Diário de uma quarentena | 41º dia, 30 de abril – O vírus levou quatro vizinhos
E a pior notícia do dia foi o ministro da Saúde reconhecer o óbvio, que o Brasil poderá ter registros de cerca de 1 mil mortos por dia

Neuton Correa, de Neuton Corrêa*
Publicado em: 30/04/2020 às 20:03 | Atualizado em: 01/05/2020 às 08:21
Hoje é quinta-feira. São 17h54.
Os números divulgados nesta tarde indicam que não sairemos tão cedo desta quarentena, apesar da angústia do confinamento já pedir a liberdade.
No Amazonas, houve uma ligeira baixa no registro de novos casos, em relação a ontem, quando foram contadas 464 contaminações. Agora, foram 453.
O Estado, até aqui, conta, no total, 5.254 infecções pelo novo coronavírus (Covid-19).
O número de mortes disparou. De ontem para hoje foram 45 óbitos, ante às 29 perdas da quarta-feira. O Estado já perdeu 425 para o vírus.
Dos 62 municípios amazonenses, 50 já entraram nas estatísticas da pandemia.
Na pandemia, de olho na cadeira de governador do estado, o presidente da Assembleia Legislativa (ALE-AM), Josué Neto, aceitou processo de impeachment contra o governador e o vice.
Décimo do ranking mundial
O Brasil registrou 435 novas mortes e 7.218 novos casos confirmados de coronavírus nas últimas 24 horas.
Agora, o país tem ao todo 5.901 óbitos e 85.380 casos.
Esses números fizeram com que o Brasil superasse a China também em número de pessoas infectadas e é o 10º no ranking mundial.
O pior vem por aí
Em meio à pandemia, o presidente da República segue criando crises paralelas e consegue, por enquanto, se esconder da responsabilidade pelos tristes números da doença no País.
Hoje, ele confrontou um ministro do Supremo Tribunal Federal com outra coisa. Mesma valentia não mostra para aliviar a dor dos brasileiros que sofrem com a doença e suas consequências.
O presidente esconde o resultado do exame que fez para a Covid-19. Uma juíza federal o obrigou a apresentar o laudo do teste.
E a pior notícia do dia foi o ministro da Saúde reconhecer o óbvio, já que o governo não tem liderado os esforços de enfrentamento à doença.
O ministro admitiu que o Brasil poderá ter registros de cerca de 1 mil mortos por dia.
O vírus levou quatro vizinhos
O Sol ainda se acordava quando abri a mensagem do vizinho Rafael, da rua 10, irmão do meu querido amigo Michel Farias.
Suas primeiras palavras diziam: “Desculpe o horário”.
Era 1h46. Abri-la imediatamente imaginando que ele iria dar notícia sobre alguém do nosso Futebol Master Unidos & Misturados (FMUM). O FMUM é formado por atletas de alto nível que se reúnem todos os sábados para jogar futebol, no núcleo 16 da Cidade Nova.
Não era sobre o grupo.
“Meu pai, Ademar Pinto Barreto, o conhecido Palá, Pra Cá, faleceu ontem, às 11h40. Gostaria que você informasse aos amigos dele, da Manaus Energia, onde trabalhou por 28 anos”.
Mandei mensagem de pesar ao Rafael, pedindo mais informações e organizando o raciocínio de como iria anunciar a morte do meu vizinho na rádio.
Nos despedimos rogando cuidados.
Mas, uma hora depois, minha caixa de mensagem do WhatsApp recebeu a mensagem de outro vizinho.
Era o Francisco Carlos, Nenca. Ele mandou uma foto e escreveu: “O irmão do Buiú morreu”.
Era o Fabiano, que morou quase ao lado de casa, mas que se mudou para uma rua próxima daqui.
Acho que o Fabiano não tinha 40 anos. Era forte e, no tempo que morava na Pintassilgo, gostava de exercitar os músculos. Ele trabalhava na Honda, no Distrito Industrial.
Com as informações nas mãos, anunciei no programa Manhã de Notícias a morte dos meus dois vizinhos.
No entanto, assim que apareci na frente de casa, o Pantoja falou da casa dele:
“Ei! A dona Conceição, lá do dominó da rua 13, também morreu”.
“Três vizinhos?”, reagi. E ele:
“Não, quatro. O Marcão, aquele militar alto que jogava bola com a gente aqui na Mãe Emília, também morreu de coronavírus”.
*O autor é jornalista e diretor-presidente do BNC Amazonas
Arte: Alex Fideles