Diário de uma quarentena | 32º dia, 21 de abril – Fim do “Nerto”

"Nerto": assim o Bob me chamava

Neuton Correa, de Neuton Corrêa*

Publicado em: 21/04/2020 às 21:31 | Atualizado em: 21/04/2020 às 21:32

Hoje é terça-feira, feriado de Tiradentes. São 18h21.

Tenho receio de manifestar alívio com os números de contágio e mortes pelo novo coronavírus (Covid-19) que vêm sendo divulgados nos últimos dias.

Mas é fato que nos últimos sete dias, a contagem de novas contaminações ficou distante da terça-feira passada.

Naquele dia foram 209.

Hoje, foram contatos 110, que é menor do que o número de domingo (147) e de ontem (116).

A contagem de mortos também recuou. O número maior foi de 21 perdas. Ontem, foram três e hoje mais oito óbitos foram anunciados.

Com isso, o Amazonas chega a 2.270 novos casos da doença e conta 193 mortos.

O número de curados é animador também: 726.

Falei em receio, porque acho que nas duas semanas passadas, a busca do benefício de R$ 600 anunciados pelo governo federal provocou muitas aglomerações.

Suspeito que nos primeiros momentos de busca por esse socorro financeiro possa ter ocorrido contaminações, porque as pessoas estavam desprotegidas.

Espero estar enganado.

 

Reforço no socorro

No pacote de notícias boas do dia, registra-se também que, finalmente, o único hospital público do governo federal em Manaus entrou no socorro às vítimas da pandemia.

Até hoje, em Manaus, apenas a prefeitura da capital e o Estado estavam tratando os doentes da doença.

O reforço ocorre um dia após o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, visitar a cidade.

Manaus já está no limite de sua capacidade de atendimento.

 

Pandemia no País

O Brasil tem 43.079 casos confirmados do vírus e 2.741 mortos e já é o 11º mais infectado no ranking mundial.

O mais rico Estado do País, São Paulo, assim como acontece com a mais rica cidade do mundo, Nova Iorque, mostra-se impotente aos estragos provocados pelo coronavírus.

A capital paulista já tem 15.385 casos confirmados e hoje conta 1.093 mortos.

 

Comparação

Os Estados Unidos, que fazem teste em massa, já diagnosticaram 823.257 casos.

Mas apesar do número se saltar frente ao segundo do ranking mundial, a Espanha, com 204.257 casos, o que mais chama a atenção é contagem dos mortos: 44.805.

Esse dado fez a história comparar: em dois meses, o coronavírus matou mais americanos do que os 19 anos de perdas que o país teve na Guerra do Vietnã, onde morreram 40 mil militares.

Pela média de mortos por dia, ainda esta semana, o país deve chegar a 50 mil óbitos.

O governo fechou hoje seu território para estrangeiros. Mas, a nação mais visitada do mundo, hoje, não é destino recomendado.

 

Alívio e aflição

No começo de segundo mês de minha quarentena, duas verdades, já conhecidas em países que já atravessaram a pandemia, se confirmam para mim.

A primeira é a de que o isolamento social é uma cápsula contra o vírus.

A outra sãos medidas de higiene, quando preciso sair de casa para comprar alguma coisa.

Hoje, acho até que exagerei. Isso foi quando usei meu cartão de crédito para reabastecer o carro, após um mês.

Na operação, lavei as mãos com álcool em gel e a mesma coisa fiz com o cartão. E mais: quando cheguei em casa, voltei a tomar banho com bastante sabão.

O resultado disso é que ainda estou aqui contando o dia a dia do que acontece ao meu alcance sobre a doença.

Aflição

Mentalizei isso hoje e estou compartilhando com você buscando incentivo e incentivando a resistimos a nos proteger.

O problema é que toda vez que lembrava disso, que estamos começando mais um ciclo desta quarentena, olhava para trás, lembrando quantos amigos mais perderemos, quanto mais sofreremos e pior: até quando?

Façamos a nossa parte.

 

Fim do “Nerto”

Ontem, perdi um colega de profissão, Robson Franco.

Bob, como o conheci quando cheguei a Manaus em 1999, deu entrada ontem no pronto-socorro e ontem mesmo morreu.

Não há confirmação de que ele tenha morrido de coronavírus. Mas a pandemia tem parcela de culpa.

O Bob estava doente em casa e evitou socorro médico, conforme contou em suas redes sociais.

Ele estava com receio de se contaminar pelo vírus.

Nunca mais serei chamado de “Nerto”, porque assim ele me tratava desde que trabalhamos juntos no jornal do Commercio de Manaus há 20 anos.

Valeu, Bob!

 

*autor é jornalista e diretor-presidente do BNC Amazonas

Foto: Facebook