A recolonização da Amazônia – Parte I A ocupação do território

Mariane Veiga
Publicado em: 18/09/2019 às 16:28 | Atualizado em: 18/09/2019 às 16:28
Por Thomaz Antonio Barbosa
O discurso ambiental de Jair Bolsonaro e seu propenso projeto para desenvolver economicamente a Amazônia faz um eco corrosivo nas relações internacionais, arrebata paixões de aliados ao passo que une contra si uma casta acostumada a lucrar com a miséria alheia. Todavia as palavras do nosso comandante em chefe merecem esclarecimentos e ressalvas.
Desde o inicio do século XVII, ano 1612, quando os franceses invadiram Upaon-Açuo, construindo o Fourt de Saint-Louis, que por meio da União Ibérica os portugueses foram requisitados a defender as terras espanholas, começava a se configurar um segundo estado lusitano no Novo Mundo, chamado em princípio de Maranhão e Grão-Pará, administrado diretamente por Lisboa.
Em 1615 a ilha de São Luís pertencia a Portugal. Com a coroação de Dom José I, o novo rei, e a ascensão ao poder de Sebastião José de Carvalho e Mello, o conde de Oeiras, o gabinete josefino adota como política ultramarina prioritária o domínio e soberania da região amazônica, a América Setentrional, os sertões do norte.
De imediato é posto em prática um plano de reformas administrativas em Portugal e Ultramar baseado na descentralização do poder para fortalecer o estado e com ele a necessidade de secularização do governo temporal, saindo das mãos das ordens religiosas passando para os civis.
O estopim desse abate ao governo espiritual se deu por meio da liberdade e a dignidade social do índio, com o surgimento de uma nova vassalagem; a organização do comércio, por meio da criação de uma companhia, por fim, o fortalecimento da defesa e a demarcação dos limites. Dessa forma se garantia a soberania portuguesa sobre o territorial amazônico.
Em 1751, um ano após a celebração do Tratado de Madri, é mandado para governar o Maranhão e Grão-Pará o capitão-general Francisco Xavier de Mendonça Furtado, designado também Plenipotenciário Demarcador dos Limites. O mandatário era meio-irmão do conde de Oeiras e Primeiro Ministro de Portugal, Sebastião José de Carvalho e Mello. Como estratégia de aproximação e ocupação soberana do território em disputa ele troca a sede do governo saindo de São Luís para Nossa Senhora de Belém, com isso o estado passa a se chamar Grão-Pará e Maranhão.
No dia 28 de dezembro de 1754 Mendonça Furtado desembarca em Mariuá, no Rio Negro, uma aldeia povoada por índios Barés, Manaós, Passés, Uaranacuacenas, Banibas e os temíveis Muras, missionada pelos frades carmelitas que por meio do plano de ocupação da Amazônia passa a sediar o governo e as demarcações.
Em primeiro de janeiro de 1756 o governador funda no arraial dos Trocanos a Vila de Borba, a Nova, a primeira dos sertões. Em 06 de maio de 1758 é criada com sede em Mariuá, renomeada como Barcelos, a Capitania de São José do Rio Negro, prenúncio do estado do Amazonas.
A história é longa faremos um salto na cronologia e nos fatos, porém manteremos a concisão lógica. Em 1822 o Brasil se emancipa de Portugal e no ano seguinte anexa as terras luso-hispânicas do norte, formando o país que somos. Desde então o rico e próspero Grão-Pará, Maranhão e Rio Negro não tem passado de um terreno baldio no quintal brasileiro.
Nunca recebemos a atenção devida dessa pátria injusta por pura incapacidade cognitiva de entendê-la e administrativa de gerenciá-la. Portanto, quando Jair Bolsonaro lavar nossa alma dizendo ao emissário alemão que a Amazônia é nossa a primeira coisa que ele deve fazer é integrá-la ao Brasil ou devolvê-la aos seus legítimos donos.
*O autor é contador, formado em ciências contábeis pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), MBA em marketing pela Universidade Gama Filho e mestrando em ciências empresariais na UFP/Porto, em Portugal.
Foto: Divulgação/ Ibama