Curva perigosa ao PT e a necessária volta à transformação social
Conforme o articulista, o partido se distanciou dos movimentos sociais e se transforma num partido de elite, aquele que só quer saber da disputa eleitoral.

Ednilson Maciel, por Lúcio Carril*
Publicado em: 03/10/2023 às 09:09 | Atualizado em: 03/10/2023 às 10:02
No domingo passado tivemos eleições para os Conselhos Tutelares em todo Brasil. Como sociólogo e militante de esquerda, um fato me chamou a atenção: a ausência do PT como partido nessa escolha.
Não que eu entenda que os Conselhos Tutelares devam servir de instrumento político, seja de partido ou de igreja neopentecostal. O meu estranhamento com a ausência do PT é por uma questão de princípio do partido, que sempre esteve focado na representatividade social.
O PT é um partido de centro-esquerda, que abriga correntes sociais-democratas, comunistas, cristãs, liberais e outras, e foi fundado por forte influência da luta social, mas nas últimas duas décadas fez uma curva acentuada para se distanciar dos movimentos sociais e se transformar num partido de elite, aquele que só quer saber da disputa eleitoral.
Esse distanciamento não se deu de forma natural ou por engajamento da militância do partido. Ele foi resultado de uma estratégia de dominação interna da corrente majoritária (Articulação Unidade na Luta e hoje Construindo um Novo Brasil – CNB).
O papel dos movimentos sociais perdeu força dentro do PT e com ele perdeu sentido a tese da hegemonia da sociedade civil, uma estratégia de poder popular bem desenvolvida por Antônio Gramsci.
O partido abandonou a organização popular e revolucionária, que tinha nos núcleos por local de trabalho, estudo e moradia um referencial histórico, e passou a se organizar em zonais eleitorais. Essa curva mais à direita, com perfil de partido elitista, distanciou o PT das suas bandeiras de fundação, que orientavam para o combate à exploração capitalista e a defesa da organização dos trabalhadores e de toda sociedade.
É certo que o partido se tornou uma organização de massa, que governa este país pela quinta vez, mas sem uma estratégia de empoderamento da sociedade civil vai chafurdar na lama dos partidos burgueses, liberais e de direita.
A ausência de uma política de disputa da sociedade civil é resultado do abandono das organizações de base. O partido terminou seguindo um caminho trilhado pela igreja católica no papado de João Paulo II, que engessou suas pastorais e acabou com as CEBs. No vácuo desse distanciamento entraram as igrejas neopentecostais, que se proliferaram que nem formigas pelas ruas, becos, vielas dos bairros da periferia.
A saída? Um retorno dialético ao sentido transformador do partido e seu reencontro com os movimentos populares, dos trabalhadores e de toda sociedade.
*O autor é sociólogo
Foto: Ricardo Stuckert/PT