Sacerdotes do diabo

As maiores denominações evangélicas brasileiras trabalham com um outro evangelho, um evangelho que não é o mesmo de Jesus

Arte para o artigo da semana do sociólogo aldenor ferreira, no BNC AMAZONAS

Neuton Correa, por Aldenor Ferreira

Publicado em: 19/06/2021 às 05:24 | Atualizado em: 19/06/2021 às 05:24

De acordo com a pesquisa DataFolha, de 13 de janeiro de 2020, o Brasil é um país de maioria cristã, dividida entre 50% de católicos e 31% de evangélicos. Ou seja, parece que 81% da população brasileira é sacerdote de Cristo. Será?

O segmento evangélico cresceu bastante nos últimos anos, 31% equivalem a 65,4 milhões de pessoas e isso não é pouca coisa. Todavia, uma parte considerável desses fiéis se transformou em sacerdotes do Diabo, ainda que haja, certamente, doces exceções.

As maiores denominações evangélicas brasileiras (todas pentecostais ou neopentecostais) trabalham com um outro evangelho, um evangelho que não é o mesmo de Jesus, de Mateus, de Marcos, de João, de Paulo, dentre outros.

O ideal asceta da ética protestante que, segundo Max Weber, foi um aspecto importante para o êxito do capitalismo, fundamentalmente nos Estado Unidos, é totalmente outro nessa nova teologia cristã à moda brasileira.

Apenas para relembrar, o ideal asceta, do qual deriva a frase “ascetismo piedoso”, perpassa por questões éticas e morais como: abstenção de prazeres carnais e do conforto material; busca da perfeição moral e espiritual; disciplina, autocontrole do corpo e do espírito; e o apreço pela verdade e pela virtude, que andam lado a lado.

Mas isso tudo é anacrônico.

Apesar da sinceridade de muitos fiéis, hoje, o que os sacerdotes, líderes desses segmentos querem mesmo é dinheiro, estão atrás do vil metal. Para isso, se aliaram ao Diabo, visto que, coincidência ou não, o índice de 31% constitui exatamente o “ótimo” e “bom” das pesquisas de avaliação do desempenho presidencial, que não muda nem com “reza braba”.

Interessante é notar que muitos sacerdotes católicos e evangélicos também estavam na base de apoio dos governos do Partido dos Trabalhadores. No melhor estilo Deng Xiao Ping, “não importa a cor do gato, contanto que ele cace o rato”, essas lideranças supostamente abandonaram o velho Diabo para abraçar um outro, mais jovem.

Ora, senhoras e senhores, Diabo é Diabo, não importa a cor e nem a idade. O Diabo é o inimigo de Cristo.

Nesse sentido, Paulo de Tarso, sistematizador do cristianismo, escreveu aos Coríntios: “não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?” (2 Coríntios 6:14,15).

Algum teólogo cristão pode objetar e dizer: “nessa passagem, Paulo está se referindo ao casamento de um homem cristão com uma mulher não cristã e vice-versa, nada tem a ver com o tema que você está tratando aqui”, ao que eu responderia: “meu caro teólogo, é exatamente por esse casamento não poder ou dever ocorrer, sendo antibíblico, que o trago aqui, em paralelo ao matrimônio de alguns sacerdotes com o poder”.

Isso posto, tomando a proibição do casamento como analogia, somos levados à seguinte conclusão: jamais poderia haver apoio incondicional de parte significativa da igreja evangélica e católica brasileira a um governo criminoso, mentiroso, genocida, nazifascista, corrupto, incompetente, traidor dos interesses nacionais, vendilhão etc.

Afinal, mentira, corrupção, avareza e assassinato não procedem de Deus, é tudo coisa do Diabo, com permissão do Soberano, é claro.

Portanto, esse casamento não poderia existir, é julgo desigual. E Paulo deixa isso claro no trecho que retomo aqui: “E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?” (2 Coríntios 6:15).

É um dado de realidade que parte considerável dos cristãos brasileiros se transformou em sacerdote do Diabo, ignorando a corrupção do governo, bem como suas mentiras, agindo de forma oposta aos princípios morais e filosóficos do cristianismo.

Ou seja, ao invés de repreender as ações genocidas do atual governo e suas inverdades, alguns não só o defendem como ajudam a espalhar fake news, advogam causas armamentistas, seguem charlatões, fingem piedade, odeiam a vida asceta, amam os prazeres da carne, amam as benesses do poder etc.

Inauguram e passam a seguir, portanto, um outro evangelho que, como dito, não é o mesmo de Paulo nem de Jesus.

Assim, outro apóstolo importante do cristianismo escreveu em uma de suas cartas: “a religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo” (Tiago 1:27).

Não há, então, brecha para a união da luz com as trevas nos valores que deveriam nortear 81% dos brasileiros. Nesse sentido, defender o indefensável é contrário à moral cristã.

Seria melhor, então, que cada “sacerdote” se preocupasse com as palavras vindas diretamente da boca do Mestre, habilmente registradas por seu discípulo Mateus e que reproduzo a seguir.

“Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a maldade (Mateus 7:22,23).

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Sociólogo

Arte: Alex Fideles