A linguiça caseira de Parintins

A linguiça caseira, a namoradinha dos parintinenses, é comumente servida nas bancas de venda de churrasquinho à noite

Mariane Veiga,

Por Dassuem Nogueira

Publicado em: 29/06/2024 às 10:31 | Atualizado em: 30/06/2024 às 13:01

Entre as iguarias que só se encontram em Parintins está a famosa linguiça caseira. Ela é encontrada com facilidade nas banquinhas de churrasco da cidade.

Interessante notar que o bodó, o peixe cascudo que é a paixão local, é achado, exclusivamente, durante o dia, nos comércios de assados. 

Já a linguiça caseira, a namoradinha dos parintinenses, é comumente servida nas bancas de venda de churrasquinho à noite.  

Conversei com seu José Carlos Mendonça Sarmento, 65 anos, o seu Zé do Pudinho, vendedor de linguiça, sobre o processo de fabricação do produto.   

O apelido lhe foi dado por clientes que achavam gracioso o modo como ele falava a palavra pudim ao oferecer a sobremesa de seu estabelecimento. 

No sotaque característico do baixo rio Amazonas é comum aplicar a sonoridade do dígrafo “nha” ou “nhe” ao falar o fonema M. Os parintinenses ainda fazem um “bico” para realçá-los. 

Quanto mais interiorano, mais forte é o sotaque.

Zé do Pudinho é natural de uma comunidade que se chama Ilha das Onças, no interior de Parintins, e não mudou o sotaque logo que chegou na cidade de Parintins.

O começo de tudo

Em 1988, veio com sua esposa, Maria do Perpétuo Socorro, a Dona Peta, passar o festival folclórico e nunca mais voltaram para a Ilha das Onças. 

Antes de começar a trabalhar com refeições, ele trabalhou como ajudante de pedreiro e vigia. Em 1990, ele montou seu próprio negócio. 

Nele, seu Zé e dona Peta vendiam iguarias parintinenses em uma banca em frente à escola Ryota Oyama, na avenida Amazonas, entre elas, tacacá, pratos típicos, espetinhos de churrasco e doces, inclusive o “pudinho”.

Ele começou a fabricar a linguiça caseira de Parintins nessa época. Aprendeu a fazê-la sozinho.

Em 2010, o Churrasco do Zé se mudou para a rua Armando Prado, n.º 2980. Na ocasião, Dona Peta passou a fazer uso da propriedade que é herança de sua família. 

No total, são 34 anos fabricando e vendendo a iguaria na cidade.

A linguiça caseira do seu Peroba

Quando chegou a Parintins, a linguiça mais famosa era feita pelo senhor conhecido como Peroba. 

Ele foi o primeiro a vender a linguiça caseira em Parintins. Seu Zé lembra que Peroba fazia o produto defumado.  

No início, os clientes iam até a fazenda de Peroba, na Comunidade do Parananema, nos arredores do atual aeroporto, apenas para comprar linguiças preparadas por ele.   

Quando ele se mudou para a cidade, consolidou-se a paixão pela linguiça assada na churrasqueira e logo surgiram outros fabricantes.

 O sucesso da linguiça

Todo o processo de fabricação da linguiça caseira é manual. Corta-se a carne bovina com a faca, tempera-se e enche-se a tripa do boi. Seu Zé é quem faz tudo durante a manhã.

Sua esposa e seus filhos cozinham as guarnições para vender à noite. 

Da sua cozinha saem entre 50 a 60 linguiças diariamente. Nas três noites do festival, chega a vender 150 unidades por noite. 

Nesse período, a churrascaria do seu Zé funciona a noite inteira. 

A linguiça do seu Zé é tão conhecida e apreciada que, fora do período do festival, recebe encomendas até de Manaus. Chega a enviar de 30 a 40 unidades para clientes fidelizados da capital.  

Em Parintins, o comerciante também faz entregas a clientes que assam o produto em festas familiares.  

A churrascaria do seu Zé atende a clientes ilustres, entre os quais políticos e artistas dos bois-bumbás. O levantador Davi Assayag e o maestro Neil Armstrong batem ponto em sua banca.

Seu Zé e Dona Peta são torcedores encarnados, “perrechés da puraca”. Hoje são seus filhos, genros e noras que atendem os clientes.  

Mas se você tiver a boa sorte de encontrá-los para conversar, irá entender por que o casal é tão querido na cidade. 

Além de produzirem e vender uma iguaria que é a cara do festival folclórico de Parintins, eles contam histórias divertidíssimas dos anos que passaram vendendo churrasquinho durante o festival, inclusive as dos seus clientes. 

É fácil notar que parte do sucesso dos comerciantes mais queridos da cidade está no estabelecimento de relações afetivas com seus clientes. 

A cada festival, muitos deles voltam ao mesmo ponto comercial para reencontrar personagens queridos como o seu Zé do Pudinho e reviver a boa experiência gastronômica e afetiva que Parintins oferece a seus visitantes.

Fotos: Dassuem Nogueira/especial para o BNC Amazonas