Hegel: resiliência e lições de tutoria

O Hegel sempre foi o líder carismático, até mesmo dos cachorros

Hegel: resiliência e lições de tutoria

Neuton Correa, Aldenor Ferreira* Luciana Ferreira**

Publicado em: 02/11/2024 às 00:01 | Atualizado em: 02/11/2024 às 06:22

Hegel é um dos nossos sete gatinhos. Seu nome é uma homenagem a Georg Wilhelm Friedrich Hegel, um dos maiores nomes da filosofia do Ocidente. O nosso Hegel foi resgatado da Feira do Coroado, Zona Leste de Manaus. O objetivo era que ele fizesse companhia à Hannah Arendt, nossa primeira felina. 

Em uma noite quente de agosto de 2009, ao circularmos pela feira, avistamos um gatinho filhote, branco, magro e mancando. Nesse dia, o ambiente da feira estava calmo, com pouco movimento. Ele andava pelos boxes em busca de alguma comida. Foi amor à primeira vista. Contudo, ao colocarmos ele no carro, verificamos de imediato uma protuberância em sua coxa esquerda. 

Ao chegarmos em casa, a “mãe doutora”, Luciana, em uma análise clínica, identificou uma hérnia inguinal. Tratava-se de um quadro gravíssimo, o que levou a doutora a declarar: “isto não é qualquer hérnia. Não é um gato com uma hérnia, mas uma hérnia com um gato”. Provavelmente, o trauma foi resultado do chute de alguém com grande covardia. 

Hegel foi levado para casa e no dia seguinte foi hospitalizado e operado. Todavia, mesmo com auxílio de telas e técnicas mais avançadas, ocorreu uma recidiva da hérnia. Ele ficou com um enorme rasgo na perna esquerda, teve que suportar a cicatrização vir de dentro para fora. Esse processo levou bastante tempo. Com isso, a maratona de idas e vindas para a clínica se fazia necessária. Aliás, foi em uma dessas idas que ele foi castrado. 

Do Coroado para o Brasil 

Hegel nos acompanha há 15 anos. Mudamos-nos para Campinas, depois para Jaboticabal, interior de São Paulo. Em 2016, fomos para Naviraí, sul do Mato Grosso do Sul. E agora estamos novamente no interior de São Paulo. 

Líder carismático

Nestas andanças, nossa família felina e canina foi crescendo. Contudo, o Hegel sempre foi o líder carismático, até mesmo dos cachorros. Ele é uma espécie de Boss. Sabe abrir portas pulando com destreza na maçaneta, não come qualquer comida. Hegel adora alface, iogurte, enfim, nada lembra o gato maltratado da Feira do Coroado. Ele soube como ninguém se adaptar à riqueza e ao bem-estar. 

Hegel era para ter morrido já algum tempo. Após o trauma da hérnia, teve várias doenças, mas graças ao cuidado e à dedicação que dispensamos a ele, bem como aos nossos outros pets, ele entra na fase senil gozando de boa saúde, mas com muitas manias. Seu comportamento nos ensina muitas coisas, dentre elas, a de que idosos possuem manias e precisam de cuidados especiais. 

Responsabilidade na tutoria 

Os 15 anos do Hegel nos fizeram refletir sobre a responsabilidade que temos que ter com os pets. Tal responsabilidade, certamente, precisa garantir o bem-estar físico, emocional e social deles. Assim como os humanos, os outros animais são dotados de volição, ou seja, possuem personalidade e vontade.  

Os animais também possuem necessidades especiais. Eles ficam alegres, tristes, deprimidos, obesos ou magros, estressados. Enfim, são seres vivos que sofrem todas as influências do ambiente externo e do meio social no qual estão inseridos. O Hegel, por exemplo, como bom manauara, sofre muito com o frio do interior de São Paulo. 

Portanto, o cuidado da parte dos tutores deve incluir o fornecimento de alimentação adequada, água fresca e limpa, abrigo confortável e atendimento veterinário regular. As necessidades de socialização, exercícios, estímulo mental e carinho são muito importantes também.

Conclusão 

Possuir um pet não é tarefa fácil. É como criar um(a) filho(a) humano(a). No nosso caso, são dez! (sete gatos e três cachorros). Nesse âmbito, é preciso disponibilizar tempo para eles, bem como arcar com os custos necessários que eles demandarão ao longo de sua vida. 

Além disso, o tutor precisa estar munido de todas as informações concernentes às características específicas da raça ou da espécie, para que possa proporcionar um ambiente e cuidados compatíveis com as necessidades do seu animal. A dedicação e o cuidado podem variar de alguns anos a várias décadas, dependendo da espécie. 

Portanto, adotar ou comprar um pet deve ser uma decisão informada e consciente, pois o abandono dos animais depois de alguns anos de convivência com os tutores é uma sentença de morte para eles. 

O Hegel, no alto de seus 15 anos, caminha para a velhice e tudo aquilo de positivo e negativo que a velhice traz. Contudo, jamais o abandonaremos. Estaremos com ele até o fim. Este foi o nosso pacto. 

*Sociólogo

**Veterinária

Arte: Gilmal