A bandeira é nossa!

"O pavilhão nacional não merece ser usado dessa forma, não quando os interesses são antinacionais, antipovo e antidemocráticos".

Foto: Marcos Corrêa/PR em artigo de Aldenor Ferreira, sobre a Bandeira nacional

Neuton Correa

Publicado em: 11/09/2021 às 06:58 | Atualizado em: 15/04/2022 às 05:25

Aldenor Ferreira*

Nos últimos dias, o símbolo máximo de representação da nação brasileira – a bandeira nacional – sofreu agudo vilipêndio.

Nosso belíssimo retângulo verde, com seu losango amarelo ao centro, exibindo uma esfera azul celeste com estrelas, cruzada por uma faixa branca com a frase símbolo da filosofia de Augusto Conte, cobriu corpos de gente corrupta, traidora da pátria, gente má e de orientação política nazifascista.

O pavilhão nacional não merece ser usado dessa forma, não quando os interesses são antinacionais, antipovo e antidemocráticos.

Não sou especialista em vexilologia, mas desconfio muito que a turba que saiu em defesa do atual presidente da República no último dia 7 de setembro, conheça a história da bandeira nacional.

Apesar de o decreto imperial assinado em 18 de setembro de 1822 não mencionar nada sobre o significado das cores da bandeira do novo país chamado Brasil, estudiosos creditam o verde e o amarelo às casas reais da família do imperador Dom Pedro I.

O verde seria o símbolo da casa real dos Bragança e o amarelo, símbolo da casa real dos Habsburgo-Lorena, de onde descende Maria Leopoldina, primeira esposa do imperador. Por sua vez, o azul e o branco remontariam ao Condado Portucale, do qual surgiu Portugal. Reza a lenda que as cores desse condado foram escolhidas por D. Henrique da Borgonha.

Especulações à parte, os republicanos mantiveram essas cores no pavilhão nacional a partir do Decreto nº 4, de 19 de novembro de 1889, que também definiu o formato da bandeira, com as estrelas remetendo à constelação do Cruzeiro do Sul e significando as unidades da federação.  

Mesmo sem constar no decreto, popularmente novos significados foram sendo atribuídos às cores da bandeira, com o verde simbolizando a riqueza das florestas, o amarelo representando as fortunas do país, fazendo referência ao ouro, o azul remetendo ao céu e aos rios brasileiros e, por fim, o branco manifestando o desejo constante de paz.

Ao longo do tempo, a bandeira sofreu poucas modificações, todas estabelecidas pelas leis: nº 5.443, de 28 de maio de 1968, nº 5.700, de 1º de setembro de 1971 – que revogou a lei anterior – e, finalmente, a nº 8.421, de 11 de maio de 1992.

Com a mudança estabelecida por essa última lei, a bandeira brasileira passou a ter 27 estrelas, incluindo os estados do Amapá, do Tocantins, de Roraima e de Rondônia.

Apesar de eu não ser especialista em vexilologia, como disse, defendo o significado popular do verde, do amarelo, do azul e do branco do nosso pavilhão.

O verde da minha bandeira não é o verde-cinza, fruto de uma política ambiental predatória que está destruindo nossas florestas. Também não é o verde do dólar que financia o avanço de empreendimentos sobre mangues, morros, encostas e beira de rios, ou o verde que transforma tudo em lama com o estouro das barragens.

O meu verde é o verde que respeita a fauna e a flora, que incentiva pequenos produtores, mostrando-lhes novas técnicas de produção e sistemas agroecológicos. Não é o verde da soja, do milho, da cana-de-açúcar, carros-chefes do poderoso agronegócio assassino de indígenas.

O meu amarelo não é o amarelo do ouro oriundo do garimpo ilegal, que invade e destrói rios e florestas dos territórios de povos como os Ianomâmi, os Cintas-largas ou os Munduruku. O meu amarelo é o do sol, da produção de energia solar, verdadeiramente limpa.

O meu azul, não é o azul de produtos químicos despejados sem piedade nos rios e mares do país pela indústria, por fazendas etc. O meu azul é o azul do mar, dos ventos, da energia eólica, potencial timidamente explorado no nosso país.

Por fim, o meu branco é verdadeiramente o branco da paz, mas não a paz como expressão vazia que vem da boca “das gentes de bem” que militam por fuzil ao invés de comida.

Para além do significado das cores do pavilhão nacional (florestas, riquezas, céu, rios e paz), a bandeira representa soberania, independência, potência econômica, povo forte, pluralidade, diversidade, igualdade, solidariedade, liberdade, dentre tantas outras coisas.

A turba do “bem”, dos “patriotas” e “conservadores” faz uso criminoso da bandeira nacional, uma apropriação indevida desse símbolo, pois eles são, pensam e agem de forma oposta ao que ela representa.

São entreguistas, são elitistas, não desejam a igualdade, não são solidários, odeiam a pluralidade e a diversidade e, por fim, defendem ditaduras e não a liberdade. Como diria Chico César: “Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa”!

A bandeira é nosso orgulho, nosso símbolo maior. Quando olhamos para ela hasteada, sonhamos com uma grande nação, com uma potência mundial, democrática, solidária, soberana, jamais como um quintal de nações estrangeiras.

A bandeira é nossa, é do Brasil, e não de um segmento nazifascista da sociedade nacional. 

*Sociólogo