Diário de uma quarentena | 53º dia, 12 de maio – Garrafada

Enquanto não temos a receita, e espero não tê-la, volto ao tempo para preparar garrafada de remédio

Neuton Correa, de Neuton Corrêa*

Publicado em: 12/05/2020 às 21:05 | Atualizado em: 12/05/2020 às 21:05

Hoje é terça-feira. São 19h42.

Foi um dia de frustração. Ontem, quando os números de casos e de mortes caíram, na verdade despencaram, comemorei. Ainda que contido, mas comemorei.

Mas hoje foi o recorde, de novo, recorde do recorde, que eu já achava alto demais.

Foram 1.249 casos confirmados do novo coronavírus (covid-19) nas últimas 24 horas. O último recorde foi de 1.198 casos, registrado no sábado.

O número de mortes anunciadas foi mais que o dobro de ontem. Ontem, foram 31, hoje 63 óbitos.

Agora, o Amazonas tem 14.168 casos e 1.098 perdas para a doença.

A cidade voltou a normal. É o que parece. Quase tudo está funcionando, apesar da Prefeitura de Manaus e o Governo do Estado ainda continuarem tentando segurar o povo em casa.

 

Divórcio da realidade

Enquanto muitos sofrem, poucos se preocupam. Falo do comportamento dos deputados da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM).

O parlamento gastou um dia discutindo o impeachment do governador e do vice-governador do Estado, porém, coronavírus foi palavra quase não ouvida nessa sessão.

 

Garrafada

Observando milhares de pessoas contaminadas pela Covid-19, parentes e amigos infectados, a sensação que sinto é que mais cedo ou mais tarde a doença baterá em minha porta.

Vizinhos mortos, amigos mortos, famosos mortos, celebridades mortas. São 4,2 milhões de contaminados no mundo e 291,3 mil mortos em todos os continentes.

O que mais falta para eu acreditar que isso será uma verdade que terei que resolver cara a cara, provavelmente em breve?

Ainda mais depois que li na mídia que o vírus entrou na casa mais protegida do mundo, a Casa Branca, onde mora o presidente dos Estados Unidos.

Fiz tudo o que foi possível para afastar a doença daqui.

Minhas mãos estão brancas de tanto álcool, água, sabão e água sanitária. Máscaras viraram instrumentos de primeiras necessidades.

Mas como evitar de ajudar alguém que precisa? Parentes e amigos têm nos procurados, contaminados.

Então, estou sublimando que poderá acontecer. Espero que sejam poucos sintomas, mas, se chegarem fortes, espero estar forte.

Por isso, a Darci começou a preparar remédios caseiros.

Mel de abelha, limão, flor de jambu, alho, um pouquinho de quina (casca da árvore da qual se tira a cloroquina), andiroba, copaíba, um pouquinho de tudo e tudo numa garrafada só.

Sim, garrafada. Enquanto não temos a receita, e espero não tê-la, volto ao tempo para preparar garrafada de remédio.

Para alguma coisa servirá. Nem que seja para reforçar a minha imunidade, que espero estar boa.

 

*autor é jornalista e diretor-presidente do BNC Amazonas

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