Menos pior uma ova!
"O Pior não pode ser uma alternativa a ser oferecida a ninguém, seja em menor ou maior intensidade", afirma o sociólogo Lúcio Carril | Leia o artigo

Ednilson Maciel, por Lúcio Carril*
Publicado em: 14/10/2024 às 16:06 | Atualizado em: 14/10/2024 às 16:07
Tenho feito um exercício intelectual enorme para tentar entender essa história de “votar no menos pior”.
Percorri os velhos clássicos positivistas e nada encontrei sobre essa pseudo estratégia do “menos pior” na política. Nem mesmo uma referência de Rosseau sobre isso, já que ele não acreditava numa moral objetiva.
Ora, de onde essa minha gente da esquerda tirou a ideia nefasta e amoral de “voto no menos pior” dentro de uma democracia representantiva?
Não existe respaldo político, ético, moral ou ideológico nesse recurso esdrúxulo de indicar apoio àquilo que o próprio indivíduo classifica como Pior.
No campo da esquerda, trata-se de uma excrescência política, indicadora de fragilidade ideológica e de uma desonestidade sem tamanho com a classe trabalhadora, força motora da transformação social.
Ninguém que defenda uma sociedade fundada na solidariedade, na fraternidade e nos bons valores coletivos da sociedade pode indicar o “pior” para o outro como alternativa de governo ou de poder.
Isso seria a disseminação da desesperança e a reafirmação de tudo que é condenável na política.
Na democracia, o direito da oferta da esperança é garantido ao cidadão e à cidadã. Se você perdeu uma eleição, não é obrigado a aderir àquilo que sempre condenou e combateu. Se o fizer, estará não somente se traindo, mas criando um sentimento de derrota em quem confiou no seu projeto.
O Pior não pode ser uma alternativa a ser oferecida a ninguém, seja em menor ou maior intensidade. O Pior sempre será ruim e nunca o ofereça ao outro, se não tiver a intenção de lhe fazer mal ou de fazer mal a uma cidade e a um povo.
No regime democrático todo indivíduo que não teve seu projeto contemplado num segundo turno eleitoral tem o direito de continuar defendendo suas utopias, sem que tenha que aderir a tudo que sempre disse que não prestava.
Então, meu nobre camarada e minha querida camarada, se mantenha firme na luta e não faça adesão ao Pior, seja ele menos ou mais. Diga à sua gente que o Melhor existe e que ele um dia receberá o abraço da maioria e se tornará esperança e alegria.
*O autor é sociólogo.
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil