A desinformação como instrumento de dominação 

Desinformação é, socialmente, uma aberração

Mariane Veiga,

Por Pyr Marcondes

Publicado em: 11/12/2023 às 19:21 | Atualizado em: 11/12/2023 às 19:24

Quem não sabe, não teme. Porque não sabe. Quem não sabe, não discerne. Quem não sabe, não apreende. Quem não sabe, não compreende. Quem não sabe, não sabe. 

Três notícias recentes publicadas pela mídia no Brasil tangenciam (sem tocar no tema principal) esse assunto (os links para as três notícias vou colocar lá embaixo, que é para você não fugir aqui do meu texto). 

Uma delas é um artigo que saiu no UOL, que diz que o Brasil terá que desenvolver seu próprio modelo de remuneração para o jornalismo. 

Como diz a abertura do artigo: “Durante o seminário Caminhos para um Jornalismo Sustentável, promovido pelo Congresso em Foco, especialistas nos Estados Unidos e Canadá que palestraram sobre possíveis soluções para o enfrentamento às dificuldades financeiras enfrentadas por produtores de notícias ao redor do mundo ressaltaram que, se o Brasil pretende estabelecer um modelo de custeio do jornalismo, este deverá conter um desenho próprio, buscando evitar os problemas enfrentados nos demais países”. 

A tese é interessante. Não sei se viável na prática, mas interessante. Defende que o jornalista deve ser remunerado diretamente quando um link com algum material produzido por ele for clicado em qualquer lugar da internet.  

É justo. Mas são pouquíssimos os jornalistas que viveriam disso. No Brasil, dá pra contar nos dedos de duas mãos. É interessante, mas está longe de resolver a questão central da má remuneração da força de trabalho chamada jornalismo. 

E depois, ignorar os publishers, ou seja, imaginar os jornalistas como ilhas na sociedade, é uma bobagem sem tamanho. 

A outra é bem legal e vai na linha do que o Google News vem já fazendo, que é incentivar os focos de jornalismo e combater a desinformação online. Desta vez, num acordo com o Projor e através da criação de um fundo de investimento para isso. Aí senti firmeza. 

Diz assim abertura da reportagem, publicada no site da Associação do Jornalismo Digital: “O Projor (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo), com apoio da Google News Initiative, abriu nesta terça-feira (5) as inscrições para o Codesinfo – Fundo de Inovação Contra a Desinformação Online, programa que tem o objetivo de viabilizar o desenvolvimento de soluções inovadoras, propostas por organizações jornalísticas, e que contribuam para a redução dos efeitos da desinformação online no Brasil”. 

Esse, sem dúvida, é um dos caminhos: usar a força do mercado financeiro para resolver a questão da desinformação.  

E a terceira é que o TSE e a ANATEL estão se unindo para combater a desinformação nas eleições, incluindo fake news. Diz assim o resumo da notícia, publicada no G1: “Acordo vai permitir que TSE notifique a Anatel eletronicamente sobre páginas que devam ser retiradas do ar; comunicação hoje é feita por oficial de Justiça. Presidente do TSE defendeu ‘punições severas’ para candidatos que espalharem informações falsas”. 

Muito bem, cada uma da sua forma, as iniciativas vão na direção certa, que é combater a desinformação. 

Mas tem algo, bem mais importante e estrutural, que não se falou em nenhuma das três: desinformação é uma forma de dominação. 

Usar o desinformado a sua própria revelia (já que ele é desinformado) em prol deste ou daquele interesse tem sido uma das maiores formas de dominação de camadas e mais camadas populares do Brasil por décadas, talvez séculos. 

Para muitas zonas de poder, a informação é um risco. Um risco intruso. Um convidado bem trapalhão. Um penetra em festas que, muitas vezes, são para poucos. 

Investigar, expor, noticiar, analisar e, portanto, informar, atividades que compõem a alma do jornalismo, deveriam compor o espírito de todos os publishers que produzem informação e análises editoriais de caráter jornalístico no País.  

Temos falado muito aqui na Aurora News dos desertos de notícia. Desinformação é sinônimo disso. 

Fico bem feliz que essas coisas, seja da forma que for, estejam sendo debatidas aberta e mais democraticamente no País. 

Desinformação é, socialmente, uma aberração. 

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil