A vitória de Anás e Caifás

"A Igreja Cristã Brasileira, ao colocar elementos do judaísmo em sua liturgia e práticas combatidas por Jesus, está crucificando o Mestre novamente"

A vitória de Anás e Caifás Arte Gilmal

Neuton Correa, Aldenor Ferreira *

Publicado em: 09/03/2024 às 00:24 | Atualizado em: 09/03/2024 às 00:24

Anás e Caifás eram sumos sacerdotes no período em que Jesus Cristo foi crucificado. Foram eles os responsáveis por selar o destino do Mestre ao entregá-lo aos romanos. 

De acordo com o evangelho de João, Jesus é levado primeiramente a Anás, por ele ser sogro de Caifás. Anás, mesmo não estando mais no posto de sumo sacerdote, ainda era tido como tal por alguns judeus e gozava, portanto, de enorme prestígio. Com efeito, o sacerdote Caifás, de fato, era seu genro. Foi ele que conspirou para que Jesus fosse entregue aos romanos. 

João nos esclarece sobre isso ao registrar as seguintes palavras: “e um deles, chamado Caifás, que era sumo sacerdote naquele ano, lhes disse: vós nada sabeis, nem considerais que nos convém que um só homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação (João 11:49-50). Mais adiante, no versículo 53, João registra que “desde aquele dia, pois, consultavam-se para matarem Jesus”. 

A única vez 

Este preâmbulo tem por objetivo situar o(a) leitor(a) acerca da reflexão que farei daqui em diante. 

Dentre outras coisas que não mencionarei aqui, a insurreição e posterior morte de Jesus na cruz teve por objetivo romper com o sistema religioso judaico. Um sistema apodrecido, corrompido, extremamente elitista e perverso. Neste sentido, todo o ministério de Jesus é marcado pela ácida crítica ao sistema do Templo, ou seja, à política e à burocracia do Estado judeu daquele momento. 

Neste contexto, não custa lembrar que a única vez que Jesus usa de violência em todo o seu ministério é justamente no Templo contra vendedores e cambistas. O Mestre faz uma corda e se insurge dando chicotadas e tombando as mesas daqueles que faziam da casa de seu pai um comércio mundano e profano.

Caro(a) leitor(a), não resta a menor dúvida de que Jesus faria a mesma coisa hoje. Certamente, ao visitar alguns templos religiosos destes tempos hodiernos em nosso país, o Mestre iria se indignar da mesma forma, pois há pouca diferença entre o que ocorre nas igrejas brasileiras atualmente e o que ocorria no antigo Templo judeu em Jerusalém. 

O abandono de Cristo

Ao entregarem Jesus aos romanos, Anás e Caifás se banham em luz. Apesar de ser uma glória momentânea, trata-se de uma vitória do mal. Dito isto, afirmo eu, a Igreja Cristã Brasileira, ao colocar elementos do judaísmo em sua liturgia, ao retomar rituais, costumes e práticas religiosas amplamente combatidas por Jesus, está crucificando o Mestre novamente. 

Em tempo, o abandono de Cristo e de tudo aquilo que ele pregou e pelo que lutou, bem como o retorno ao sistema judaico, principalmente por parte dos neopentecostais no Brasil e no exterior, é a segunda morte de Cristo. É como se o seu sacrifício na cruz não tivesse valido nada.

Portanto, qualquer retorno, material ou simbólico, ao Velho Testamento é uma adulteração, uma prostituição do Evangelho de Cristo. Jesus propôs uma nova aliança, um novo acordo com a humanidade. Um pacto baseado no amor, na justiça e na paz. 

É terrivelmente retrógrado este movimento em direção à teologia do Velho Testamento. A tal teologia do domínio é um caminhar para o cativeiro, para as trevas de onde Cristo, com seu sacrifício, tirou os povos. Ainda, é dar a vitória ao sistema religioso corrupto e apodrecido do Templo. É, portanto, dar a vitória a Anás e a Caifás, os algozes de Jesus.

*Sociólogo

Arte: Gilmal