Misoginia em dose dupla… Que vergonha!…
'As questões enfrentadas no confronto entre senadores e Marina, mesmo em episódio condenável, são sérias e exigem discussão profunda'. É o que diz neste artigo o jornalista Walmir de Albuquerque Barbosa

Ednilson Maciel, por Walmir de Albuquerque Barbosa*
Publicado em: 30/05/2025 às 14:21 | Atualizado em: 30/05/2025 às 14:21
A imprensa e o sistema de rádio e TV aberto e fechado estão em polvorosa. Não sabem para onde atirar, como manter a audiência e vencer a mídia da hora linkada na internet, esse campo vasto, com serviços variados, que vão dos mais honestos, para onde migram alguns jornalistas que prezam sua independência, aos mais criminosos, sem lei, sem ética, sem compromissos com a verdade, mesmo aquela chamada “verdade jornalística” que se diz imparcial, mas movida à propaganda e marketing do setor privado da economia e dos lobbies que disputam privilégios, consciência, fé e ideologias.
O jornalismo está à procura de um outro nome, de uma outra definição que não sabemos qual será.
Fato é que os meios de difusão da informação, da indústria da notícia e da opinião nem sempre são os “lugares de fala” dos que guardam compromisso com a verdade.
Poucos caem na exceção, outros no exagero das fake news, outros na tragicomédia diversional da notícia ou, ainda, na vala comum da barbárie humana: da violência, da grosseria, da covardia e da misoginia, capazes de alimentar os ódios destrutivos da convivência social e pessoal.
Os casos Dilma, Janja e Marina tratando de injúria às mulheres são exemplares na mídia: um “jornalista” diz que “Dilma só foi presidenta da República porque era mulher de Lula” e as colegas de trabalho na telinha, as mesmas que massacraram Janja no caso TikTok, ao lado do jornalista infrator, nada disseram, mas foram as mesmas que abriram o “espaço generoso” para Marina Silva defender-se do assédio moral sofrido numa comissão do Senado.
Usando a hipocrisia, a mídia fortalece o crime contra mulheres.
Ao fazermos uma análise de conteúdo do que flui nas telinhas, identificaremos a hipocrisia de políticos, de jornalistas e outros.
Os machistas, misóginos, grosseiros, estúpidos e portadores de outros qualificativos que se lhes queiram imputar e verdadeiramente lhes caibam na carapuça estão em toda parte.
Só que os que estão no Senado da República nos representam; fomos nós que os colocamos lá, não esqueçamos disso!
Na terça-feira, foram os do Norte. Nos outros dias da semana, os de outras regiões.
Emprestamos, portanto, o ectoplasma a esses espíritos malvados e bárbaros que habitam o poder Legislativo da República, onde todo dia armam confusão e alguns arruaceiros contumazes traem os propósitos do exercício do mandato.
Da mesma forma, desvalorizamos o nosso voto esquecendo em quem votamos na última eleição para alimentar as cotas partidárias do “fundo eleitoral”, do “coeficiente eleitoral”, das “sobras de voto das coligações” que levam ao parlamento até malfeitores na “sobra individual de votos” dos que votamos ao acreditar no seu “papo reto”.
Mas, não é só isso!
O que ocorreu sob a cúpula do Senado Federal, projetada por Niemeyer virada para baixo para abrigar o plenário, simbolizando um ambiente sério, circunspecto, todo em azul, não é fortuito. É o mesmo espaço projetado sem nenhum banheiro destinado às possíveis senadoras eleitas.
Foi a Senadora Eunice Michiles (1979-1987), representante do estado do Amazonas, a primeira mulher brasileira a chegar ao Senado da República pelo voto, do mesmo estado dos hoje senadores envolvidos no tumulto da Comissão de Infraestrutura, que se recusou a usar o banheiro masculino e levantou a voz contra o arquiteto famoso que reproduziu, por osmose ou convicção (não se sabe), o machismo brasileiro, que pensava e ainda pensa que a política não é espaço a ser ocupado por mulheres.
Agora não é mais banheiro, é linchamento moral mesmo!
Tudo seria diferente na oitiva de Marina Silva não fosse:
- – o machismo sectário e vil do presidente da comissão Marcos Rogério, à qual a ministra compareceu como convidada;
- – a descortesia verbal de Omar Aziz;
- – a manifestação misógina, em tom de ameaça pública, na fala de Plínio Valério;
- – a ausência das lideranças do governo em apoio à ministra; e
- – o desprezo cínico dos demais parlamentares pelos assuntos em discussão que dizem respeito aos povos da Amazônia, impedidos de decidirem seu destino social e econômico.
As questões enfrentadas no confronto entre senadores e Marina, mesmo em episódio condenável, são sérias e exigem discussão profunda.
Pois, adversários nossos querem suprimir as políticas desenvolvimentistas, corretas ou não, para a Amazônia e nos obrigar a “catar coquinho” para a indústria de perfumaria do Sudeste, eternamente!
*O autor é jornalista profissional.
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado