O IPS foi adaptado para a Amazônia Legal em 2014 sob liderança do Imazon, com apoio do SPI e Fundação Avina. Para medir o progresso social da região, o Imazon desenvolveu um método de adaptação do IPS da escala global (países) para a escala subnacional (municípios) e já publicou duas edições desse índice para a Amazônia Legal (2014 e 2018).
Todas as informações sobre essa iniciativa, além dos dados e resultados desagregados na escala municipal estão disponíveis em www.ipsamazonia.org.br.
Com informações do Imazon*
Foto: Clóvis Miranda/Amazonastur