Amazonas, um rio de peixes saborosos
Já passou da hora de termos no Amazonas políticas públicas efetivas de valorização de nossos recursos ictiofaunísticos

Neuton Correa, Aldenor Ferreira*
Publicado em: 02/09/2023 às 04:00 | Atualizado em: 02/09/2023 às 07:47
O poeta parintinense Chico da Silva foi o que melhor traduziu o sentimento que o amazonense tem em relação ao Rio Amazonas. A canção Amazonas Meu Amor traduz toda a beleza, o afeto e a admiração que temos por este rio.
“Eu amo esse rio das selvas”, escreve o poeta no primeiro verso da canção. Em seguida, afirma que “em suas restingas meus olhos passeiam, o meu sangue nasce nas suas entranhas e nos seus mistérios meus olhos vagueiam”.
Esta canção é a mais perfeita tradução daquilo que é belo, majestoso, sincero e único. Noutro verso o poeta diz: “e das suas águas sai meu alimento”. É sobre este ponto que quero tratar hoje nesta coluna. Sim, caro(a) leitor(a), é das águas do Rio Amazonas que saem toneladas de peixes todos os anos para saciar a fome de milhões de pessoas.
Sem dúvida, o peixe é a principal proteína consumida pelos amazonenses. O consumo de pescado por pessoa em nosso estado é o maior do país. Há uma lista enorme de espécies que são apreciadas todos os dias, com diminuição da frequência de consumo variando de acordo com a estação do ano e, principalmente, da hidrodinâmica do Complexo Fluvial Solimões/Amazonas.
Sabores
Os peixes são todos saborosos; uns, mais apreciados; outros, menos. Mas todos estão presentes na dieta amazonense. Vou elencar alguns que já comi e aprecio muito. Certamente, o(a) leitor(a) amazonense ou quem já teve a oportunidade de visitar o Amazonas e consumiu algum destes se identificará.
Começando pela ordem alfabética temos: aracu, aruanã, cará, bodó, branquinha, curimatã, dourado, jaraqui, matrinxã, mapará, pacu, pescada, pirarucu, piramutaba, piranha, pirapitinga, sardinha, surubim, tambaqui, tamuatá, traíra e tucunaré.
Como dito, a lista é enorme. Certamente, estão faltando muitas espécies ainda, mas esta pequena amostra já serve de indicativo da diversidade do pescado que é consumido no Amazonas.
O consumo de peixes no Amazonas e na Amazônia, de maneira geral, vai muito além da alimentação. O consumo de peixe é herança cultural ameríndia. É habitus, para citar aqui o sociólogo Pierre Bourdieu. É maravilhoso ver a natureza e a cultura se retroalimentando, se entrelaçando nas tramas e na dança da vida.
Políticas públicas
Neste sentido, já passou da hora de termos no Amazonas políticas públicas efetivas de valorização de nossos recursos ictiofaunísticos. Precisamos de políticas modernas que preservem os recursos, que desenvolvam e/ou fomentem cadeias produtivas longas e curtas do pescado. É inadmissível, por exemplo, a importação de pescado de outros estados como Rondônia e Roraima.
O Amazonas precisa ser o maior produtor de peixes de água doce do mundo. Temos todas as condições para isto. Tudo em nosso estado favorece esta atividade, desde a geografia, o relevo, a hidrografia, a cultura, o povo, o hábito, o saber-fazer do ribeirinho, enfim, tudo. Como dito, o consumo de peixe é cultural, mas esta atividade pode ser também uma indústria poderosa.
Precisamos, portanto, fazer esta combinação, tal qual a combinação da farinha com o caldo de peixe: uma combinação perfeita. Parafraseando Chico da Silva, “nós amamos estas coisas, elas são tão puras, tão nossas”.
O Amazonas é um rio de peixes saborosos. Isto todos nós já sabemos. Contudo, o queremos como o maior produtor mundial destes sabores. Isto é absolutamente possível. É preciso sonhar, acreditar, trabalhar e investir no setor. Para alcançar este objetivo é só querer.
*Sociólogo