Mário e Arlindo: os “Guerreiros da Juta”
Neste artigo, o autor homenageia dois personagens importantes na história da juta e da malva. Um com 103 e o outro com 85 anos

Neuton Correa, por Aldenor Ferreira*
Publicado em: 01/06/2024 às 02:05 | Atualizado em: 01/06/2024 às 02:05
O texto de hoje é uma singela homenagem a dois personagens importantíssimos para a economia da Amazônia e do Brasil, merecidamente declarados como os “Guerreiros da Juta”.
Com muita reverência, escrevo sobre Mário Expedito Neves Guerreiro, hoje com 103 anos de idade, e Arlindo de Oliveira Leão, com 85 anos. Estes dois homens dedicaram suas vidas à cultura da juta e da malva nos estados Amazonas e Pará.
É importante registrar que, muito antes das indústrias eletroeletrônicas aportarem em “terras Baré” com o advento da Zona Franca de Manaus (ZFM) – hoje Polo Industrial de Manaus (PIM) –, a indústria de aniagem já havia se estabelecido no Amazonas e no Pará.
Mário Guerreiro
Mário Guerreiro teve uma participação fundamental nesse processo, especialmente, a partir da inauguração da lendária fábrica Brasiljuta na década de 1950. Sem dúvida, essa fábrica foi um marco na industrialização de Manaus. Instalada no bairro Educandos, zona Sul de Manaus, a fábrica funcionava em três turnos. Ali, processa 15 mil toneladas anuais e empregando cerca de dois mil funcionários.
Contudo, Mário não atuou apenas na indústria, mas também na parte agrícola, incentivando os produtores, promovendo estudos e pesquisas e distribuindo sementes. Neste contexto, é justo dizer que ele teve participação direta na organização de toda a cadeia produtiva das fibras no Amazonas após a saída dos imigrantes japoneses. Estes, os japoneses, foram os precursores desta atividade na região.
Guerreiro, juntamente com o Instituto de Fomento à Produção de Fibras Vegetais da Amazônia (IFIBRAM), criado em 1974 por 27 indústrias brasileiras que atuavam no ramo de aniagem no Brasil, entre elas a Brasiljuta e a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), esta última criada em 1973, foram responsáveis por criar um quadro econômico inédito no Amazonas: um complexo agroindustrial de juta e malva.
A partir disso, a produção de juta e malva nas várzeas amazônicas ampliou-se ainda mais, dinamizando a economia de vários municípios amazonenses e paraenses. Este ano, ao completar 50 anos de existência, o IFIBRAM é mantido apenas pela Companhia Têxtil de Castanhal, com sede no município de Castanhal, no Pará.
Em 1971, Mário Guerreiro foi um dos responsáveis diretos pela introdução da malva nas várzeas amazonenses. Esta planta, como definiu o doutor Alfredo Homma, é a “sósia perfeita da juta”. Ela passou a ser cultivada nas várzeas (inicialmente nas partes altas) do estado do Amazonas por iniciativa pioneira da empresa Brasiljuta, em Manacapuru, assinalando assim um novo rumo para o desenvolvimento desta atividade.
Arlindo Leão
É neste momento que outro guerreiro entra em cena: Arlindo Leão. A história da malva no Amazonas e no Pará se confunde com este nome. A especialização do estado do Pará na produção de sementes de malva que são enviadas anualmente ao Amazonas, maior produtor de fibra, tem o “DNA” de Arlindo. Poucas pessoas fizeram tanto por este setor quanto ele. Ele é, sem dúvida, um incansável sonhador, como eu.
Em 1977, na segunda diretoria do IFIBRAM, sob o comando de Mário Guerreiro, Arlindo Leão passou a fazer parte da equipe da Secretaria Executiva do Instituto. Esta posição ele ocupa até o momento. Com ele à frente desta Secretaria, o Instituto atuou em diversas frentes de trabalho para dar à cadeia produtiva das fibras vegetais na Amazônia tudo o que era necessário para seu pleno desenvolvimento.
Em todas as suas atividades, seja na orientação da produção de sementes, buscando parcerias em pesquisas para o melhoramento genético da juta e da malva, para a descorticação mecânica destas plantas ou, ainda, lutando para a criação da Câmara Setorial de juta e malva no estado do Pará, pode-se dizer que Arlindo sempre atuou de maneira responsável e republicana. Sempre visou o engrandecimento da Amazônia.
À guisa de exemplo, no campo da mecanização o Instituto estabeleceu vários convênios. Assim, podemos citar órgãos como o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Úmido (CPATU), a Universidade de Taubaté e outras empresas particulares de desenvolvimento de tecnologias.
Conclusão
Certamente, a história da juta e da malva na Amazônia é o resultado do esforço de muitas pessoas, de diferentes lugares e em diversos momentos. Mário e Arlindo fazem parte de uma longa lista de personagens importantes, cujo espaço aqui não permite que eu cite todos.
Como dito, a proposta deste texto foi fazer uma pequena homenagem a estes dois personagens. Eles deram enormes contribuições para o desenvolvimento da agroindústria da juta e da malva na Amazônia.
Muito mais poderia se pode escrever sobre eles. Com efeito, o importante é que eles já estão eternizados na história econômica da Amazônia e, em vida, poderão ler esta singela homenagem.
*O autor é sociólogo
Arte: Gilmal