Diário de uma quarentena | 15º dia, 4 de abril – A câmara frigorífica e o estranho silêncio

A chegada de uma câmara frigorífica ao hospital Delphina Aziz para congelar corpos de vítimas do coronavírus mexeu com a cabeça das pessoas

Câmera Frigorífica Delphina

Neuton Correa,

De Neuton Corrêa*

Publicado em: 04/04/2020 às 21:32 | Atualizado em: 04/04/2020 às 22:17

É o terceiro sábado deste diário.

São 18h14.

O Amazonas conta agora 311 casos de coronavírus.

Foram 51 registros novos, todos em Manaus, nenhum no interior.

Hoje também, até aqui, o governo não anunciou nenhuma morte. Parou em doze.

Mas informa que existem 1.034 pacientes com sintomas do mal e que tiveram amostras coletadas para saber se é o coronavírus.

Vinte e uma pessoas estão lutando pela vida em leitos de UTI.

O governador Wilson Lima aprofundou ainda mais as medidas restrições de circulação de pessoas.

Agora, o foco do Estado é o transporte terrestre interestadual e intermunicipal, que está proibido.

 

A doença no Brasil

O País registra até agora 10.278 casos confirmados e conta 445 mortos (20h11).

As autoridades continuam recomendando higiene e confinamento social.

Se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estiver certo, até outubro o Brasil estará livre da pandemia.

A presidente da Corte manteve hoje o prazo final para regularização partidária dos políticos que querem disputar cargos de prefeito e vereador.

 

EUA anunciam muitas mortes

Em todos os continentes o novo coronavírus já infectou 1.197.405 (21h11) pessoas e matou mais de 64 mil.

Os Estados Unidos já diagnosticaram 305.820 casos e lidera o ranking da doença no mundo.

Lá já morreram 8.291 cidadãos norte-americanos e o presidente do País fez pronunciamento, dizendo:

“Entre esta semana e a próxima semana serão as mais difíceis, e haverá muitas mortes, infelizmente”.

 

Preocupação de mãe

Consegui falar com meus pais, na zona rural de Parintins. A telefonia não me permitia. Eles estão bem.

“Teu pai está capinando”, disse minha mãe, acrescentando:

“A gente está ouvindo na rádio. Te cuida, meu filho”.

 

O Rhaygner está bem

Só hoje vou registrar o que aconteceu com o Rhaygner ontem.

Ele teve febre.

Foi a Darci que me falou, baixinho, sussurrando:

“Já dei remédio”.

Aí, tremi. Já foi o DJ Kleyton; agora é o Rhaygner.

Lembrei que ele e o DJ entravam pela madrugada barulhando com aqueles jogos de computadores que eu nem sei o nome.

Ficavam no mesmo quarto.

Eu ia contar isso ontem, mas a mãe dele, em Nhamundá (AM), entraria em desespero.

Esperei para ver a evolução do quadro.

Hoje ele acordou bem. Estava disposto, visivelmente disposto.

“Estou bem, tio”, disse, para me tranquilizar.

 

Corona voucher para o DJ

O DJ quis voltar hoje para casa.

Está punido. Só volta depois da pandemia.

Afinal, ele deu duas escapulidas deixando a gente em casa preocupados quando voltou.

Contei aqui. Ele adoeceu em plena pandemia. Teve febre alta e foi pra casa da mãe dele, deixando sinais de que suspeitava que poderia estar com coronavírus.

Não estava.

“Pô, mano, não tem festa pra tocar. Tô sem grana”.

Achei razoável o argumento e combinei um corona voucher pra ele ficar por lá até o vírus passar.

 

A câmara frigorífica e o estranho silêncio

Ontem, depois que publiquei o capítulo anterior deste diário, no qual falei do filhote, três amigos do Cacique News me provocaram numa videoconferência.

Esses amigos são o Alexandre Buiú, o Ney Cabeça e o Juliano Petro Velho.

Queriam que eu fosse com eles no lago do Cacau Pirêra, em Iranduba (AM), onde compro meus peixes.

Preciso fazer um parêntese para interagir com uma leitora destes relatos.

É com a dona Mirian Belmont, esposa do amigo, coronel Fabiano Bó. Ela me deu uma dica:

“Filhote com tucupi fica muito bom”.

Já aceitei a dica. Assim que o vírus for embora, vou experimentar.

Voltemos aos três amigos.

Estavam animados e concordei.

“Vamos: eu no meu carro e vocês no carro de vocês para evitar contatos”.

Acontece que, depois dessa conversa, duas fotos viralizaram na noite. Era o registro da chegada de uma câmera frigorífica onde ficarão os mortos do coronavírus no Amazonas.

O container ficará no estacionamento do hospital Delphina Aziz, para onde estão sendo levados os pacientes graves com a doença.

Sim, gente: uma câmara frigorífica para conservar mortos do coronavírus.

Essa notícia mexeu com a cabeça de muita gente, que ainda duvidava da importância do isolamento.

Por exemplo, o Segundinho não conseguiu dormir.

O Buiú, o Cabeça e o Petro Velho, também, porque já faz 24 horas que combinamos a ida ao lago e até agora eles não falaram mais nada.

Não recebi sequer uma mensagem, desistindo da pesca.

 

*O autor é jornalista e diretor-presidente do BNC Amazonas

Foto: BNC AMAZONAS