A era dos pastores mentirosos

Vivemos a era dos pastores trambiqueiros e mentirosos. Nunca se viu tanta trapaça neste segmento como estamos vendo agora

A era dos pastores mentirosos

Neuton Correa, Aldenor Ferreira *

Publicado em: 24/02/2024 às 00:00 | Atualizado em: 24/02/2024 às 00:00

O Brasil vive o pior momento de sua história republicana. Isto é fato. Em todos os segmentos há retrocessos. No campo religioso, ligado ao Cristianismo, vivemos a era dos pastores trambiqueiros e mentirosos. Nunca se viu tanta trapaça neste segmento como estamos vendo agora. 

Há dezenas de escândalos relacionados a abuso sexual, pedofilia, estupros, desvio de dinheiro em cargos públicos, estelionato, associação com tráfico, dentre outros crimes. Certamente, há exceções neste meio. Com efeito, os crimes de vários pastores, quando vêm a público, – e é importante que venham mesmo – derramam uma camada de lama fétida que contamina todo o segmento evangélico.

Para piorar, grande parte dos pastores brasileiros decidiu, por vinculação ideológica ou por interesses financeiros, se associar a Jair Bolsonaro. É o caso dos pastores Silas Malafaia e Silas Câmara, este último também deputado federal. A depender da oferta, os Silas se vinculam a qualquer candidato. De Fernando Collor de Mello para cá, ambos apoiaram todos os presidentes da República.

O mau exemplo dos “Silas”

Os “Silas” são exemplos de pastores que não devem ser seguidos ou imitados. São dois personagens que estão sempre com o Poder Judiciário ou com o Fisco lhes rodeando. O Malafaia deve impostos à União. Segundo reportagem do portal UOL (https://www.uol.com.br/), de 17 de maio de 2021, a “Igreja e a Editora de Malafaia deviam, juntas, R$ 4,6 milhões em impostos”. Espero que ele já tenha quitado esta dívida.

Ainda, a Associação presidida por Malafaia já foi condenada a pagar 25 milhões de reais à Receita Federal. Ele tentou por todos os meios se livrar desta outra dívida, mas o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) não caiu na sua conversa e rejeitou o pedido de recurso. 

Por outro lado, Silas Câmara foi condenado e depois “descondenado” pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pela prática de rachadinha. Por meio do ministro Luís Roberto Barroso, o STF extinguiu o processo no qual havia sua condenação. A justificativa foi a assinatura do acordo de não persecução penal, uma jaboticaba jurídica tipicamente brasileira.  

Silas Câmara se livrou da condenação no STF. Mas ele não para de cometer infrações. Por isso, novamente, veio outra condenação. Dessa vez, ele teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM). Segundo reportagem da Revista Carta Capital, Câmara foi julgado e condenado no Tribunal “por gastos ilícitos com recursos financeiros na campanha eleitoral de 2022”.

Para concluir

Eu sou de um tempo em que os pastores, de modo geral, eram bastante respeitados. Possuíam largo conhecimento filosófico, político, teológico e tinham reputação ilibada. Minha maior referência foi o pastor doutor Eduardo França Lessa. Pastor Lessa, como era conhecido, tinha formação em Enfermagem, Psicologia, Sociologia e Teologia. Ele tinha outro nível de conduta ética e moral e era, acima de tudo, um intelectual. 

Com efeito, o que está em alta hoje é a teologia e a conduta de pastores à moda Silas Malafaia, Edir Macedo, R. R. Soares, André Valadão e Estevam Hernandes, entre outros. Todos são mercadores da fé do povo. A “escola” destes falsos profetas tem levado, a cada dia, pastores a perderem totalmente a credibilidade. 

Salvo as exceções, claro, atualmente as igrejas estão mais para lavanderia de dinheiro ilícito do que para Igreja de Cristo. Neste sentido, já que tomaram este caminho, é preciso que o império da lei e da Constituição Federal as alcance sem dó nem piedade. Para o bem de todos(as), a era dos pastores trambiqueiros e mentirosos precisa acabar. 

Tenho dito!

*Sociólogo

Arte: Gilmal