Uma grande loucura tribal

Uma grande loucura tribal marcou a festa da cunhã no largo São Sebastião, em Manaus, em homenagem a Isabelle Nogueira, participante do BBB-24.

Uma grande loucura tribal

Diamantino Junior

Publicado em: 17/04/2024 às 15:03 | Atualizado em: 17/04/2024 às 15:03

Por Dassuem Nogueira*

Foi preparada uma superestrutura para a festa em celebração da participação de Isabelle Nogueira no BBB-24 (Big Brother Brasil).

A transmissão da grande final do reality contou com dois telões, policiamento reforçado, controle do trânsito, ambulâncias e um palco com os levantadores oficiais e os bois azul e vermelho.

O Teatro Amazonas, símbolo da cidade de Manaus, esteve com iluminação especial que se revezava entre o vermelho e o vermelho e azul, as cores de Garantido e Caprichoso.

Os bois de Parintins, uma festa nascida nos terreiros afroindígenas daquela ilha, reinaram absolutos sobre o símbolo da cultura erudita do Amazonas.

A cunhã-poranga do boi Garantido não levou o prêmio máximo. O fato já era esperado pelos espectadores que acompanharam as enquetes de intenções de votos nas redes sociais.

O público compareceu para dar o recado para o Brasil de que o amor de Isabelle pela cultura de seu povo, ressaltado pela edição da final, é grandiosamente correspondido. Como diz nossa cunhã, foi “uma grande loucura tribal”.

Galera em dose dupla

A despeito do som dos telões em volume baixíssimo para o grande público que reuniu, a sensação geral era um mix de ser plateia de um programa de auditório e defender o item galera no festival.

Quando os apresentadores no palco anunciavam “Atenção galera! Vamos já entrar ao vivo, preparem as bandeiras”, o silêncio dos que se esforçavam para ouvir, dava lugar aos sons das movimentações das bandeiras, gritos e aplausos.

As duas galeras, dessa vez, juntas e misturadas, tal como é no bumbódromo em Parintins, deram um show à parte.

A festa da cunhã em Manaus virou o assunto mais comentado no twitter.

 Certamente, foi a mais bela e grandiosa dentre as dos finalistas.

O Brasil ainda se surpreende com o tamanho de Manaus e desconhece a força da cultura popular dos bois de Parintins.

A imagem consolidada do norte para o país ainda é o pitoresco, vazio de gentes e cultura.

Isso a globo não mostra     

O que o Brasil não viu pela tela da Rede Globo foi o ranço manifestado toda vez que o ex-participante Rodriguinho aparecia.

O pagodeiro fez chacota dos bois e da dança da cunhã.

Quando ele aparecia, o público fazia o que está consolidado no senso comum como o som de indígenas em sinal de guerra: pronunciavam, prolongadamente, a vogal “uuuu” dando tapinhas na boca.

Interessantemente, quando Davi aparecia, o público revezava-se entre o silêncio e a vaia.

O silêncio do respeito ao adversário, como é nas apresentações no Bumbódromo de Parintins.

E a vaia por uma porção de sua torcida que, injustamente, difamou e se opôs à cunhã, que não fez outra coisa a não ser sua amiga.

O feitiço da flechada

O momento mais aguardado pela plateia não era o resultado. Mas, a reação da cunhã-poranga ao saber do imenso carinho por tudo que representa para o grande país das Amazonas.

A participação ao vivo do público funcionou como uma chamada ao vivo. Isabelle se exasperava de lá e a torcida de cá, comunicando entre si um sentimento inominável.

Como se pudessem se comunicar instantaneamente com Isabelle, toda vez que era mostrado ela soltando sua flecha, parte do público levantava um arco imaginário e devolvia outra em direção ao telão.

O simbolismo da flecha é de guerra para os povos indígenas, mas também é de feitiço de amor e de cura para os pajés. Isabelle representa tudo isso para o seu povo.

*A autora é antropóloga.

Fotos: Dassuem Nogueira/BNC Amazonas