Marçal e a imprensa burguesa
Pablo Marçal e a imprensa burguesa golpista foram os grandes vitoriosos das eleições municipais em São Paulo

Neuton Correa, Aldenor Ferreira Sociólogo
Publicado em: 12/10/2024 às 04:00 | Atualizado em: 13/10/2024 às 15:49
Pablo Marçal e a imprensa burguesa golpista foram os grandes vitoriosos das eleições municipais em São Paulo. Da mesma forma que fez com Bolsonaro, em 2018, este ano a imprensa potencializou a candidatura do coach para a prefeitura da maior cidade da América Latina.
O PIG – Partido da Imprensa Golpista, formado pelos grandes veículos de comunicação do país, verdadeiros conglomerados midiáticos, trabalha na mesma lógica dos criadores e divulgadores de fake news. Ou seja, likes, comentários, compartilhamentos são engajamentos necessários. Isso faz com que a audiência cresça e, consequentemente, o patrocínio também.
O PIG não tem compromisso nenhum com a democracia e com a lisura do processo eleitoral. A meta é ganhar dinheiro. Mesmo que para isso seja necessário trazer para os debates um condenado da justiça. Nesse sentido, fizeram questão de convidar o coach para todos os debates única e exclusivamente para dar audiência a partir dos impropérios proferidos por ele.
Convite
Marçal foi convidado apenas por ser um causador de polêmicas. A imprensa mirou na audiência e deixou a legislação de lado, mas, se quisessem, estavam amparados legalmente para não o chamar.
A Lei nº 9.504/1997, conhecida como a lei eleitoral, estabelece normas para as eleições. Há também a Resolução nº 23.610 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que trata da propaganda eleitoral. Marçal e seu partido, o PRTB, não atendem aos requisitos estabelecidos nem na lei nem na resolução.
Ademais, conforme o site do Senado Federal, dos 28 partidos com registro apto, apenas 12 partidos e federações que disputaram as eleições em 2022 conseguiram alcançar a cláusula de desempenho fixada pela Emenda Constitucional 97, de 2017. O PRTB de Marçal não é um deles.
Por fim, o PRTB não tem o mínimo de cinco deputados federais exigidos pela Resolução nº 23.610 do TSE para participar dos debates. Ou seja, Marçal foi convidado por livre e espontânea vontade dos organizadores dos debates. E, pior, não foi desconvidado mesmo depois de ter incitado ações de violência o tempo todo nos debates. O motivo? Audiência, likes e grana.
Pesos e medidas
O PIG usa pesos e medidas diferentes quando o assunto é debate eleitoral. Isso ocorre há muito tempo. Sempre tem algum(a) candidato(a) de menor expressão e sem chance de vitória nos debates, mas desde que ele(a) seja de direita.
O critério do convite nunca é estendido para candidatos de esquerda ou comunistas. O leitor deve se lembrar de que um “padre de festa junina” participou dos debates eleitorais para a presidência da República em 2022. Antes dele, outros inexpressivos já participaram. Ele, sim, mas Léo Péricles (UP), Sofia Manzano (PCB) e Vera Lúcia (PSTU), não. Para esses últimos, aplica-se o rigor da lei.
A imprensa brasileira, salvo as exceções, não é séria nem republicana. Também não é democrática. São capitalistas selvagens, predadores da nação e traidores da pátria. São capazes de ajudar a derrubar uma mulher legitimamente eleita pelo povo, fazer nascer e dar guarida a um genocida e a um estelionatário. Tudo em nome do dinheiro.
Conclusão
Legalmente, os veículos de imprensa estavam amparados e poderiam ter deixado Pablo Marçal de fora dos debates. Apenas o critério da liberdade do convite lhe garantiu participação em todos, critério este que há 35 anos se negam aos candidatos de esquerda e aos comunistas em praticamente todas as eleições em nosso país.
De forma inteligente, Marçal utilizou os debates e transformou esses espaços em seu horário eleitoral, visto que ele não tinha tempo de TV. Usando a velha tática do “fale bem ou fale mal, mas fale de mim”, ele cresceu e por pouco não chegou ao segundo turno das eleições paulistanas.
Portanto, venceram os dois: Pablo Marçal e a imprensa burguesa golpista. Perdeu a democracia e o estado de São Paulo. Ambos engordaram suas contas bancárias a partir da propagação de desinformação ao povo. Alguém duvida que, em 2026, nas eleições presidenciais, isso tudo vá se repetir?
Arte: Gilmal