Diário de uma quarentena | 35º dia, 24 de abril – O Brasil de costas para o vírus

O mais importante hoje, na República, foi a troca de ministro no Ministério da Justiça

Neuton Correa, de Neuton Corrêa*

Publicado em: 24/04/2020 às 20:28 | Atualizado em: 25/04/2020 às 13:07

Hoje é sexta-feira. São 18h32.

Faz um mês que o Amazonas registrou a primeira morte pelo novo coronavírus (Covid-19).

Sobressaltadas com a chegada da pandemia, as pessoas ficaram apavoradas com a notícia.

Muita gente nem acreditou e o BNC AMAZONAS, autor da publicação em primeira mão, passou mais de meia hora atacado até a informação ser confirmada pelas autoridades de saúde.

Hoje, o Estado anunciou mais 21 mortes pela doença. O Amazonas chegou a 255 vítimas fatais em 30 dias.

Só mais novos números para somar à contagem e subtrair do convívio de parentes e amigos.

Naquele 24 de março, o Amazonas tinha 47 casos confirmados da doença, em menos de duas semanas de contagem.

Hoje, já são 3.194, sendo 306 em 24 horas.

 

Ajuda 

A doença já se alastrou pelo interior do Estado.

Dos 62 municípios amazonenses, 41 já registraram casos.

Os três maiores municípios depois de Manaus, Parintins, Itacoatiara e Manacapuru, são os mais infectados.

Manacapuru já tem 247 casos e 14 mortos; depois, bem distante, Itacoatiara com 60 casos e seis óbitos.

Trabalhando em casa e sem ter mais condições de, sozinho, lançar os números no mapa do site, pedi ajuda da Darci.

Observem como o mapa já está quase todo preenchido pela Covid-19.

 

No Brasil

Nacionalmente, os números de contaminação e mortos pelo vírus aumentam.

Em todos os estados já são 52.995 novos casos confirmados e 3.670 mortes em decorrência da doença.

Hoje, foram contados mais 357 mortos e esse número já é o segundo maior registrado em um único dia.

O recorde foi ontem, com 407 mortos em 24 horas.

São Paulo é o Estado mais castigado pela pandemia, com mais de 1,5 mil óbitos.

Lá, também, para tentar desafogar a grande quantidade de enterros, a prefeitura passou a autorizar sepultamentos noturnos.

 

O Brasil de costas para o vírus

Nesses 35 dias que registro os números do coronavírus, as mortes, o comportamento da sociedade e da classe política diante da pandemia, hoje, foi o de maior indignação para mim.

Já vinha remoendo esse sentimento há dias.

Afinal, o valor da vida é imensurável, acredito.

Imaginei no começo dessa tragédia que os sentimentos de humanidade e solidariedade iriam prevalecer.

Imaginei também que cada perda representaria uma peça importante na construção de uma outra sociedade.

Mas a vida, o valor da vida se resumiu a números, a indiferença e banalidade.

A dor que aflige e mata já não mais comove.

O drama de hospitais lotados, os cemitérios congestionados e a fome de quem não consegue mais sair para trabalhar por causa da doença não têm mais potencial para sensibilizar ninguém.

Comove muito menos aqueles que podem ou poderiam aliviar esses sofrimentos.

Hoje, o Brasil, o poder central, nem mais contou os mortos, nem mais contou os infectados.

As 3.670 vítimas fatais da doença deixaram de ser até detalhe.

O mais importante hoje, na República, foi a troca de ministro no Ministério da Justiça.

A notícia do dia foi essa.

O Brasil deu as costas para o vírus.

 

*autor é jornalista e diretor-presidente do BNC Amazonas

Arte: Alex Fideles