Amazônia e o petróleo da Venezuela, entregar não é a saída
O povo venezuelano está sofrendo 930 sanções econômicas porque seu governo resiste em não entregar seu petróleo para aumentar a riqueza dos países ricos

Ferreira Gabriel, Lúcio Carril*
Publicado em: 02/08/2024 às 15:48 | Atualizado em: 02/08/2024 às 15:48
Não vou entrar na miudeza da política ou, pior, na despolitização da história. Quero mesmo é tratar da nova geopolítica mundial, que nem é tão nova assim, mas vem tomando conta das disputas internacionais de hoje.
Para entender a política e a economia mundial é imprescindível conhecer duas categorias básicas da economia moderna: acumulação primitiva do capital e Divisão Internacional do Trabalho (DIT).
O seu desconhecimento conceitual leva apenas a uma discussão pontual e fora da história, transformando tudo numa torcida de futebol.
Na acumulação primitiva, teoria marxiana desenvolvida em “O Capital”, você entenderá que riqueza e pobreza das nações não são determinações divinas ou da natureza.
Foi se apropriando dos bens de sobrevivência humana, como a terra, que tudo começou, ainda na antiguidade e, posteriormente, na idade média.
Um era o senhor dono da terra e o outro, o servo que vivia e trabalhava na terra para seu sustento e sustento do senhor, da sua família e do príncipe.
Não satisfeito, o príncipe guerreava e saqueava outros povos. Mas, ainda era pouco e resolveu mandar corsários e exércitos descobrirem novas terras e novos tesouros.
Assim chegaram às Américas e mataram seus povos originários, roubaram suas riquezas (ouro, diamantes, sementes etc) e escravizaram a gente nativa.
Em linhas gerais, foi isso que levou o mundo de hoje a ter países ricos e países pobres.
Os ricos são aqueles que roubaram e traficaram seres humanos; os pobres, aqueles que foram roubados e escravizados.
Ao contrário do que escreveu Adam Smith em “A riqueza das nações”, não foi a simples troca e a cunhagem de moeda que criou a divisão do trabalho. Foi a espoliação, a pilhagem e a escravização.
Dito isso, passemos para o mundo de hoje, onde a acumulação primitiva virou acumulação capitalista.
Alguém acha mesmo que os países ricos, que construíram sua riqueza roubando e escravizando, estão preocupados com o meio ambiente e com a preservação da Amazônia?
Eles querem nossas riquezas, as riquezas naturais da Amazônia, para aumentarem sua riqueza, da mesma forma que se tornaram ricos.
Se o governo brasileiro fechar a Amazônia para o capital internacional, para as grandes empresas e conglomerados, nosso país sofrerá sanções econômicas e políticas e golpes serão planejados.
Nossa gente passará fome e não terá sequer remédio para curar suas doenças.
Milhões de brasileiros migrarão para países vizinhos.
E você, incauto ou ignorante de esquerda ou direita, acha que Estados Unidos e países ricos da Europa estão preocupados com a democracia na Venezuela e que Maduro é o pior dos males!
Santa ignorância!
A Venezuela está passando pela mesma situação da qual Cuba foi submetida há mais de 60 anos, porque deixou de ser um puteiro dos ricaços de Miami.
O povo venezuelano está sofrendo 930 sanções econômicas porque seu governo resiste em não entregar seu petróleo para aumentar a riqueza dos países ricos, os mesmos que ficaram ricos saqueando, matando e escravizando outros povos.
E você acha que, se a Venezuela abrir sua reserva de petróleo para os Estados Unidos e seus aliados, a vida do povo vai melhorar?
A vida dos povos da África, que tiveram seus diamantes roubados, melhorou?
Se um ladrão tomar teu carro, tua casa, tua geladeira e tua cama, tua vida vai melhorar?
O povo da Venezuela está certo em não querer entregar seu único bem econômico aos saqueadores.
Nós, brasileiros, também não queremos entregar a Amazônia, mas os países ricos vivem ameaçando tomá-la.
Talvez alguém ache certo internacionalizar nosso bem maior, mas a história já provou o que acontece com quem é roubado ou saqueado.
O problema não é o Maduro, como não foi o Fidel.
O problema está em como o mundo moderno foi construído e organizado.
Países ricos continuam querendo aumentar sua riqueza saqueando países que outrora foram saqueados por eles.
Resistir é uma forma de se manter vivo. Se deixar derrotar, é a morte.
O povo da Venezuela não tem sequer insulina para cuidar dos seus diabéticos.
A comida é difícil, o emprego também.
E você, por conta do seu desconhecimento da história ou por ser uma marionete dos meios de comunicação manipulados pelos países ricos, vem dizer que o problema está no governo da Venezuela ou de Cuba.
Tenha vergonha e vá estudar!
Sete milhões de venezuelanos saíram do seu país.
Claro, quem pode sair e procurar vida melhor, que o faça, mas saiba que essa situação do seu país é resultado da imposição daqueles que sempre saquearam bem alheio no mundo todo.
A vida pode e vai melhorar, mas é preciso resistir ao inimigo, como nossos povos originários fizeram.
Quem se aliou, morreu.
Nunca defenda teu algoz.
Vítima não tem culpa.
*O autor é sociólogo.
Foto: Leandra Felipe/ABr