As mudanças climáticas, os frutos e as abelhas nativas

Alterações na floração das plantas diminui a oferta de recursos florais (néctar e pólen) afetando diretamente as abelhas nativas

Abelha nativa

Neuton Correa, *Por Rinaldo Sena Fernandes

Publicado em: 03/06/2024 às 05:22 | Atualizado em: 03/06/2024 às 05:35

Na Amazônia, anualmente, o regime hidrológico é marcado pelo fenômeno de cheia e vazante dos rios. Essa subida e decisa dos rios afeta em maior ou menor grau a vida das populações que habitam a região de certa forma adaptadas a essas variações.

Da mesma forma, tem se tornado frequente a intensidade incomum dos fenômenos El Niño e La Niña afeta o regime de chuva, que resulta também em variações das temperaturas alterando diretamente o cotidiano da população, a produção agrícola e pecuária na região.

Em 2023, a seca que afetou a Amazônia ocasionada pela ação do El Niño causou a maior queda no nível dos rios até então registrada. Assim, impôs uma estiagem dura e prolongada, cujos efeitos foram potencializados pela expansão do desmatamento e pela geração de fumaça proveniente das queimadas comuns no período de verão amazônico.

Em relação à produção agrícola regional, ressalta-se que no ciclo fenológico de grande parte das espécies frutíferas nativas, a floração ocorre no intervalo entre junho e agosto, compreendendo geralmente o final das chuvas e início da estiagem e a frutificação a partir do retorno das chuvas no final do ano.

A fenologia estuda as relações entre o meio abiótico e os fenômenos biológicos próprios das plantas, tais como as fases de floração, frutificação e as mudanças foliares.

Estudos tem mostrado que as alterações das condições meteorológicas consideradas normais para a floração, tem provocado mudanças no comportamento das plantas, afetando diretamente a produção de frutos.

Néctar e pólen

Alterações na floração das plantas diminui a oferta de recursos florais (néctar e pólen). Desaa forma, afeta diretamente as abelhas nativas, principais polinizadores das fruteiras nativas como guaraná, pupunha, cupuaçu, açaí e tucumã. Essa plantas dependem desses agentes para realizar a polinização cruzada, garantindo a quantidade e a qualidade dos frutos produzidos.

O tucumã, por exemplo, apresenta um agravante maior por ser uma espécie que tem alta demanda de mercado, porém, com cultivo inexpressivo em virtude de suas características botânicas.

Diante deste cenário, a meliponicultura, atividade que se refere a criação de abelhas indígenas sem ferrão pode ser severamente impactada com as alterações fenológicas provocadas pelas mudanças climáticas, uma vez que a safra do mel de abelhas sem ferrão no estado coincide com a estação seca e consequentemente com o período da floração das espécies vegetais.

Dessa forma, é importante destacar que os impactos ambientais causados pela ação humana, principalmente pelo desflorestamento e pelas queimadas vão resultar no agravamento das mudanças climáticas, afetando diretamente a sobrevivência das populações humanas e de meliponíneos em geral (abelhas sem ferrão).

*O autor é professor doutor em Engenharia Florestal e titular da disciplina Produção Vegetal e Abelhas do Ifam, Zona Leste de Manaus.

Leia mais

Foto: Floriano Lins