Qual é o papel do bandeirinha?

Aguinaldo Rodrigues
Publicado em: 13/05/2019 às 13:21 | Atualizado em: 13/05/2019 às 13:21
Por Antônio Barbosa*
É esquisito viver em um país onde o povo chama de mito um indivíduo que endeusa o Olavo de Carvalho. Embora o Brasil de agora seja o reflexo do que foi construído ontem, a polaridade cega e excruciante, que julga e condena baseada em seus próprios conceitos, não pode prevalecer.
Entretanto, há um avanço gradual, excludente e necessário, não diria que justo, todavia, oportuno, que contribui para a evolução ou involução da espécie em sua convivência harmônica de grupo. Por esse viés a era do novo nos levará à Marte ou ao magma.
O que há de condenável no policial depor contra a sua função quando apoia a militarização da sociedade para combater o crime? Viveríamos melhor sem a polícia, sem pagar impostos para mantê-la? Sim, pois a minha sogra, sexagenária, não pode ser penalizada duas vezes, uma com o fisco outra com a aquisição de uma arma. O novo nos traz o cidadão agindo como auxiliar das forças auxiliares no combate à incompetência do Estado.
Na semana passada li uma postagem em rede de social de um indivíduo ex-candidato a vereador derrotado com uma fartura de votos, onde ele, o cidadão, se queixava da provável extinção da função de cobrador de ônibus no transporte público de Manaus.
Como diria aquele velho eremita, “tá explicado” o porquê do intelectual de Facebook não ter se elegido para nos representar, sem demérito dos que conseguiram o cargo.
Para os defensores do navio a vapor queremos saber o que será feito do frentista? Do jornalista noticiarista? Do caixa bancário, do contador? Alguém de boa memória lembra do técnico de eletrônica ou do teleptista? Não há mais espaço para corretores de seguros, valores, imóveis e outras grifes. Para que serve mesmo o deputado estadual, hein?!
Nos países mais desenvolvidos, uso de advogados está em acelerado processo de obsolescência, o que não é novidade para outras profissões tão essenciais até o Natal de 2018. Diploma de bacharel já não serve mais para adornar parede, quanto mais o bilheteiro do metrô de Londres.
Antes que me chamem de viúva do Lula ou de bolsominion, declaro que tenho mais de dois neurônios, que sou capaz de falar de amor, sexo, Beatles, Marília Mendonça, Zico, Maradona e boi-bumbá; acrescento que pelo fato de se ter em mãos um celular com acesso a redes sociais o indivíduo não pode achar que ascendeu ao nível de esclarecido.
Porém, a cura para a doença de ontem é a certeza da morte hoje. Saímos das mãos de Durkheim, Weber e Marx para cairmos nas garras de Olavo de Carvalho. Jogamos na lama o tripé da sociologia e adentramos a um mundo de idiossincrasias e tuitadas do papai, do filhinho obeso e do guru da família, respaldadas por uma legião cega de justiceiros e benfeitores de suas ideias, senhores de ações beligerantes baseadas nas próprias conclusões. Tem horas que o espeto é melhor do que a brasa.
Tudo isso acontecendo no intervalo de tempo em que o bandeirinha mantém o braço engessado diante do gol nitidamente inválido, esperando que o VAR cumpra o papel que é do homem, e não da tecnologia. O mundo na era do novo está ficando mais desumano por nossa culpa.
Há duas formas básicas de se perder a essencialidade: por objeto da evolução contínua ou negligência parasitária.
Por falar em hermenêutica do discurso, os professores do estado do Amazonas estão em greve faz mais de três semanas. O secretário de Educação não resolveu o problema, o de Fazenda também não, e o vice-governador menos ainda.
Tchan, tchan, tchan… Abrem-se as cortinas, acendem-se as luzes, a plateia se agita, entra palidamente em campo sua majestade, o governador!!!
… Para não dizer que não falei das flores, qual é mesmo o papel do bandeirinha?
*O autor é contador, formado em ciências contábeis pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), MBA em marketing pela Universidade Gama Filho e mestrando em ciências empresariais na UFP/Porto, em Portugal.
Foto: BNC Amazonas