O movimento indígena e a questão mineral na Amazônia

Projeto de Bolsonaro sobre exploração mineral em terras indígenas atinge o Amazonas

Neuton Correa, por Ademir Ramos*

Publicado em: 05/03/2020 às 05:49 | Atualizado em: 05/03/2020 às 07:35

De forma irresponsável o presidente Jair Bolsonaro de uma hora pra outra manda para Câmara Federal um projeto de lei em atenção à exploração mineral em terras indígenas atingindo diretamente a Amazônia, em particular, o Estado do Amazonas por concentrar a maior população indígena do Brasil.

De imediato, o ato do Palácio do Planalto recebeu os protestos por reduzir a mineração a práticas de garimpagem que no Brasil em crise tem se multiplicado na Amazônia como uma verdadeira praga.

De qualquer modo, a iniciativa do presidente põe em questão o grande valor e valia que é a mineração sustentável para o desenvolvimento regional.

O fato em pauta requer ampla discussão no congresso nacional, mas, sobretudo, no movimento dos povos indígenas.

É verdade que a questão não é unânime entre as lideranças indígenas, mas é verdade também que o tema é recorrente remetendo-nos aos anos 70, criando dessa forma um lastro de discussão, fortalecendo as lideranças e suas organizações indígenas.

O que é condenável é um determinado missionário, antropólogo e ongueiro pretender calar no grito as lideranças indígenas afrontando as comunidades e arrogando para si a tutela desses povos na Amazônia, comportando-se pior do que a FUNAI nos tempos do coronelato da ditadura. Algumas etnias já perceberam esse movimento.

Não sabem eles ou não querem saber que atualmente temos 3 (três) casos que mereciam ser analisados por esses arrogantes, mandantes dos povos indígenas.

Primeiro, no rio Negro a racionalidade organizacional está centrada na formação das cooperativas indígenas; segundo, a experiência de mineração empresarial que beneficia diretamente os povos Waimiri-Atroari. E o terceiro foi a experiência do contrato de risco sob a direção da Petrobras atingindo diretamente as terras dos Sateré-Mawé.

A questão em debate suscita determinados valores políticos e morais e pauta a autonomia do movimento indígena frente o dirigismo missionário.

É condenável sob todos os aspectos essa prática de Ong´s que se alimentam do ufanismo e da extrema miséria dos povos, desprezando as políticas públicas para se firmarem como necessárias e úteis.

É imperativo nesse momento o respeito ao movimento indígena centrado nas lideranças de base articuladas com suas próprias organizações sociais fincadas na autonomia dos povos.

A perspectiva desse novo tempo que nos impõe profunda e livre reflexão deve ser a da sustentabilidade e independência das comunidades.

 

*O autor é professor, antropólogo, coordenador do NCPAM/Dpto. de Ciências Sociais, sendo também o primeiro presidente da Fundação Estadual dos Povos Indígenas do Amazonas.