Brasil, o país dos patinhos azuis

O jornalista Walmir de Albuquerque Barbosa relata nesta crônica fatos marcantes, que vão do meio ambiente ao cotidiano do país.

Ednilson Maciel, por Walmir de Albuquerque Barbosa*

Publicado em: 16/05/2025 às 11:10 | Atualizado em: 16/05/2025 às 11:10

Um caminhão carregado com corante químico capota numa estrada paulista, a carga vaza e escorre para um riacho, deságua no rio Jundiaí e todos os seres vivos são contaminados; as vítimas mais visíveis, os Patinhos Brancos, que, ao deixarem as águas do rio, ficam com a plumagem toda azul.

Um pouco mais longe dali, a orla da praia da Barra da Tijuca, tida como cartão-postal do Rio de Janeiro, amanhece com uma imensa mancha marrom tingindo o seu mar verde azulado.

Depois de exames, especialistas constatam que o “precioso líquido” derramado no mar, vinha da lagoa de Marapendi, área de preservação ambiental, mas que recebe os dejetos humanos dos sanitários do paliteiro de prédios que se estende da Barra ao Recreio dos Bandeirantes.

Um aviso feroz da natureza!

O desmatamento na Amazônia diminuiu, mas preocupa, e as queimadas estão chegando antes do período da estiagem.

Em Belém do Pará, devido aos atrasos nas obras da COP-30, as árvores ficaram sem tempo para crescer e, para se concluir a arborização nas avenidas abertas para enfeitar a cidade e esconder a periferia sem saneamento básico, os organizadores da festa inovam com as ridículas “árvores de arame”, decorando um boulevard inteiro.

Falando de seres humanos feitos trapos, a população de rua da cracolândia paulistana vaga pelo centro da cidade temendo um possível extermínio pretendido pela política higienista do alcaide da “Maior Metrópole da América Latina”, como gostam de dizer os repórteres setoristas. 

Ao mesmo tempo, o governador do estado manda a sua polícia intimidar moradores da favela do Moinho, localizada em terras da União, na capital paulista, para desocupar a área nobre, onde pretende fazer um parque; não se sabe se com o mesmo destino do centenário “parque da Água Branca”, um dos últimos lugares onde uma criança paulistana, conheceria uma galinha viva, um patinho sem manchas de corante químico, um passarinho e um porquinho do mato; isso depois que foi privatizado e virou estacionamento de bacanas, que vão à churrascaria construída no terreno.

Num só dia, a Polícia Federal, que não consegue mais arranjar tantos nomes expressivos para suas operações de busca e apreensão, prende, enche sacos e sacos de coisas roubadas e apreende coleções de armas com suas caixas e caixas de munição, que seriam repassadas por “colecionadores e atiradores esportivos” à indústria do crime.

E mal conseguem descarregar tudo, precisam sair correndo por todo o país para desbaratar as quadrilhas instaladas no INSS, nos escritórios de venda de emendas parlamentares, há anos, e que estão sendo pegas, agora, com a boca na botija, enganando os aposentados, desviando dinheiro público e infernizando a vida de todas as famílias com ofertas mirabolantes e aliciamento de crianças, pelo celular.

Porém, nada se iguala à guerra campal da política, a começar pelos “Poderes de Grayskul”, evocados pela Câmara dos Deputados , onde 315 “Representantes do Povo”, tomados de ódio, não conseguem ler o Artigo 53 da CF e decidem obstruir a Justiça, impedindo o STF de julgar os crimes praticados por políticos, ex-políticos e associados, escorando-se na imunidade parlamentar.

No mesmo diapasão, “as meninas malvadas” e “os jornalistas de bastidor”, a mando de vozes que não se deixam ouvir, abrem divergência para melar a caravana presidencial à China, retomando um dos esportes preferidos da mídia: jogar pedras na “primeira dama”.

Tudo por causa de um “vacilo presidencial”! Um “calabar ministerial”, fingindo comer um peito de “pato laqueado”, faz a leitura bilabial da conversa de Janja da Silva com o Xi Jinping e repassava tudo a uma blogueira de renome.

O “mercado” mandou, imediatamente, seus economistas “padrão Focus” manifestarem-se em todas as TV sobre os temores com o possível descontentamento do líder chinês com a fala da esposa do presidente.

A barraca está armada e todos estão de olho esperando a chegada do “chinês do TikTok”: temem que o homem venha “desvendar” os algoritmos da extrema direita e indicar outros mais apropriados à esquerda e evitar, assim, o “olho gordo” dos adversários.

Essas coisas acontecem, exatamente, no dia em que Pepe Mujica, esse exemplo de político, despede-se da vida real e vai travar, do outro lado, mais uma batalha, desta vez, ao lado das almas generosas que velam pelo bem, pela vida reta e abraçam a causa dos humildes, dos cachorrinhos de três patas e, certamente, dos patinhos azuis!

*O autor é jornalista profissional.

Foto: reprodução/Tv Sbt