A lógica da performance na política
O que está por trás das ações performáticas? "A caricatura tornou-se o conteúdo central da atuação política". Por exemplo, o homem da bandeira. O sociólogo Aldenor Ferreira aponta neste artigo. Leia

Ednilson Maciel, por Aldenor Ferreira*
Publicado em: 24/05/2025 às 05:06 | Atualizado em: 24/05/2025 às 05:09
Nos últimos anos, as ações performáticas têm se consolidado como uma nova dinâmicapolíticano Brasil, caracterizada pelo espetáculo, pela estética do confronto e, muitas vezes, pelo absurdo.
A extrema-direita nazifascista brasileira conseguiu introduzir, lamentavelmente, no cotidiano da atividade parlamentar a lógica do entretenimento, o que tornou a nobre atividade em um espetáculo midiático digno de um filme de baixo orçamento.
Na esteira dos conteúdos performáticos, a caricatura tornou-se o conteúdo central da atuação política, com as casas legislativas e os executivos a nível municipal, estadual e federal abrigando verdadeiros atores frustrados e maus-caracteres.
O homem da bandeira
Na Câmara Federal tem-se um caso bastante ilustrativo. O deputado conhecido como Gilvan da Federal vive enrolado em uma bandeira do Brasil. É uma tentativa de passar a imagem de patriotismo e fidelidade à causa nacional. Mas é performance pura.
Em 2023, partindo da lógica do espetáculo e da midiatização da política, Nikolas Ferreira subiu à tribuna da câmara e fez um discurso com uma peruca na cabeça. Seu objetivo? Atacar as mulheres trans. Fez muito sucesso. Ganhou mais seguidores e dominou os trends topics das redes sociais por vários dias.
Mas o que está por trás das ações performáticas?
Não se engane, caro(a) leitor(a), tudo é milimetricamente calculado e planejado. Não há inocentes no parlamento. As performances são estratégias de desvio de foco dos temas centrais e imprescindíveis para a sociedade.
Ilusionismo político
A pauta moral é apenas um jogo de ilusionismo político. Dentre outras coisas, o que se quer, na verdade, é camuflar o discurso violento contra as minorias. Esconder as ações e projetos contra os trabalhadores, contra a economia nacional, o meio ambiente, enfim, contra o próprio país.
Nesse contexto, a tentativa de reforçar a imagem de defensor da família tradicional é sempre falsa. Essa defesa se dá por meios estéticos morais e não pela formulação de políticas públicas eficazes de combate ao feminicídio, voltadas à redução da jornada de trabalho, à melhoria da saúde da mulher, da criança, da geração de emprego e renda etc. Ou seja, medidas que, de fato, melhorariam a vida das famílias.
Nesse sentido, para além de uma performance caricata, a atuação dos parlamentares da extrema-direita nazifascista é apenas um jogo de marketing político. Trata-se de uma atuação teatral que não encara, pois não tem condições morais para fazê-lo, a fome, a pobreza, o desemprego, o endividamento das famílias, a falta de moradia e a falta de perspectiva de futuro.
O “pulo do gato”
Em tempos de crise da representação e de descrédito das instituições, o gesto performático ganha potência simbólica. Ele pode tanto provocar risos quanto gerar perplexidade, mas dificilmente deixará o público indiferente. E é aqui que está o “pulo do gato”.
Os parlamentares da extrema-direita nazifascista sabem jogar o jogo das Big Techs. Eles sabem que o combustível do motor do algoritmo é a participação (engajamento), seja com comentários a favor, seja contra determinado discurso ou performance. É o velho e famoso “falem bem ou falem mal, mas falem de mim”.
Essa é a lógica por trás das performances caricatas. É uma lógica incrivelmente simples. E perversa. Mas é ela que garante votos e dinheiro, muito dinheiro.
*O autor é sociólogo.
Arte: Gilmal