A esfinge e o boi Garantido
Não é possível mais aceitar que o boi das cores vermelha e branca, criado por Lindolfo Monteverde, maior campeão do festival, fique fragilizado diante de seu adversário.

Neuton Correa, por Aldenor Ferreira*
Publicado em: 08/07/2023 às 04:00 | Atualizado em: 08/07/2023 às 08:28
O Boi-Bumbá Garantido precisa urgentemente de um galpão próximo à área do Bumbódromo, arena onde ocorre todos os anos o Festival Folclórico de Parintins. É condição sine qua non para a sobrevivência do bumbá, no âmbito das disputas, com o seu rival Caprichoso.
Não é possível mais aceitar que o boi das cores vermelha e branca, criado por Lindolfo Monteverde, maior campeão do Festival, fique fragilizado diante de seu adversário por conta da ausência de um espaço adequado para a construção de suas alegorias. Afinal, seu galpão, que foi improvisado no prédio da antiga fábrica da Fabril Juta S/A, fica a 2 km do Bumbódromo.
Neste âmbito, é preciso que o governo do Amazonas, juntamente com a Prefeitura de Parintins e a Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido, desenvolva um projeto de construção de um galpão próximo da arena.
Isso tornaria menos perigoso o transporte dos módulos que compõem as alegorias do boi, movimento este que já acidentou muitos trabalhadores. Ademais, é uma medida necessária para a redução de custos e o equilíbrio das forças entre os bumbás.
As instituições supracitadas precisam tomar como exemplo e se inspirar no que foi realizado em Manaus. Na capital, as escolas de samba do grupo especial têm seus galpões ao lado do Sambódromo. A construção de um galpão próximo ao Bumbódromo traria mais segurança aos trabalhadores e, também, à população que mora nas ruas e avenidas por onde são transportados os módulos.
Nesse sentido, penso que investir na construção de galpões e demais infraestruturas que eliminem os riscos de acidentes fatais, tanto de trabalhadores quanto de turistas, e que igualem as “armas dos bois”, é investir na ampliação da festa, na sua renovação. É investir na economia do entretenimento e do turismo. Não é aceitável que uma festa mundialmente conhecida seja produzida em cima de improvisos e riscos.
Minha intenção ao escrever este texto não é apenas refletir sobre um problema específico do boi Garantido, mas também sobre a importância de investimentos públicos em todas as áreas que se relacionam diretamente com a festa dos bois de Parintins. Pois, como bem apontou o professor Alvatir Carolino, “festa dá trabalho”.
Uma festa como a de Parintins, que envolve centenas de pessoas, dá muito trabalho, no sentido do seu planejamento e organização, bem como no sentido de criação de postos de trabalho que aquecem a economia local e regional.
Sobre a participação do poder público estadual e municipal na construção de um galpão para o boi Garantido próximo ao Bumbódromo, alguém pode fazer uma objeção e dizer que isso não é da alçada do poder público, que o próprio Boi-Bumbá é que tem que resolver esta questão. Ao que eu discordo veementemente. O fomento e o desenvolvimento da cultura é, também, uma política pública de responsabilidade do Estado.
No caso do Festival Folclórico de Parintins, o poder público foi e ainda é o grande indutor do desenvolvimento da festa. Em 1988, a partir de uma visão acertada de futuro, o governador Amazonino Mendes construiu o Bumbódromo de Parintins. Talvez, sem a construção desta obra o Festival não tivesse alcançado tamanha magnitude. No presente, os governos estadual e municipal continuam sendo os principais patrocinadores deste evento folclórico.
Nesse sentido, penso ser urgente que o Governo do Amazonas e a Prefeitura de Parintins se sensibilizem diante do drama do Boi-Bumbá Garantido, se unam ao bumbá e elaborem um projeto de construção de um galpão para a confecção das alegorias do Boi da Baixa próximo ao Bumbódromo. Afinal, é no galpão que as ideias são materializadas e se transformam em espetáculo.
Não se pode comprometer, limitar ou impedir a criatividade dos artistas do boi de Lindolfo Monte Verde, de João Batista, de Emerson Maia, de Paulino Faria, de Sidney Rezende e de tantos outros por conta da falta de espaço adequado. O espetáculo singular que o Brasil e o mundo aprenderam a admirar e a se encantar precisa desta infraestrutura.
A união de todos faz-se necessária para que o Festival Folclórico de Parintins, reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ocorra dentro da paridade e de equilíbrio de forças. Atualmente, isto não é possível ao Garantido. O boi não possui um espaço adequado para o desenvolvimento do seu espetáculo.
O Garantido tem diante de si uma Esfinge. Esse enigma precisa ser decifrado, sob pena de ser devorado. No caso, não por ela, mas pelo seu adversário, o Boi-Bumbá Caprichoso que, no quesito infraestrutura de galpão, está muito bem já há alguns anos.
Ilustração: BNC Amazonas