Ali Babá
Longe de mim estar insinuando que os políticos em sua maioria, e suas coligações no poder representam em nosso país tropical o herói e seu bando das mil e uma noites de Sherazade

Mariane Veiga, por Flávio Lauria
Publicado em: 15/08/2023 às 18:49 | Atualizado em: 15/08/2023 às 18:49
No reino de Ali Babá não havia políticos e coligados, mas havia 40 ladrões.
Longe de mim estar insinuando que os políticos em sua maioria, e suas coligações no poder representam em nosso país tropical o herói e seu bando das mil e uma noites de Sherazade.
Apenas associei as duas imagens, ao constatar a quantidade de políticos e assessores, que, à sombra do Congresso, se envolveram em corrupção no governo e até hoje continuam impunes.
Por alto fiz um levantamento em que contei, de lembrança, mais de duas dúzias de nomes sob suspeita e acusação.
Curiosamente, como Ali Babá, também Bolsonaro é poupado de pechas e acusações.
Daí decorre a segunda razão de aproximar, para contrastar, os dois contextos: o da lenda e o da realidade política.
É que Ali Babá e seus ladrões eram transparentes. Assumiam o que eram e faziam.
Estranhamente, as pessoas vinculadas diretamente a Bolsonaro, indiciadas ou apontadas pelo noticiário, não têm a mesma postura.
Usam de todos os recursos e erguem com a maior desenvoltura uma cortina de fumaça negra e densa em torno deles mesmos e de seus atos, para evitar que a opinião pública saiba a verdade do que tem acontecido nos bastidores do governo desde que o bolsonarismo assumiu o poder.
Vejamos o caso das joias agora vindo à tona.
Escandaloso, para ser minimamente gentil, os militares envolvidos na venda de joias recebidas que deveriam ficar no patrimônio do Estado brasileiro, eram negociadas, e levadas a leilão nos Estados Unidos.
Operações de abafa, rolo compressor, respostas sarcásticas, ataques verbais são o mínimo apresentado como autodefesa e barreira à averiguação pública.
Basta simples suspeição que logo se levantam para praticar a velha máxima de que a melhor defesa é o ataque.
Antes que sejam destruídos, ainda que em nome da verdade e da justiça, os comparsas tudo fazem para destruir os adversários.
Para mostrar que é superior e acima de qualquer suspeita, Bolsonaro usou e abusou de expressões como fantasias, inveja, esquerda carcomida, ultrapassados, e pretensas frases aparentemente d ésprit, mas na verdade de uma pobreza intelectual de causar dó!
A revelar sempre o propósito de agredir para não ser atacado.
Agora, seu assaz contestado ex-ajudante de ordens, o ex-ministro da Justiça e o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal e detentor do poder, demonstram que copiaram o grande chefe.
Mal começaram as graves denúncias que os envolveram, tentam ironizar: tudo não passa de tititi e trololó.
Temendo que os ventos soprem a poeira para sua janela, Bolsonaro vem a público declarar que se trata de acusações requentadas, quando para advogados de renome e respeitados políticos sua omissão e leniência, à época da ocorrência dos fatos, podem culpá-lo de improbidade administrativa.
Bolsonaro, Anderson, Mauro Cid e assessores pousam de impolutas vestais da República.
Ao contrário de Ali Babá e seu bando, em vez de se esconder em cavernas, à espera do “abre-te, Sésamo!”, procuram trancar a corte a sete chaves.
Será que pensam que todos nós temos que engolir calados? Será que de tititi e trololó, com tropeços aqui e ali, sem o ar e a luz que paradoxalmente sobram nas cavernas de Ali Babá, mas tanto faltam nos subterrâneos do Planalto, Bolsonaro chegará a ser preso?
Só mesmo em nosso querido e descontraído Brasil.
O autor é advogado.
Foto: Reprodução