Brasil de poucos: a prisão de Lula e o espetáculo da justiça burguesa

Aguinaldo Rodrigues
Publicado em: 08/04/2018 às 07:16 | Atualizado em: 08/05/2018 às 12:51
José Alcimar de Oliveira*
A justiça do Estado Burguês, oligárquico – como é o caso dessa República sem Povo – tem alcance limitado, seletivo e teratológico. Qual é o perfil social da população carcerária brasileira? Segundo nosso grande Tim Maia – penso que foi ele -, no Brasil cadeia se destina a um triplo p: pobre, preto e puta.
Há quase dois mil anos Jesus de Nazaré, ao enfrentar a hipocrisia dos senhores da lei, afirmou com autoridade de homem livre que as putas haveriam de precedê-los no Reino de Deus.
Engana-se quem pensa que a prisão de um ex-presidente, acusado e condenado, seja um indicador de que o Estado brasileiro, finalmente, abraçou-se com a justiça. A lógica da justiça burguesa sob os holofotes da sociedade do espetáculo envenena muitas mentes com a falsa ideia de que é possível atacar seletivamente corrupção de governo sem afrontar o Estado corrupto.
Além da Velhinha de Taubaté, alguém acredita que a prisão de Lula ensejará o início da fila, rumo ao cárcere, dos responsáveis pela magna corrupção que circula livre na Casa Grande? Das elites que, sob o controle do capital sem controle, controlam o Estado brasileiro sob a égide do mais desinibido patrimonialismo?
Até meados de 2003 investi o melhor de minha energia militante no projeto que deu origem ao PT. Fui eleitor de Lula desde 1989. Com baixíssimo coeficiente de entusiasmo político ainda votei em Lula em 2006 e em Dilma em 2010. Sigo no itinerário da esquerda classista e do vermelho da luta e não comemorei a prisão de Lula.
O que o condenou à prisão parece insignificante diante do erro de colaboração de classe protagonizado pelo seu governo. Não sou operador da justiça, mas penso que o corolário do erro de colaboração de classe jamais seria a pena de privação de liberdade.
Preferiria ver a prisão de Lula – o que não ocorreria sem massiva resistência popular – por ter tido coragem de enfrentar os delinquentes ricos que vampirizam e parasitam o sangue do povo brasileiro.
Lamento que o kairós da emancipação dos subalternizados tenha cedido lugar ao chronos do apassivamento da classe que habita o andar de baixo desse País de poucos. Como bem percebeu José de Souza Martins, o PT do poder sepultou o PT das lutas sociais. O que mata o fundamento mata o destino.
*José Alcimar de Oliveira, professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Amazonas, é base da ADUA – S. Sind., filho dos rios Solimões e Jaguaribe e devoto do Padim Ciço.
Em Manaus, AM, 04 de abril de 2018.
Foto: (Marcello Casal Jr/Agencia Brasil)