A ‘solução final’ de Israel

"Israel não tem nem mais nem menos direito sobre qualquer território, nem mesmo sobre ninguém"

A “solução final” de Israel - Arte Gilmal

Neuton Correa, Aldenor Ferreira *

Publicado em: 02/03/2024 às 00:45 | Atualizado em: 02/03/2024 às 00:45

O presidente Lula declarou, por duas vezes, que Israel está cometendo genocídio contra o povo palestino. Ele está correto. É genocídio mesmo. Uma espécie de “solução final”, aplicada por Israel. Por que afirmo isto? Vamos analisar alguns pontos importantes. Vejamos, primeiramente, a definição de genocídio dada pela Organização das Nações Unidas (ONU). 

Genocídio

De acordo com a definição da ONU, genocídio significa: “crime contra a humanidade, que consiste em matar membros de grupos étnicos, causar graves lesões à sua integridade física ou mental; submeter o grupo a condições de vida capazes de o destruir fisicamente, no todo ou em parte; adotar medidas que visem evitar nascimentos no seio do grupo; realizar a transferência forçada de crianças de um grupo para outro”.

É importante atentarmos para as últimas linhas desta definição: “adotar medidas que visem evitar nascimentos no seio do grupo e realizar a transferência forçada de crianças de um grupo para outro”.

Pergunto ao(à) nobre leitor(a): assassinar deliberadamente mulheres e crianças não é justamente cuidar para que não haja nascimento no seio do grupo? E, ainda, determinar o deslocamento da população de uma parte do território para outra não é “realizar transferência forçada”?

Pelo que temos acompanhado, por diversos meios de comunicação nacional e internacional, é exatamente isto que está ocorrendo na região da Palestina. Israel está se enquadrando de forma literal na definição de genocídio da ONU.

Ponto para considerações

O segundo ponto em considerando, e que todos já sabem, é sobre a desarticulação de grupos e células terroristas por meio de serviços de inteligência. Neste campo, poucos países do mundo possuem tanta expertise como Israel. Afinal, eles possuem tecnologia de ponta e recursos financeiros abundantes para realizar grandes operações de inteligência. 

O terceiro ponto a ser considerado é que, ainda que Israel tenha direito a defesa, já excedeu toda a razoabilidade e a proporcionalidade do uso da força nesta ação. O “inimigo” já foi dominado, na verdade, já foi destruído. Portanto, é preciso parar com os ataques, pois eles já não são mais ataques, mas, sim, verdadeiros massacres. 

Por fim, o quarto ponto é sobre a legitimidade da reivindicação de Israel sobre o território da Palestina. Ora, a terra também não era deles. O antigo território de Canaã foi tomado de outros povos que ali já habitavam. A comprovação histórica da tomada deste território está no próprio Pentateuco. A terra não pertencia a Israel. 

Em tempos imemoriais, o Deus de Israel ordenou o massacre de todos os povos daquela região para que se cumprisse a promessa que ele fez a Abraão, Isaac e Jacó, de que aquelas terras seriam de Israel por promessa. 

Dentre outras coisas, é nesta narrativa pretérita de promessas que o Sionismo se baseia. Na ideia de povo eleito de Deus. O problema é que isto já mudou há mais de dois mil anos. Um judeu chamado Jesus, nascido na Palestina, propôs um novo concerto com a humanidade. Qual? O da salvação pela graça. 

Novo acordo

Assim diz o texto do novo acordo: “porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie […]” Efésios 2:8-9. Isto significa dizer que o judeu sionista ou não terá que ser alcançado pela graça divina, tal qual o seu primo palestino, eu e você. Não há privilégio divino nenhum para Israel em termos de salvação. 

Portanto, Israel não tem nem mais nem menos direito sobre qualquer território, nem mesmo sobre ninguém. É lamentável que esteja aplicando “a solução final” sobre os palestinos, algo que, em um passado recente, foi contra eles mesmos. De fato, não aprenderam nada com a história. 

*Sociólogo

Arte Gilmal