‘Olha pro céu, meu amor’

Autoridades viajam a Israel em clima de festa junina em plena guerra, ignorando alertas e realidades brasileiras.

Social Midia

Publicado em: 20/06/2025 às 15:06 | Atualizado em: 20/06/2025 às 15:10

Por Walmir de Albuquerque Barbosa*

“Olha pro céu meu amor/ Vê como ele está lindo/Olha pra aquele balão multicor/Como no céu vai sumindo”, canção de Luiz Gonzaga e marca registrada dos festejos juninos em todo Brasil.

E tudo seria muito bom se o espetáculo não tivesse se transformado numa briga de “busca-pé” quando animador da quadrilha gritou para os presentes:

“Olha a guerra aí, minha gente”!. “Não é a cobra, é um míssil!”. “Todos para o bunker!”.

Mesmo assim, não caiu a ficha das autoridades brasileiras que chegaram à Israel um dia antes do Início da guerra com o Irã, com o sagrado objetivo de conhecer uma miríade de tecnologias que resolveriam os problemas de segurança no país e, de quebra, se possível, subiriam ao cume de um dos montes bíblicos espalhados pela Terra Santa, sob a inspiração dos patrocinadores, para consultar o oráculo sobre as chances de seus partidos nas próximas eleições.

Caíram do camelo e no velho truque dos países que gostam de ganhar adeptos de sua ideologia com a lavagem cerebral ou, como hoje se chama, “soft power”.

            Assim, uma caravana de bacanas ou, se quiserem, deem outro nome que faça rima, prefeitos, secretários e governadores, para esquecerem as agruras administrativas de suas cidades ou estados, em convescote, (ainda não se sabe se com diárias ou ajuda de custos, porque ainda não houve prestação de contas), conheceriam diretamente dos fornecedores das mais sofisticadas aparelhagens de segurança pública, aquelas que, num piscar de olhos, descobrem até quem é o ladrão, quem está traindo quem, quem desviou a emenda parlamentar prometida. Milagrosos aparelhos que a espionagem israelense pode oferecer!

 Parece que foram avisados que na tal feira, por questões culturais de um “país desenvolvido”, tais aparelhos em amostra não detectam “esgoto a céu aberto”, “lixões sem aterro sanitário”, “queimadas” e “garimpo ilegal”, porque os idealizadores de tais aparelhos, de última geração (geração Y e Z), nunca viveram ou conheceram um gueto, uma favela ou aquelas encostas que deslizam nas tempestades. Mas, fazem o reconhecimento facial perfeito de “marginais”, sobretudo se apresentarem certos traços raciais “indesejáveis”.

E aí mora o perigo.

Segundo a apuração de bastidores da “blogueira do meio-dia”, que roubou o “Espelho cristalino que a baiana mandou de Maceió para o Alceu Valença”, nenhuma das autoridades presentes quis ser a cobaia nas demonstrações.

Um convidado, mais atrevido e sem noção, propôs ir a Jerusalém e pedir ao Herodes para lhes fornecer um “condenado” para a experiência in loco.

            Não adiantou nada o Itamaraty avisar e recomendar que ninguém viajasse para aquelas bandas onde o “morticínio de inocentes” anda solto.

No entanto, o amor à pátria, à boa governança e para o bem da família brasileira, compensa correr qualquer risco.

E lá se foram: uma brigada de foliões imbuídos em agrados aos patrocinadores encenando uma festa junina.

 Pensaram em levar o “padre de festa junina”, o “sanfoneiro”, , alguns cantores sertanejos que não chegaram a tempo para a “festa da Selma”; levariam, ainda, umas toras de madeiras nobres para acenderem no local onde seria dançada a quadrilha, mas terminaram desistindo por falta de planejamento e outros “perrengues”.

O padre está metido em mais um rolo com o sumiço do dízimo, o sanfoneiro ficou enrolado com uns problemas de visto e o “pessoal da área ambiental”, como sempre, desconfiou da ideia “maluca” de levar tanta madeira para fazer a maior fogueira do Oriente Médio  à beira do Mediterrâneo  a troco de quê?

 Daqueles aparelhinhos que já haviam sido comprados pela Abin e agora estão gerando problema para todo o staff que os utilizou na bisbilhotagem da vida alheia em tempos passados?

Os cantores tinham que cumprir o contrato em Caruaru, mas, para não quebrar a solidariedade com amigos de fé, chegariam no dia da festa, em voo particular no jatinho de um “parça”, mais ficaram mesmo foi nas “arábias”, pois o espaço aéreo já estava fechado.

            Espera-se de dirigentes públicos mais cuidado com tais convites e, na solidão do bunker, próximos ao genocídio, aprendam o óbvio:

“As aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá!”.

*O autor é jornalista profissional.

Foto: reprodução