Lula avalia participar de protesto contra Bolsonaro no fim de semana
A tendência, segundo pessoas próximas ao petista ouvidas pela Folha, era que ele descartasse a hipótese, diante do risco de contaminar eleitoralmente a mobilização

Publicado em: 17/06/2021 às 08:42 | Atualizado em: 17/06/2021 às 08:47
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avalia a possibilidade de comparecer à manifestação nacional contra o presidente Jair Bolsonaro marcada para sábado (19) e, até esta quarta-feira (16), ponderava tanto conselhos contrários quanto favoráveis à sua presença nas ruas.
A tendência, segundo pessoas próximas ao petista ouvidas pela Folha, era que ele descartasse a hipótese, diante do risco de contaminar eleitoralmente a mobilização, convocada por partidos como PT, PSOL e PC do B, centrais sindicais, movimentos sociais, organizações estudantis e coletivos progressistas.
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Embora em público exista apoio à participação de Lula, nos bastidores se revelou o temor de que o gesto possa servir de combustível para a narrativa bolsonarista que busca tachar os protestos da oposição como evento de apoio ao petista, maior rival de Bolsonaro para as eleições de 2022.
Um dos argumentos que desincentivam a ida foi apresentado por quadros do PT ligados à área da saúde e que acompanham o avanço da pandemia da covid-19.
O alerta foi o de que seria impossível evitar aglomerações em torno do ex-presidente em um ambiente público.
Lula, que retornou a São Paulo após compromissos políticos no Rio de Janeiro, provavelmente iria ao ato previsto para este sábado às 16h na avenida Paulista.
Aliados de Lula consultados pela Folha disseram, sob anonimato, que desencorajaram a ida do ex-presidente por temerem que o gesto dê conotação eleitoral às mobilizações. O apelo é para que o levante seja identificado como uma iniciativa da sociedade e agregue setores ideológicos variados.
Nas palavras de um militante, o líder petista “não tem nada a ganhar indo às ruas, mas tem a perder”.
Os organizadores trabalham para evitar fragmentações, principalmente no momento em que a convocação ganha a adesão de correntes de outros partidos, como PDT, PSB e Rede Sustentabilidade.
“Minha opinião é a de que Lula deveria gravar um vídeo e deveria ir. E acho que essa é a opinião do PT”, afirmou o secretário de comunicação do partido, Jilmar Tatto. Ele prega que o ex-presidente sustente na manifestação seu discurso em prol de vacinas, da vida e do impeachment, sem falar de eleição.
“Não podemos deixar de ir para a rua contra o governo. No PT isso está pacificado”, completou Tatto.
A posição oficial da campanha Fora, Bolsonaro é a de que o ex-presidente “é sempre bem-vindo”, já que concorda com as causas levantadas.
De acordo com a assessoria, “o ato tem uma bandeira clara” pela saída de Bolsonaro, e todos os que compartilham dessa vontade são acolhidos.
O presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Iago Montalvão, também declarou não ver problemas na adesão. “Toda participação deve ser bem-vinda”, disse ele, que é filiado ao PC do B.
“A nossa opinião é que todo o mundo tem que ir para a rua, para mobilizar, fortalecendo essa luta. E os dirigentes dos partidos têm que dar o exemplo”, afirmou a presidente do partido UP no estado de São Paulo e porta-voz da coalizão Povo na Rua, Vivian Mendes.
O presidente municipal do PDT em São Paulo, Antonio Neto, que planeja estar na avenida Paulista, disse à Folha que particularmente não vê problema na eventual participação de Lula. O aliado do presidenciável Ciro Gomes (PDT), porém, considera o risco de o gesto afugentar antipetistas.
“Não temos nenhuma restrição a ninguém. Nossa luta é contra o Bolsonaro. Mas talvez a presença dele [Lula] possa desestimular a participação dos que não querem nem Lula nem Bolsonaro, a maioria da população brasileira”, disse Neto, que também preside a CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros).
O ex-prefeito Fernando Haddad, que disputou a Presidência pelo PT em 2018 e é pré-candidato a governador de São Paulo em 2022, confirmou a intenção de ir à Paulista no sábado. A presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, que esteve no ato de maio, deverá comparecer desta vez em Curitiba.
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Foto: Divulgação/PT