Minha oração para Bolsonaro é diferente
"Senhor, intercedo a ti para pedir que haja justiça no Brasil. Bolsonaro passou quatro anos fomentando golpe de Estado, pregando o ódio, mentiu sobre as urnas. Senhor, Bolsonaro profanou a tua casa de oração, transformando-a em comitê eleitoral, cooptando pastores… ". Leia Aldenor Ferreira no BNC Amazonas

Ednilson Maciel, por Aldenor Ferreira*
Publicado em: 05/04/2025 às 02:56 | Atualizado em: 05/04/2025 às 09:55
Semana passada, diante da eminente aceitação da denúncia contra Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhada pela Procuradoria Geral da República (PGR), a senadora Damares Alves protagonizou uma emocionada oração em defesa de seu de “mito”.
Ao observar aquela cena patética na TV, pensei: como é importante a manutenção do Estado laico, coisa que o grupo político da senadora busca a todo custo acabar. O Estado laico e democrático é o único que garante a qualquer pessoa a liberdade de culto e de livre manifestação de pensamento.
Nesse sentido, aproveito que o golpe não deu certo e que o Estado Democrático de Direito permanece em pé, fato que me garante a liberdade de culto e de expressão, para compartilhar com o(a) leitor(a) a minha oração. Ressalto que essa oração é para o mesmo Deus, mas é totalmente diferente da que foi realizada pela senadora Damares Alves. Ei-la.
Senhor,
Intercedo a ti não para pedir vingança, pois isso não cabe a mim, mas intercedo para pedir que haja justiça no Brasil.
Senhor, o ex-presidente Bolsonaro passou quatro anos fomentando golpe de Estado, atentando contra as instituições, pregando o ódio e solapando as bases do Estado Democrático.
Senhor, Bolsonaro mentiu sobre as urnas eletrônicas, não apresentou nenhuma prova de que elas eram fraudadas. Todavia, Senhor, com isso, ele desestabilizou todo o processo eleitoral brasileiro, reconhecido mundialmente como um processo seguro e eficiente.
Senhor, Bolsonaro afirma que não houve corrupção em seu governo, mas, como o Senhor sabe, houve bastante, inclusive teve um ministro preso por corrupção, paradoxalmente, um ministro evangélico, meu pai.
Foi no governo dele que se deu a maior apreensão de madeira ilegal da história do nosso país e foi também nesse governo que se encontrou cocaína no avião presidencial. Além disso, há suspeitas de superfaturamento na compra de vacina, a tal Covaxin. Só para citar alguns casos, dentre muitos. Bem, Senhor, tu sabes de todas as coisas.
Senhor, Bolsonaro profanou a tua casa de oração, transformando-a em comitê eleitoral, cooptando pastores inescrupulosos para juntos mentirem sobre o processo eleitoral, sobre a Suprema Corte brasileira e sobre os seus adversários políticos. Toda sorte de mentiras foi proferida e sei que tu não apoias a mentira. Sei também, como tu ensinas em teu livro, que o pai da mentira é o Diabo.
Vítimas da covid-19
Senhor, Bolsonaro debochou das vítimas da covid-19, negligenciou a compra de vacinas, foi autoritário e manteve uma postura contra a ciência, perseguiu pesquisadores e sabotou instituições que se dedicavam ao estudo do vírus Sars-cov-2. Meu pai, a negligência criminosa desse homem contribuiu para a morte de mais de 700 mil pessoas, todas ceifadas por essa terrível doença. O nosso país ficou em segundo lugar no número de mortos em todo o mundo.
Senhor, também trago diante de ti toda a trama golpista feita com oficiais de alta patente. Eles planejavam assassinar, de forma cruel e covarde, o presidente eleito pelo povo brasileiro de maneira livre, seu vice e, também, um ministro da Suprema Corte.
Nesse ambiente de ódio e tensão, estimulado cotidianamente pelo ex-presidente, um clima de terrorismo tomou conta do nosso país, com pessoas se explodindo em praça pública e assassinando covardemente desafetos políticos em festa de aniversário.
Conclusão
Portanto, Senhor, sei que a condenação do ex-presidente Bolsonaro não irá desfazer todo o mal que ele estimulou e praticou. Entretanto, esse homem precisa ser punido pelos crimes que cometeu. É uma questão de justiça, Senhor. E eu sei que tu és o Deus do amor e da justiça! Então, rogo-te, oh Senhor, faça a justiça!
Amém!
*O autor é sociólogo.
Arte: Gilmal