Isa, a bela, e sua flecha

Isabelle Nogueira, representante do boi-bumbá Garantido, trouxe para o Big Brother Brasil a cultura e o sotaque do Amazonas.

Ganhando ou não BBB, Isabelle vai estar no bumbódromo, diz Fred Góes

Diamantino Junior, por Dassuem Nogueira*

Publicado em: 10/04/2024 às 22:35 | Atualizado em: 11/04/2024 às 00:31

Tal como um sinal atípico das mudanças climáticas, a entrada de Isabelle Nogueira, cunhã-poranga do boi-bumbá Garantido, em 8 de janeiro deste ano no Big Brother Brasil (BBB), adiantou em três meses o início da acalorada estação bovina no Amazonas.

Não era segredo para quem acompanha Isabelle por meio de suas redes sociais que um de seus grandes sonhos era participar do reality da TV Globo.

E que não esperou sentada por sua chance.

Por dez anos, Isabelle se inscreveu sem ser chamada para o programa.

Mas, enquanto isso, ela participou de outros concursos e realitys, como o Peladão a bordo da TV A Crítica, do qual foi campeã em 2018.

Além disso, o que é a competição entre os bois bumbás se não um grande espetáculo com julgamento do público e dos jurados, que começa bem antes das apresentações?

Isabelle levou nosso sotaque – não o manauara, mas o interiorano, do baixo rio Amazonas – para um público que jamais ouvira outro sotaque nortista que não fosse o paraense “de novela” com expressões como o “égua” mal colocados.

Isa, a bela, toada do consagrado Paulinho Du Sagrado, tocou diversas vezes em rede nacional para que a cunhã poranga do boi Garantido executasse a sua dança, pintasse o seu rosto e, como um pajé a jogar um feitiço, lançasse a flecha da cultura do boi-bumbá de Parintins para o outro lado de muitas telas.

A despeito de sua postura antijogo, do desempenho sofrível em todas as provas do programa, e das diversas acusações que pesaram sobre ela na internet, Isabelle conseguiu manter-se como uma figura estável e confiável, características às quais a propaganda e o marketing procuram para agregar valor às marcas e produtos.

 E isso para dizer o mínimo diante dos muitos caminhos que se abrem para ela em um futuro próximo após o confinamento.

Para nós, amazonenses, nortistas e torcedores de Garantido e Caprichoso, o boi já está dançando no terreiro.

 Orgulha-nos que o Festival Folclórico de Parintins esteja novamente em evidência nacional, como se uma frente de calor saída da Amazônia estivesse sendo sentida em outras paisagens.

Prestes a encerrar os seus 100 dias de duração e com Isabelle no top 5 do programa, o saldo para a cunhã é de vitória coletiva.

 Ainda que não leve o título, que deverá ficar com o seu amigo Davi, a sua participação é ao contrário de uma frase icônica: “ninguém vai perder, todo mundo vai ganhar”.

A amizade de Isabelle e Davi, aliás, começou porque os dois, inicialmente, foram enjeitados pelos demais membros da casa.

Davi, por ser um homem negro da periferia. Combativo, não nos termos da militância antiracista, mas pela postura de não se submeter ao lugar do homem cordial.

E Isabelle por ostentar a cultura popular de um outro tipo de periferia do mundo: a Amazônia.

A “ministra da cultura do Amazonas” falou o quanto pôde de boi-bumbá e de sua região, sem que a maioria na casa do BBB entendesse a dimensão da festa e a ponto de seu engajamento parecer forçado aos demais.

Afinal, quem entende de boi-bumbá nesse país somos nós, amazonenses, e dentre nós, os parintinenses.

Nós, e somente nós, nesse grande irmão Brasil vibramos cada vez que Isabelle coloca em tela nacional a nossa festa.

Isabelle sabe o que representa, tanto que jamais destratou o seu contrário, o boi azul e branco.

Assim como, do lado de fora, as agremiações, Garantido e Caprichoso, se engajam em sua permanência no programa.       

Isabelle Nogueira está no penúltimo paredão do BBB 24, mas dificilmente será eliminada. Deverá estar na final de uma grande edição.

A sua imagem como cunhã poranga do boi Garantido será repercutida ainda muitas vezes. E por muito tempo lançará muitas flechas a nos levar por aí.

*A autora é antropóloga.

Foto: reprodução/Instagram