CPI aponta que Bolsonaro colocou obstáculo para Coronavac e Pfizer

Neste sábado (17), a vacinação completa seis meses no país com apenas 16,73% de imunizados

CPI aponta que Bolsonaro colocou obstáculo para Coronavac e Pfizer

Da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 17/07/2021 às 08:55 | Atualizado em: 17/07/2021 às 09:02

Segundo aponta a CPI da covid, as vacinas Coronavac, do Instituto Butantan, e da Pfizer, sofreram resistência do governo Jair Bolsonaro para serem compradas.

Após seis meses de vacinação no país, as duas respondem hoje por 50,2% das doses aplicadas no Brasil. Neste sábado (17), o início da vacinação no país completa seis meses.

Até sexta-feira (16), 15,73% da população foi totalmente imunizada (tomou duas doses ou a dose única). Como informa o G1.

A CPI colheu depoimentos e documentos que mostram o Ministério da Saúde participava, em paralelo, de negociações. Isso com suspeitas de irregularidades e até pedido de propina.

Depoimentos e documentos mostram que o Ministério da Saúde colocava obstáculo para compra dos dois imunizantes.

Enquanto isso, a pasta participava, em paralelo, de negociações com suspeitas de irregularidades e até pedido de propina.

Sem que nenhuma dose tivesse sido entregue, o contrato com a Covaxin, foi assinado em tempo mais curto que as demais. Acabou suspenso diante dos indícios de fraude.

Impactos do governo

A vacina da AstraZeneca, responsável por mais 46,6% das doses aplicadas, também foi impactada por ações do governo.

A CPI avalia que a postura hostil de Bolsonaro em relação à China resultou em atraso dos insumos para a produção das vacinas pela Fiocruz.

Contudo, o imunizante da Janssen é o único que não está na mira da comissão até o momento. Essa vacina responde pelos 3,3% restantes de doses aplicadas no país,

Coronavac

A vacina da Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com um laboratório chinês, foi uma das que tiveram a compra dificultada pelo governo Bolsonaro.

Em diversas ocasiões, o presidente, que mantinha postura crítica à China, disse que não iria comprar vacina daquele país e questionou a eficácia do imunizante.

Como pano de fundo, havia ainda um componente político: a disputa dele com o governo paulista, a quem o Instituto Butantan é ligado.

João Doria, governador de São Paulo, pode ser seu eventual adversário nas eleições presidenciais de 2021.

Em julho de 2020, o Butantan fez uma primeira oferta. Previa 60 milhões de doses para serem entregues ainda em 2020 e mais 100 milhões em 2021, mas ficou sem resposta.

No dia 20 de outubro, o Ministério da Saúde chegou a anunciar a compra de 46 milhões de doses. Mas, no dia seguinte, Bolsonaro mandou cancelar a aquisição.

Pazuello

Houve ainda outra polêmica envolvendo a negociação da Coronavac.

Ontem (16), veio à tona um vídeo de março que mostra Pazuello reunido com representantes de uma empresa. Ela intermediava a venda de doses da Coronavac por US$ 28. Isso quase o triplo do que foi pago ao Butantan: US$ 10 por dose.

Em nota, o Ministério da Saúde disse que a atual gestão não tem conhecimento de memorando de entendimentos para aquisição de doses do imunizante.

Pfizer

Além disso, as ofertas da farmacêutica Pfizer, que chegavam a 70 milhões de doses, com possibilidade de entrega de 1,5 milhão ainda em 2020, ficaram meses sem resposta.

A primeira oferta foi em 15 de agosto de 2020. O laboratório cobrou um posicionamento diversas vezes do governo Bolsonaro.

Em novembro, o então secretário de Comunicação Fabio Wajngarten tomou conhecimento de uma carta enviada pela Pfizer em setembro que estava sem resposta havia dois meses, segundo contou à CPI.

Pazuello justificou a demora para assinar o contrato alegando que havia cláusulas abusivas. Segundo ele, que as tratativas só puderam avançar após uma mudança na legislação acerca da isenção de responsabilidade em caso de efeitos colaterais.

Esse argumento é contestado pelo comando da CPI.

Astrazeneca

No caso da Astrazeneca, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford, o governo assinou uma parceria para a produção do imunizante pela Fiocruz.

No entanto, segundo a CPI, atritos do governo brasileiro com a China causaram atraso no recebimento de insumos usados na fabricação.

A comissão também investiga uma negociação paralela com o Ministério da Saúde. Segundo a CPI teria havido um pedido de propina pelo então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias.

Covax Facility

O Brasil optou pela cota mínima de doses no consórcio internacional Covax Facility. Ele é formado por mais de 150 países e liderado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Segundo documentos enviados pelo Itamaraty à CPI da covid, o governo optou em agosto de 2020 por doses que seriam suficientes para imunizar 20% da população. No entanto, em setembro, reduziu para 10%.

O Covax permitia a compra pelos países de vacinas para até 50% de suas populações.

A lei que autorizou o Executivo federal a aderir ao consórcio Covax Facility só foi sancionada em 2 de março deste ano.

Por meio do consórcio, o Brasil já recebeu doses tanto da Pfizer quanto da Astrazeneca.

Janssen

O governo assinou ainda contrato com a Janssen, vacina fabricada pela Johnson & Johnson.

Foram adquiridas 38 milhões de doses. ao lado da Coronavac, Pfizer e AstraZeneca, é uma das que estão sendo aplicadas no Brasil.

A CPI da covid não apontou problemas na negociação.

Covaxin

Um dos principais alvos de investigação na CPI, a assinatura do contrato com a Covaxin foi mais rápida em comparação a outras vacinas. Essa vacina é desenvolvida pelo laboratório indiano Bharat Biotech.

A negociação era intermediada por uma empresa chamada Precisa Medicamentos.

No entanto, diante das suspeitas de irregularidades, o contrato acabou suspenso.

À CPI, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda relatou à comissão ter sofrido pressão para aprovar a importação. Ele disse ter contado a Bolsonaro sobre irregularidades, como o pedido de pagamento antecipado, algo que não estava previsto no contrato.

Cansino

A Cansino é outra vacina cuja negociação é considerada polêmica.

Foi assinada uma intenção de compra pelo governo federal prevendo US$ 17 por dose da vacina Convidecia, desenvolvida pelo laboratório chinês CanSino.

O valor está bem acima do pago por outras vacinas pelo governo.

O negócio foi intermediado pela empresa Belcher Farmacêutica. Ela é investigada e, segundo reportagem publicada pela “Folha de S. Paulo”, teria ligação com o deputado Ricardo Barros. O negócio acabou não avançando.

Sputnik

No dia 12 de março de 2021, o Ministério da Saúde assinou contrato para compra de 10 milhões de doses da Sputnik V, desenvolvida pelo instituto russo Gamaleya.

O anúncio do ministério logo após governadores e prefeitos também anunciarem seus próprios acordos para fornecimento de doses.

As doses contratadas pelo governo federal serão importadas pelo laboratório União Química, parceiro do Fundo Russo de Investimento Direto, que representa o imunizante.

No entanto, ainda falta a autorização da Anvisa para uso emergencial, e nenhuma dose foi entregue ao Brasil.

Leia mais no G1.

Foto: Jeferson Rudy/Agência Senado