O Garantido está diferente

Primeiro ensaio técnico do Garantido revela mudanças, foco na emoção e organização aprimorada.

Diamantino Junior

Publicado em: 19/06/2024 às 16:10 | Atualizado em: 19/06/2024 às 16:10

Por Dassuem Nogueira*

Aconteceu na noite deste dia 18 de junho o primeiro ensaio técnico do boi-bumbá Garantido. E nota-se que a agremiação vermelha e branca está diferente.

Historicamente, o bumbá tem como pontos fracos a organização na arena. Algumas vezes, chegou a sair de cena correndo com o último item ainda se apresentando.

Contudo, neste ano, o Garantido parece não economizar no empenho para superar seus problemas. Por exemplo, no ensaio, havia uma mesa com um computador e dois profissionais de olho em um programa que avalia atrasos em potencial.

“Vai começar a emoção”

A julgar pelo que foi revelado ontem, o segredo do boi Garantido para a primeira noite é a emoção.

O primeiro ensaio técnico abriu com uma de suas toadas de maior sucesso nacional, “Vermelho”, de Chico da Silva. Seguida de toadas que marcaram diferentes festivais do boi vermelho.

A entrada de Isabelle Nogueira, a cunhã-poranga e ex-BBB, com a toada que ela executava em seu confinamento “Isa, a bela”, de Paulinho Du Sagrado, foi colocada no início.

A sequência de ícones nacionais do Garantido no início leva a crer que a proposta é criar uma atmosfera de identificação com os jurados que virão de diferentes lugares do país.

Por fim, Isabelle Nogueira foi ao encontro dos que representavam a galera no ensaio, balanceada pela toada “Perreché da puraka”, hit do boi vermelho em 2024.

Desatacam-se ainda as coreografias dos povos indígenas executadas pelo Garantido Show, fazendo jus ao nome do grupo de dançarinas e dançarinos parintinenses.

Entre os itens individuais, destacou-se o pajé Adriano Paketá, que fez uma performance irretocável.

A perfeição mora nos detalhes

Três imagens me chamaram especial atenção.

A primeira foi o novo casal de Pai Francisco e Mãe Catirina, os negros do auto do boi.

Foi Pai Francisco quem entregou a sombrinha para a evolução da sinhazinha. O bumbá poderia evitar apresentá-los no lugar de camareiro da filha do amo.

Embora não concorram a ponto, eles ainda são itens. Junto ao boi são centrais no auto. Suas artimanhas para comer a língua do boi é o que começa a nossa história. 

É uma imagem que pode ser evitada. O próprio amo, pai da sinhazinha, poderia fazer isso demonstrando cuidado com sua filha.

Depois do protagonismo que o Garantido deu ano passado ao casal de negros, seria um retrocesso que as personagens voltassem a esse lugar.

Outro ponto é que, justamente neste ano em que o boi levará para arena quase a metade de sua vaqueirada composta por mulheres, elas não receberem qualquer destaque.

Pelo menos no ensaio foi assim.

Não ter um momento em que as 13 vaqueiras apareçam juntas seria subestimar a potência dessa imagem.

Uma imagem poderosa foi a presença dos caboclos da mata em figura típica regional. Lê-se facilmente a referência à espiritualidade afro-amazônica na presença das guias de Oxóssi, das folhas e do chapéu dos rapazes que os representaram.

Porém, a permanência do discurso romântico sobre os caboclos ribeirinhos amazônicos observado nas falas do apresentador nos leva a crer que o conceito será ignorado.

*A autora é antropóloga.

Fotos: Dassuem Nogueira/especial para o BNC Amazonas