A chuva e a cidade

Em 1987, quando conheci a mãe da minha filha Amanda, percebi uma certa tristeza nela quando começava a chover. Nessa época ela militava no Movimento Meninos e Meninas de Rua e trabalhava com os pequenos canoeiros da orla do Mercado Adolfo Lisboa. Ela me explicou que a tristeza era porque quando chovia os garotos não ganhavam nada, pois não aparecia passageiro.

Adoro a chuva, mas não deixo de lado minha angústia com a situação das famílias que moram em áreas de risco e alagadiças. A nossa cidade é mais uma das tantas que não têm infraestrutura para suportar dez minutos de chuva forte. O aconchego da chuva traz para muitos o desassossego. Minha solidariedade ao povo de Manaus que padece com a falta de uma política urbana que garanta bem-estar e cidadania.

Nossa cidade é castigada pela falta de gestão pública. Quando digo que falta gestão me refiro a uma administração inteligente, planejada e responsável, com prefeitura e população interagindo. O que temos hoje são espasmos de quem está à frente dos órgãos, com apresentação de resultados pífios, desconectados dos reais problemas de Manaus. A maioria dos gestores sequer conhecem a periferia da cidade

Nossa região passa seis meses de chuva e seis meses de sol. Os povos que habitam a Amazônia desde antes da colonização aprenderam organizar suas vidas com essa realidade climática, mas as gestões que passam pela prefeitura de Manaus não conseguem pelo menos organizar um calendário de acordo com nosso clima. É de uma incompetência estarrecedora.

Enquanto o prefeito dá chilique com professores, a cidade e seu povo sofrem com a chuva, os péssimos serviços públicos e o desperdício do dinheiro arrecadado dos impostos. É uma cadeia de fricote, conversa fiada e do não saber o que fazer.

*O autor é sociólogo

Foto: reprodução/vídeo